Um maremoto de regulamentação está a levar as instituições de crédito, particularmente na Europa, a avaliar e melhorar a maturidade ESG das suas carteiras. Os decisores políticos europeus concluíram, sabiamente, que se o setor financeiro for incentivado a apoiar empresas que sejam genuinamente sustentáveis através de empréstimos, investimentos e produtos adequados à sua finalidade, pode esperar-se um efeito multiplicador significativo.
Sendo uma das atividades empresariais mais antigas do mundo, a banca é desde há muito o coração e as veias dos nossos sistemas económicos. Com fortes repercussões em praticamente todos os aspetos da sociedade, representando riscos sistémicos significativos, os decisores políticos consideram que os bancos devem abordar proactivamente os desafios ambientais e societais e promover, através das suas políticas e atividades, modelos de negócio respeitadores/amigos das pessoas e do planeta.
Além do imperativo moral, um conjunto cada vez maior (em números e profundidade) de requisitos regulatórios e legais focados na sustentabilidade, começa a produzir impactos transformadores e profundos nas estratégias, operações, modelos de negócios e atividades de reporte dos bancos.
Na União Europeia, a maior economia mundial e pioneira a nível global em matéria de sustentabilidade, a Taxonomia da UE, o Regulamento de Requisitos de Fundos Próprios (CRR) atualizado da Autoridade Bancária Europeia (EBA) com considerações de sustentabilidade, o Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR) e a Diretiva de Relato de Sustentabilidade das Empresas (CSRD) representam componentes fundamentais da complexa rede legislativa que atualmente molda as atividades do setor bancário.
Como resultado, estão inevitavelmente em vigor amplos incentivos financeiros, jurídicos, empresariais e reputacionais, para que os bancos adotem práticas ESG baseadas em dados em todas as suas atividades, com especial ênfase nas suas políticas de crédito e de investimento. A boa notícia é que isto já está a acontecer no sector bancário – com rapidez e empenho! A má notícia é que, na maioria dos países, cada banco quer implementar seu próprio sistema de recolha e análise de dados ESG. Os dados são vistos como propriedade intelectual que talvez possa dar a um banco uma vantagem competitiva sobre outro. E partilhar é difícil!
Isto são más notícias, porque os dados ESG só se tornam relevantes quando são contextuais e relacionais. Em termos simples, os bancos precisam de dados sobre as empresas das suas carteiras que lhes permitam compreender o desempenho das mesmas, em relação às diretrizes do setor, a importância dos clientes face a concorrentes comparáveis, quais são os valores positivos e negativos na sua carteira, etc. Saber a quantidade de água poluída que descarrego, quais são as minhas emissões de CO2 e que tenho fornecedores em países de alto risco, tem uma relevância limitada se eu não tiver nada com que comparar meu desempenho. Uma vez que posso comparar meus dados com dados (anonimizados) de colegas/pares comparáveis no meu setor, também percebo onde devo centrar os meus esforços para reduzir os impactos negativos e otimizar os positivos. Tudo isto idealmente requer uma base de dados que vá muito além da própria carteira do banco.
Estabelecer um conjunto de dados ESG verdadeiramente abrangente, que permita uma genuína análise comparativa, exige, assim, a colaboração com a concorrência e um compromisso genuíno em considerar os dados ESG como um bem público, ou seja, como algo que cresce em valor quando cresce em volume e que deve ser (anonimamente) partilhado entre bancos concorrentes para tornar mais inteligentes todas as empresas declarantes participantes e os seus bancos.
Para além do imperativo moral de o sector bancário se tornar uma força para o bem na sociedade, existe uma lógica empresarial óbvia para a partilha de dados. Gerar bons dados ESG não é fácil e requer investimentos em sistemas e compromissos de tempo em nome das empresas declarantes. Também requer investimentos significativos para aplicar insights de dados ESG nos processos, políticas e procedimentos de tomada de decisão dentro dos bancos. Para que os dados sejam muito bons! Mas adivinhe, muitas vezes não é assim – especificamente porque um banco ou uma empresa declarante (que comunica informação) não pode realmente associar as suas descobertas a nada e, portanto, não sabe onde está a ter um bom desempenho e, inversamente, onde estão os seus sinais de alerta em matéria de ESG.
A solução ESG Maturity fornece a plataforma através da qual os dados são recolhidos e partilhados num portal online do ecossistema bancário. A solução envia questionários personalizados de dados ESG em conformidade com a legislação aos clientes empresariais dos bancos participantes. Os clientes podem então decidir com quem querem partilhar os dados, de forma não anónima. Tal permite que os bancos aprendam com os “top performers” (com melhor desempenho) que são clientes de outros bancos e que as empresas possam divulgar a história do seu desempenho ESG positivo, para além do seu próprio banco. Isto também significa que as empresas reportam os mesmos dados ESG, mesmo que mudem de banco, e podem partilhar os seus dados ESG com um banco concorrente como parte da comparação do que diferentes bancos têm para oferecer. Essencialmente, cria uma norma e um sistema interbancário para a comunicação de dados ESG e partilha de dados.
Se o consentimento para partilha de dados não anónimos não for concedido, os dados entram como dados anónimos no repositório de dados ESG partilhados e, deste modo, contribuem assim para expandir o conjunto de dados, tornando, por exemplo, a avaliação comparativa cada vez mais precisa e relevante.
Cada banco pode continuar a desenvolver as suas próprias capacidades analíticas e produtos bancários únicos com base no repositório de dados ESG partilhados, mas cada um desses produtos ou análises será muito mais relevante, preciso e realista porque se baseia nos dados ESG como um bem público coletivo.
Com o maremoto de regulamentação europeia a atingir cada vez mais costas em todo o continente europeu, outros setores bancários deveriam, francamente, chegar à mesma conclusão e iniciar os seus próprios ecossistemas colaborativos. As experiências de Portugal são uma verdadeira mais-valia neste sentido e o caso português deve ser estudado por outros ecossistemas emergentes para evitar reinventar a roda.