Numa altura em que se discute se Lisboa não terá restaurantes a mais, alguns mantêm-se – mesmo quando se reinventam – e tentam marcar ainda mais firme a sua pegada no panorama nacional. O grupo Paradigma, criado por Diogo Figueiredo, aconteceu quase por um acaso, mas é possível que se torne num caso de estudo muito em breve. Para o fundador e CEO do grupo, uma coisa é certa: só é possível fazer resultar porque se sabe muito bem o que se quer. E porque se faz da História o futuro de cada restaurante.
É o caso do Café do Paço, que abriu em 2009 em Lisboa e que rapidamente se tornou um lugar de eleição de jornalistas (esta incluída), políticos e lisboetas que apreciam refeições tardias. A discrição do lugar, os bifes de qualidade e a cozinha aberta até de madrugada, sob a batuta da dona Alice, tornaram o restaurante num espaço a frequentar. Agora, os donos já não são o Sr. Ismael e o Sr. Antunes, mas o grupo Paradigma.
Diogo Figueiredo começou por trabalhar numa agência de publicidade, mas rapidamente se apercebeu de que o que fazia sentido era trabalhar um projeto desde o início do seu conceito. Em 2020, a sociedade gestora de investimentos que criou e coordena já detinha um portefólio diversificado, onde a hospitalidade começou a ganhar importância.
“Não precisamos de fazer um restaurante de raiz, mas temos de trabalhar o seu conceito desde o início”, contou à EXAME, há uns meses, durante um almoço no Lota Sea&Fire – um dos que nasceu pelas mãos do Paradigma.
Adquirir projetos já existentes mas que se diferenciem e continuem a fazer sentido em termos económicos e de conceito e criar projetos novos são duas atividades que coabitam neste grupo que ganhou imagem e identidade próprias neste mês de outubro. Atualmente, o Paradigma inclui o já referido Café do Paço, o ISCO – Pão e Vinho (uma padaria de bairro em Alvalade), a marca Dona by Hugo Candeias, o Canalha, o Canalha Comporta, o Vincent Farges – Time Out Market Lisboa e, naturalmente, o Lota Sea&Fire, que pretende recuperar o ambiente das antigas marisqueiras onde famílias e amigos se juntavam para almoços longos ou apenas uma imperial ao balcão. Pelo meio ainda pode haver projetos pontuais, que incluam arte. Com o Paradigma, a única certeza é de que gostam de quebrar o paradigma.
Com um investimento global que já superou os €3 milhões, o grupo distingue-se por acompanhar todo o processo de criação – ou recuperação – de um projeto desde a ideia inicial até ao menu que é colocado à disposição do consumidor, passando pela decoração do espaço, toda a identidade gráfica e a escolha dos colaboradores.
Com muitos dos recursos centralizados e a servir as várias marcas, “otimiza-se o investimento, somos mais eficientes e garantimos a sustentabilidade do negócio”, continua Diogo. Por isso, não estranhe se visitar o site do grupo e encontrar ofertas de emprego para cozinheiros, diretores criativos ou paid media specialists. Aos 36 anos, o CEO do grupo pode ser presença discreta no mundo da restauração, mas dificilmente o trabalho passa despercebido. Até porque com mais de 100 postos de trabalho criados, numa altura em que a restauração atravessa uma significativa crise, não podia ser de outra forma.
Até agora, contaria durante o mesmo almoço, não lhe fazia sentido apresentar o grupo enquanto tal. Era preciso que as marcas que geria mostrassem o que valiam, para depois se poder colocar o chapéu sem lhes tirar peso. Agora, com o grupo consolidado, é hora de o fazer crescer. Aliás, a testar a possibilidade de expansão além Lisboa, o Paradigma colocou um pé na Comporta com o Canalha Comporta, um espaço pop-up que funcionou durante o verão.
O CEO do grupo não tem pressa. “Queremos crescer, mas com consistência e sustentabilidade”. Todos os projetos são avaliados criteriosamente tendo em conta os seus vários ângulos, e cada decisão demora a ser tomada. Diogo gosta de ouvir, e por isso mesmo está, quase sempre, em cima da mesa a possibilidade de abertura de capital a novos sócios, “criteriosamente selecionados”, que manifestem interesse no projeto e que, pela sua experiência e perfil, possam aportar valor.