Flexibilidade é, na opinião de Isabel Roseiro, a palavra que resume as conclusões do estudo ‘Employer Brand Research 2023’, da Randstad, ontem apresentado em Lisboa. Para a diretora de marketing e de comunicação da empresa de recursos humanos a opinião dos inquiridos é muito clara no que se refere aos fatores de atratividade nas empresas. “Depois do fator financeiro, que continua a ser o mais relevante para 57% das pessoas, o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional surge logo a seguir, com 46% de referências”, salienta. Já se olharmos para o top5, juntam-se a estes dois fatores outros como o ambiente de trabalho agradável, a progressão de carreira, e a estabilidade profissional, todos com referências acima dos 35%.
Estas escolhas não foram, contudo, uma surpresa para a responsável de marketing da Randstad. “Os cinco principais fatores não se alteraram substancialmente nos últimos três anos, tendo mesmo aumentado em termos de importância relativa, com os três principais a aumentarem mais, e a distanciarem-se dos restantes”, explica. Outro dado curioso, que Isabel Roseiro destaca, é o facto de serem mais as mulheres a considerar que todos os cinco principais fatores de mudança são mais importantes, do que os homens. O mesmo acontece nas pessoas com um nível de educação mais elevado.
De entre as principais conclusões do estudo, aquela responsável destacou ainda que apesar de salário e benefícios continuarem a ser o elemento mais importante do “empregador ideal”, na avaliação dos atuais empregadores, feita pelos inquiridos, este indicador ocupa apenas o 10.º lugar, “o que indica que há margem para melhorias”.
Neste estudo é igualmente visível uma diferença semelhante no que respeita ao equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e às oportunidades de progressão na carreira. “Os benefícios não materiais são considerados quase tão importantes como os benefícios materiais, pelo que se recomenda aos empregadores que apresentem uma oferta completa de benefícios para atrair novos talentos”, refere Isabel Roseiro, que acrescenta que nunca é demais lembrar às organizações que “a felicidade no trabalho é cada vez mais importante e um fator de retenção”.

Já no que se refere à mudança de emprego, o estudo revela que cerca de um oitavo dos inquiridos mudou de emprego no último ano, enquanto um quarto tenciona fazê-lo num curto período. Os jovens (até aos 34 anos) mudaram mais vezes de emprego e estão também mais inclinados a fazê-lo. O principal motivo para abandonar um empregador é uma remuneração demasiado baixa devido ao aumento do custo de vida, seguido do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e da falta de progressão na carreira. Os empregadores têm um desempenho mais baixo nestes domínios e, por isso, correm o risco de perder profissionais, uma vez que as pessoas que tencionam mudar de empregador se preocupam ainda mais com estas questões.
Um outro aspeto muito importante para a retenção, e que Isabel Roseiro destaca, é o facto de 40% dos inquiridos revelar que prefere ficar desempregado a ter que trabalhar sem equilíbrio pessoal e profissional ou sem possibilidades de progressão na carreira. “As empresas devem olhar para dentro, perceber o que as pessoas valorizam, e adequar os benefícios”, defende a diretora de marketing e de comunicação da Randstad.
Saúde e Turismo: o que motiva as pessoas
Entre os setores percecionados como os mais atrativos para trabalhar, o estudo da Randstad destaca a saúde, com 58% das referências, e o turismo, com 54%. Uma vez mais, Isabel Roseiro refere que os resultados são semelhantes aos das últimas edições. “A reinvenção que o setor da saúde teve que fazer nos últimos anos, devido à pandemia, deu-lhe maior visibilidade e valorização”, explica. Razões semelhantes às que a responsável perceciona no turismo que, recorda, “foi muito afetado pela pandemia, perdeu muitos recursos humanos que não voltaram, mas teve igualmente a capacidade se reinventar-se”.
Já o terceiro setor visto como mais atrativo é o das tecnologias da informação (TI) e telecomunicações, no qual, explica Isabel Roseiro, “é mais fácil encontrar a flexibilidade tão procurada pelas pessoas, e também onde a procura por talentos é mais elevada”.
Entre os vencedores do Randstad Employer Brand Research 2023, considerados as empresas mais atrativas para trabalhar, encontram-se precisamente um representante do setor das TI – a Microsoft, que ocupa o primeiro lugar – e um representante da saúde – a Hovione, que ocupa o terceiro. Em segundo lugar neste pódio encontra-se a Delta, reconhecida pela tradição no cuidado com as suas pessoas, um legado deixado por Rui Nabeiro, o seu fundador recentemente falecido.

Este estudo foi realizado em 32 mercados, que cobrem mais de 75% da economia mundial em todo o mundo, e contou com cerca de 163 mil participantes e 6 mil empresas inquiridas. Em Portugal, o estudo de employer branding baseado nas perceções do público em geral, inquiriu 5255 pessoas.