A inflação veio para ficar mas está a recuar, as taxas de juro – apesar de o Banco Central Europeu (BCE) se mostrar “confuso” – não deverão subir muito mais, os lucros das empresas vão melhorar a partir de 2024, as bolsas mundiais ganharão novo fôlego e a economia europeia manterá o ciclo expansivo pelo menos até 2025. Foi este o cenário, moderamente otimista, traçado por Ramón Forcada, diretor de Análise e Mercado do Bankinter, em mais uma edição das Manhãs em Exame, desta vez dedicada ao tema do Financiamento – Cenário macroeconómico e evolução das taxas de juro, em parceria com o Bankinter Portugal.
Considerando o contexto europeu “mais confortável” do que há cinco ou dez anos”, o responsável do Bankinter acredita que a taxa de inflação estabilizará em redor de 3% na Europa e de 4% nos Estados Unidos (EUA), permitindo um crescimento económico superior ao registado na última década. No caso da Europa, esse valor ainda estará longe do objetivo de 2% do BCE, mas isso “não será mau”, já que não impedirá a economia de se expandir, de forma até mais robusta do que o esperado.
Há, no entanto, riscos. E, para Ramón Forcada, o primeiro risco reside naquilo que será a atuação futura dos bancos centrais. A Reserva Federal (Fed) norte-americana parece já ter posto um ponto final na subida das taxas de juro, cujo valor atual “já é compatível com a inflação”. Mas o BCE ainda está “confuso” em relação ao que deve fazer nesse campo. “O BCE tem uma virtude tremenda: nunca nos dececiona porque sabemos sempre que nos vai dececionar”, ironizou. Na sua opinião, os juros na Europa estão agora onde têm de estar, mas acredita que o banco central ainda os vai voltar a subir.

O desfecho da guerra na Ucrânia constitui, como não poderia deixar de ser, o segundo risco que ameaça o cenário europeu. “A Rússia não pode ganhar a guerra, mas também não pode perdê-la. Num caso como no outro, a sua reação será perigosa”, constatou o economista do Bankinter, recordando que Moscovo tem entre os seus aliados – formal ou informalmente – grandes países e blocos em termos de população mundial.
Mas será a evolução do conflito militar na Europa a ditar o posicionamento da Rússia em relação à China, o futuro de Taiwan e também o controlo do Ártico, região rica em matérias-primas como o petróleo. E o expansionismo da China na região do Indo-Pacífico, que tanto preocupa os EUA, o Reino Unido e a Austrália (reunidos na aliança militar AUKUS) poderá, no limite, mergulhar o mundo numa nova guerra fria, como alertou o orador.
Apesar das incertezas, Ramón Forcada afasta um cenário de recessão, já que “o emprego mantém-se intacto, na Europa e nos EUA”, e o preço das matérias-primas “está a deixar de ser um problema”. Segundo afirmou, “só o milho está mais caro do que no início da guerra, em fevereiro de 2022. Até o petróleo já está mais barato”. Ora, com a inflação em desaceleração, “os juros na Europa não deveriam manter-se tão elevados, mas o caminho do BCE é ainda muito incerto”. Mas, para o diretor do Bankinter, ainda poderão ser decretadas novas subidas das taxas, mesmo que isso acarrete o risco de uma recessão.
“O BCE tem um problema de liderança, já que tem de coordenar a vontade dos “duros”, que são a Alemanha, Áustria, Finlândia e Holanda, com as necessidades dos outros países, onde se inclui Portugal e a França, que precisam de juros mais baixos. Mas temos uma francesa à frente do BCE, “obediente em relação à linha dura do BCE, tal como foi [o antigo presidente] Jean-Claude Trichet…”, concluiu.

Alberto Ramos, country manager do Bankinter Portugal/ Foto: Marcos Borga
Na abertura das Manhãs em Exame, Alberto Ramos, country manager do Bankinter Portugal, sintetizou os desafios dos bancos num contexto de subida das taxas de juro, considerando que as instituições financeiras devem estar mais próximas das necessidades das empresas e dos empresários para melhor perceberem e servirem os clientes, com produtos diferentes e diferenciadores. “Se não estiver próximo dos clientes, posso ter a melhor oferta mas não consigo entregá-la; e se não tiver a melhor oferta, posso estar próximo do clientes mas também não consigo entregá-la. É a conjugação destes dois fatores que os bancos têm de saber fazer”, afirmou.