Num momento em que continua discutir-se a viabilização ou não do Orçamento do Estado para 2025, Nuno Amado, responsável da Associação Business Roundtable Portugal (BRP) no eixo Estado, defende que Portugal precisa de maior ambição para crescer, para termos uma sociedade mais próspera e mais justa. “Não vamos lá fazendo o que sempre fizemos”, afirmou esta terça-feira, na apresentação do 2º snapshot “Comparar Para Crescer”, dessa associação que reúne mais de 40 grandes empresas.
“Não precisamos de mais Estado, precisamos de melhor Estado”, defendeu o também presidente do Millennium bcp, lembrando que precisamos de reduzir custos de contexto para as empresas, para que se possa acelerar a criação de riqueza. Apontou ainda que é necessário termos mais, e sobretudo, melhor investimento, nomeadamente público, e que temos de criar uma envolvente que potencie o crescimento e aparecimento de mais empresas médias e grandes, aquelas que contribuem para as exportações. O objetivo, avançado pela BRP é de que o País “cresça pelo menos 3% ao ano”.
Na versão atualizada da plataforma “Comparar Para Crescer”, apresentada esta terça-feira, é disponibilizada uma série de informações estatísticas que permitem comparar Portugal com os outros países europeus, num conjunto de indicadores, como o endividamento, o investimento ou o PIB. A associação comparou Portugal com umka série de países selecionados, aqueles que não sendo economias gigantes estão melhor do que nós numa série de indicadores. Isto para mostrar onde temos de melhorar.
Uma revolução cultural
Vítor Bento, economista e presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), debateu com Pedro Siza Vieira, advogado e ex-ministro da Economia, a questão da competitividade nacional. E, para além dos indicadores, “que são sintomas”, Vítor Bento quis sobretudo falar da raiz do problema, que diz ser cultural.
“Temos uma cultura muito desfavorável ao negócio, contra as grandes empresas e hostil ao lucro e ao capital”, afirmou, indo ao tempo da Revolução de 74 para encontrar as causas para este fenómeno cultural. “Entrámos no novo regime com um pano de fundo muito estatista, de raiz marxista”, lembrou, enquanto os países de leste, quando caiu a cortina de ferro, “abraçaram as ideias mais liberais e capitalistas”.
Esta forma de pensar acaba por ficar no ADN da nossa população, contaminando as decisões políticas. “A cultura é uma coisa muito forte e que pode durar muito tempo. Tudo é decidido no campo das ideias”, afirmou o presidente da APB, exortando os empresários a inverter a estratégia de não terem de entrar “no confronto de ideias”.
Pedro Siza Vieira lembrou que, na nossa comparação com outros países europeus, Portugal vinha de uma base muito mais pobre em termos de educação. Preferindo ver o copo meio cheio, salientou o extraordinário progresso que a formação das pessoas teve no nosso País, nas últimas décadas. O que tem levado, num mundo cada vez mais aberto, ao êxodo de jovens qualificados. “Somos um País ótimo para trabalhar, como se vê pelos muitos estrangeiros qualificados que cá querem trabalhar. Temos é de criar mais oportunidades para as pessoas cá”, defendeu.
Vítor Bento diz que o problema é de salários, que são melhores nas empresas médias e grandes, defendendendo por isso um contexto em que estas possam ser mais e maiores. Mas também voltou à cultura, porque a um jovem não importa só o salário. “Não é só uma questão fiscal, é de perspetivas, de evolução no mundo do trabalho”, afirmou. Não vamos resolver o assunto “com mecanismos artificiais como a questão do salário mínimo”, disse. “Vamos sempre perder jovens, temos é de perder menos”. E lembrou que, historicamente, quem emigra é quem tem mais ambição, quer mais, num País em que isso não é recompensado. E resumiu essa ideia numa piada, de que não somos descendentes dos exploradores que foram mar fora descobrir o mundo, “mas sim dos que cá ficaram”
No início da apresentação da plataforma, que decorreu no auditório da KPMG, em Lisboa, Vasco de Mello defendeu que “temos de abandonar o conceito do vamos andando, do mais ou menos”. E deixou um recado: “temos de assegurar que o Estado não dificulta o crescimento económico, precisamos de um Estado mais pequeno e muito mais eficiente”.