É muito curioso como, facilmente, dizemos que as coisas que vêm da China são demasiadas. Produzem demasiado, copiam demasiado – e isto sem falar, naturalmente, nas políticas que não cumprem quaisquer Direitos Humanos. Nos vinhos não é diferente. As referências chinesas têm-se afirmado no panorama mundial, com uma técnica infalível: imitam perfeitamente alguns dos melhores vinhos do mundo, e enganam muito bom e experiente jurado em provas cegas.
A diversificação, num mercado livre, é, por princípio, uma boa ideia. Mais concorrência gera maior desafio, obriga todos os profissionais a fazer mais e melhor. O serviço de táxi, em Portugal (e no mundo) foi obrigado a melhorar consideravelmente com o surgimento das plataformas TVDE; a televisão teve de fazer apostas diferentes com o surgimento do streaming e podíamos continuar por muitos outros setores.
Mas quando falamos de vinhos, temos mesmo de diversificar mais? A pergunta é genuína e não sei, sequer, se terá resposta. Mas ocorreu-me depois de um jantar com amigos, onde experimentámos alguns dos vinhos que estão a ser feitos na Madeira.
Algumas referências estão a ser produzidas por conhecidas casas de vinhos Madeira, outras por pessoas novas que decidiram apostar “numa região tão especial” e outras ainda por produtores que não deixam escapar uma oportunidade de poder cobrar mais por vinhos absolutamente normais (alguns deles que ficam até aquém do esperado), aplicando uma ‘taxa de insularidade’ que muito me fascina.
Seja como for, enquanto provava alguns dos vinhos, não parava de me ocorrer o mesmo pensamento: porque é que de repente temos de ter vinhos em todo o canto e sítio, ao invés de nos concentrarmos nas regiões que podem realmente diferenciar-nos, e onde há ainda trabalho a fazer?
Entendo o fascínio por “fazer diferente” e qualquer produtor tem ego suficiente – quem o diz é Cristiano van Zeller, com mais conhecimento de causa do que eu – para arriscar em hipóteses inesperadas. Mas emendar a mão, quando necessário, mostra mais irreverência do que continuar por um caminho por pura teimosia. Perdoem-me os produtores da Madeira que têm bom trabalho feito – e há alguns, como é o caso de António Oliveira, que com a ajuda de Paulo Laureano apresenta vinhos tranquilos muito curiosos – mas demasiados casos são de pura ambição com pouca qualidade atrelada.
Falo do caso da Madeira, em particular, neste texto, mas podia falar de muitas outras regiões e projetos. Portugal padece de um problema crónico de falta de planeamento (e de sensatez, por vezes), em que se acredita que para fazer bem tem de se fazer muito diferente do que tudo que já existe. Não tem de ser assim – e não devia ser assim, porque o consumo de recursos para o fazer acontecer é completamente desproporcionado.
Há razões claras para o vinho Madeira ser tão apreciado – Jancis Robinson até diz que seria o único que levaria para uma ilha deserta –, para o vinho do Porto continuar a conquistar o mundo, para os vinhos do Dão serem apresentados como alguns dos mais especiais, para os vinhos dos Açores terem renascido (mesmo que a preços inexplicáveis, em algumas situações), para o Alentejo continuar a ser reconhecido. Fazer de forma consistente, elevando a qualidade do produto e sabendo responder às vicissitudes do mercado, e da natureza, é importante para subir preço e garantir fidelização.
Basta olhar para algumas regiões de França, Espanha ou Itália para entender como funciona isto da História – e do consumidor. Consistência, consistência, consistência.
Estamos em época de novidades do mercado dos vinhos – agora que as vindimas já acabaram e que o Natal está à porta, é ver como se desdobram os produtores em ofertas mais específicas. Eu cá teria mais atenção àqueles que têm conseguido, ao longo dos anos, entregar qualidade, do que aos que embarcam em muitas invenções. Que são necessárias, mas com conta peso e medida. E Portugal, com a sua dimensão, devia apostar muito mais em serenidade do que em grandes sonhos de diversidade, que podem claramente comprometer não apenas a qualidade dos produtos, mas também a reputação do País.
Colombo Reserva Branco
Produzido a partir das castas Caracol e Listrão, autóctones da ilha do Porto Santo, é um vinho ligeiramente desequilibrado, com a acidez muito presente e com pouca estrutura. Muitos aromas florais e cítricos, a fazer esperar um bocadinho mais deste vinho no paladar.
PVP: €23
Notação Enológica
A
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