Chama-se E-XF, baseia-se na mítica motorizada Famel XF-17 e será a primeira moto movida exclusivamente a eletricidade fabricada em Portugal.
A ideia surgiu da cabeça de Joel Sousa, engenheiro ligado ao setor automóvel, enquanto restaurava a sua antiga XF-17. Por coincidência, viria a conhecer, durante um estágio profissional, o antigo detentor dos direitos da Famel, empresa que faliu em 2002. O seu objetivo é não só reavivar a marca, como “captar as atenções” do mercado nacional para um veículo elétrico de duas rodas “como alternativa ao carro”.
Em outubro de 2017 levou o seu primeiro protótipo à Web Summit, em Lisboa, com três objetivos: receber o feedback e a validação da ideia, captar a atenção de startups ligadas a este setor que pudessem colaborar com o projeto e, por fim, tentar angariar apoio financeiro por parte dos investidores mais atentos às novas formas de mobilidade.
Ao longo destes anos, o modelo tem vindo a ser aprimorado do ponto de vista técnico e de design para ir ao encontro dos requisitos necessários para conseguir a homologação.
“É realmente uma mota linda que sabemos nunca ter saído do coração dos portugueses. Por isso, depois de sete anos de trabalho de engenharia e design, a Famel está, finalmente, pronta para atrair as pessoas que queiram recordar e aquelas que queiram conhecer este ícone nacional”, defende Joel Sousa.
As primeiras 300 unidades, que se destinam aos clientes que aderiram ao programa Embaixador, deverão ser entregues no primeiro trimestre de 2023. Trata-se de uma versão premium que pode ser adquirida por 5 497 euros. Para o público em geral, a comercialização deverá ter início no segundo trimestre do próximo ano. A E-XF estará disponível em duas categorias, uma mais potente, que consegue atingir uma velocidade máxima de 100 km/hora e uma autonomia de cerca de 120 km, e outra mais em conta, limitada a percorrer entre 60 km a 70 km e cuja velocidade máxima está limitada aos 45 km/hora. O preço de venda ao público deverá rondar os quatro mil euros. As baterias podem ser carregadas em casa, necessitando de quatro horas para abastecer dos 0% aos 100%.
A Famel, cujos escritórios se situam no Parque de Ciência e Tecnologia AvePark, no Vale do Ave, não terá fábrica própria e toda a assemblagem será feita por outras empresas nacionais.
A Famel XF-17 foi um dos modelos de motorizadas que marcaram toda uma geração, no final da década de 70 e no início da de 80. O seu sucesso foi tão grande que o acrónimo Famel, que abreviava o nome da Fábrica de Produtos Metálicos Lda, era conhecido entre a população mais jovem como: “F***-** A Mota É Linda.” Este modelo acabaria por fazer da Famel uma dos maiores produtoras de motorizadas em Portugal.
No entanto, em 1984, a empresa começa a sentir os primeiros problemas com a falência da Zundapp, a fábrica de motores alemã que fornecia a empresa portuguesa. Mais tarde, com a entrada na União Europeia, o País acabaria por abrir portas aos grandes concorrentes estrangeiros, sobretudo os asiáticos, como a Yamaha e a Honda. Após vários processos em tribunal, a Famel acabaria por abrir falência em 2002.
Quase 45 anos depois do seu nascimento, em 1978, a XF-17 vai inspirar uma nova moto elétrica que, segundo Joel Sousa, terá cerca de metade dos seus componentes produzidos em Portugal.
O êxito da marca está agora dependente da aceitação do mercado e, para ser viável, a produção anual mínima terá de atingir as duas mil unidades.
*Este texto integrou o trabalho “As Fénix Renascem”, publicado originalmente na edição da EXAME de maio de 2022