Para já, são apenas especulações, uma vez que nem a Lufthansa nem o Executivo querem comentar o assunto. Mas o que é certo é que Carsten Spohr, CEO da Lufthansa, reuniu esta segunda-feira, 2 de setembro, com o ministro das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, e o ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz. O encontro, que foi ontem antecipado pelo Corriere della Sera (jornal italiano) foi solicitado pela Lufthansa, segundo uma fonte citada pela agência Reuters.
O Jornal de Negócios dava conta, esta manhã, de que o negócio entre a Lufthansa e o Executivo nacional estaria avaliado entre os €180 e os €200 milhões, o que avaliaria a TAP em pouco menos de mil milhões de euros.
O Executivo de Montenegro tinha afirmado que em setembro queria dar seguimento ao dossiê da TAP. Recorde-se que depois de ter sido privatizada pelo Governo de Passos Coelho, a companhia aérea nacional foi renacionalizada durante a legislatura de António Costa. Os socialistas concordariam, mais tarde, com uma venda de pelo menos 51% da empresa – sobretudo devido às dificuldades que foram agravadas após a Covid-19 – e o atual Governo disse sempre querer acelerar esta reprivatização, embora ainda não tenha explicado qual o modelo que quer seguir para o realizar.
O processo para venda de mais de metade da companhia aérea foi, portanto, acordado em Conselho de Ministros em setembro de 2023. No entanto, nada mais foi feito, uma vez que o governo de António Costa cairia poucos meses depois, em dezembro.
A única coisa que tornou pública é que gostava de o fazer até ao final deste ano. A parte mais interessante deste negócio, para a companhia alemã, serão os slots da TAP para o Brasil, os países de língua oficial portuguesa em África e também algumas rotas diretas entre Lisboa e os EUA.
O alegado interesse da Lufthansa em 19,9% da TAP – a fatia que pode comprar sem que tenha de esperar pela autorização das autoridades europeias – acontece numa altura em que há várias movimentações no setor da aviação europeia. No entanto, é preciso realçar que, nesta altura, o Governo português deverá estar apenas a apurar quais os potenciais interessados, para que quando o negócio da reprivatização for oficializado, possa ocorrer de forma mais rápida, sem gastar tempo com propostas que sejam inconsequentes.
É isso, aliás, que explica também o Jornal de Negócios, que publicou esta tarde pormenores do encontro a que terá tido acesso. “O Negócios sabe que o Executivo explicou ao grupo alemão que o modelo da privatização da TAP não está fechado, estando ainda por definir a percentagem do capital a alienar e o tipo de operação de venda. Em termos indicativos, o calendário do Executivo aponta para o primeiro trimestre do próximo ano”, escreve ainda aquele jornal.
Consolidação preocupa Bruxelas
Pelo menos dois outros grandes representantes do setor – a IAG e a Air France-KLM – já manifestaram interesse na TAP, mas até agora ainda nada foi concretizado ou oficializado por qualquer uma das partes, segundo a informação pública. Fontes garantem que o Governo quererá ouvir ambos os grupos, mas esses encontros, até agora, ainda não aconteceram.
Recorde-se inda que a IAG – dona da British Airways – deixou cair recentemente a intenção de compra da Air Europa, depois de a Comissão Europeia obrigar a mais condições para aprovar a venda. Bruxelas está preocupada com a consolidação no setor que, apesar de necessária para que os resultados voltem a ser positivos, arrisca ficar demasiado concentrada nas mãos dos três principais grupos de aviação europeus. E, portanto, está ainda mais restritiva nas condições que impõe para que os negócios de aquisições e fusões aconteçam.
Fontes do setor dão conta de que a Lufthansa está confiante na preferência do Governo português em negociar com a companhia alemã, uma vez que esta preservaria a autonomia da TAP. Recorde-se, novamente, que tudo isto são ainda especulações que carecem de confirmações oficiais.
Prejuízos, reestruturação e lucros
A TAP, que foi, depois do resgate financeiro de 2020, sujeita a um plano de reestruturação, apresentou prejuízos no último trimestre de 2023 e no primeiro de 2024. No entanto, fechou as contas do primeiro semestre deste ano com saldo positivo, registando um resultado líquido de €400 mil.
“O bom desempenho no segundo trimestre permite alcançar um resultado líquido positivo no semestre que, embora não significativo, é obtido pela segunda vez consecutiva, mas desta vez sem cortes salariais”, sublinhou, na altura, o responsável da TAP, Luís Rodrigues, em comunicado de imprensa.