Mais de 60% dos portugueses consideram que pagam comissões de conta elevadas, mas 23% não sabem sequer quanto pagam. Entre os critérios mais valorizados na escolha de um banco para a abertura de uma conta à ordem está um preçário claro e acessível, embora 48% afirme não conhecer o preçário do seu banco – dos quais 20% não sabem sequer onde encontrá-lo. Estas são algumas das conclusões de um estudo promovido pela Nickel, a financeira francesa que acaba de completar um ano de atividade no mercado nacional, e que revela o longo caminho que há ainda a fazer na literacia financeira em Portugal.
Simplicidade e acessibilidade são, por isso, um dos principais lemas desta fintech, que quer chegar a todo o país através de pontos de venda no comércio local. Atualmente são 460, autorizados pelo Banco de Portugal e pelo Banco de França, e situados, principalmente, nas grandes cidades e no litoral – embora cubram já a maioria do território, com exceção do interior norte. Uma rede de agentes – sobretudo, quiosques e tabacarias – que, em apenas 12 meses, coloca esta empresa de pagamentos na terceira posição, a nível nacional, em termos de representação física no país. O modelo tem o potencial de atingir a capilaridade necessária para colmatar o fecho de balcões e ATM por parte da banca tradicional, nas regiões mais desertificadas. “Há freguesias que disponibilizam uma carrinha, uma vez por semana, para levar as pessoas ao ponto de acesso ao dinheiro mais próximo, que fica a 50 km”, conta João Guerra, CEO da Nickel em Portugal, num encontro de balanço com jornalistas, realizado esta quarta-feira.
A empresa, subsidiária do BNP Paribas, disponibiliza atualmente apenas os serviços bancários direcionados para a gestão do quotidiano – uma conta à ordem, com um cartão de débito associado, a possibilidade de levantar e fazer depósitos em numerário, ou a disponibilização de transferências – com a vantagem competitiva de ser low cost (€20 por ano). João Guerra não exclui, no entanto, a possibilidade de alargar o negócio ao crédito e à poupança: “Estamos a avaliar, desde que sejam produtos que satisfaçam os nossos critérios de serem úteis, universais, simples e acessíveis”.
Para já, a prioridade é a expansão da rede de agentes, cujo objetivo é chegar aos 2.500, em 2027, cobrindo todo o território nacional. Em relação aos clientes – cujo número atual a empresa não revela – a meta é atingir os 450 mil, em Portugal, em cinco anos, data em que esperam também atingir o breakeven. Marie Degrand-Guillaud, vice-presidente da Nickel, afirma, no entanto, que a empresa – presente em França, Espanha, Portugal, Bélgica e, em breve, na Alemanha – já é lucrativa. “O facto de estarmos em investir em novos países não nos retira a rentabilidade. Temos o poder de uma rede abrangente, sem termos os custos fixos”. No total, são mais de 9.000 agentes, que servem 3 milhões de clientes.
A propósito da celebração do seu primeiro ano em Portugal, a empresa partilhou ainda um estudo, realizado em conjunto com a agência independente DATA E, sobre os hábitos financeiros dos portugueses. A pesquisa revelou que 41% dos portugueses ainda não estão familiarizados com as opções de banca digital, embora 73% dos participantes que ainda não trabalham com instituições financeiras digitais o planeie fazer no futuro. Uma opção que procura responder a algumas das principais ‘queixas’ dos clientes da banca tradicional: horários pouco convenientes (>50%); comissões elevadas (61%) ou que não precisa/entende (58,5%); serviços demasiado complexos e burocráticos (19,3%); ou o fecho dos balcões mais próximos (14%).
Por outro lado, o inquérito continua a evidenciar a necessidade de um esforço acrescido também por parte dos clientes bancários, com 42% dos inquiridos a afirmar não ler os contratos que assina ou mesmo assinar sem entender as condições estabelecidas.