Carlos Moedas já teve de gerir algumas crises em Lisboa, como a causada pelas cheias em meados de dezembro do ano passado. Num painel na cerimónia do Prémio Inovação em Prevenção, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa revelou como prepara a cidade para responder a eventos que podem ter efeito catastróficos.
Nessa conversa com Camilo Lourenço, o autarca foi questionado sobre se Lisboa estava preparada para lidar com um sismo, um dos grandes riscos da cidade. “Temos hoje, e tivemos desde há muitos anos, a melhor engenharia sísmica do mundo”, respondeu Carlos Moedas. Detalhou que a Câmara tem em curso o programa Resist, que está a mapear “todos os edifícios de Lisboa para ver se estão ou não preparados”. E afirmou: “Das cidades que conheço, sinto-me seguro em Lisboa. Estamos muito preparados”, embora essa robustez se aplique sobretudo aos edifícios mais recentes. Ainda assim, observou que catástrofes de magnitudes elevadas, como um sismo de grande dimensão, “obviamente que seria sempre um desastre”.
Apesar disso, garantiu que a Câmara Municipal de Lisboa e a Proteção Civil estão preparadas e que em situações delicadas do passado – como as cheias no final do ano passado – conseguiram dar uma resposta positiva.
O risco ambiental
Entre os diversos riscos que a cidade enfrenta, Carlos Moedas defende “para o nosso futuro o maior risco das nossas vidas é o ambiental”. Explica que “se pensarmos no futuro dos nossos filhos, é o maior que temos porque existe o risco de não termos uma vida como até agora”. O autarca recorda o que aconteceu no final do ano passado: “Em duas semanas tivemos chuvas que só acontecem a cada 100 anos”.
Para responder a esse risco, o autarca disse que a resposta foi avançar com a obra do plano geral de drenagem, que diz que estava parado há 20 anos. Isto apesar de ter revelado que “o conselho dos advisors políticos era de que fazer uma obra de €150 milhões debaixo do chão não daria votos”. Ainda assim, considerou: “É invisível, mas é o que tem de ser feito”, explicando que a cidade terá dois grandes túneis que vão evitar as cheias em Lisboa e que permitirá à cidade ter reservatórias de água para regar jardins e lavar as ruas.
As cheias foram uma prova dos grandes riscos trazidos pelas alterações climáticas. Carlos Moedas afirma que esse tema não é nem da Esquerda, nem da Direita. Mas considera que “temos de falar disto sem criar o pânico nas pessoas”. Defende que “quando falamos às pessoas diretamente e explicamos o que elas podem fazer, querem ajudar”. E exemplificou com a última assembleia de cidadãos feita pela Câmara, que reuniu 50 pessoas escolhidas de forma aleatória. “Trouxeram verdadeiras ideias. A inteligência das pessoas na construção da cidade é essencial”, concluiu.

A “revolta” com as rendas
Outro dos problemas imediatos com que Lisboa se depara é a dificuldade no acesso à habitação. Carlos Moedas disse sentir-se “revoltado” por “já ninguém conseguir arrendar” casas na cidade, devido aos preços elevados. Neste ponto, o autarca social-democrata afirma que “a responsabilidade social não pode ser ideológica” e aponta que se tem de envolver os privados. Critica “uma certa esquerda mais radical” que quis exigir tudo aos privados e impor-lhes perdas em antigos processos de concessões. O líder da Câmara Municipal de Lisboa entende que os privados “têm de ter uma parte com renda de mercado e outra com renda acessível, terão um retorno menor, mas não podemos dizer que vão perder dinheiro”. Moedas revelou que está a redesenhar essas concessões-
Além disso, Carlos Moedas defende que o Estado tem muitas instalações que deveriam estar nas mãos da Câmara Municipal de Lisboa, já que considera que esta “tem uma grande capacidade de execução” e que “o governo e as câmaras têm de dar o exemplo” antes de forçarem os privados a colocar imóveis no mercado de arrendamento.