Foi uma manhã particularmente quente aquela que acolheu a conversa entre Ana Santos Pinto, professora da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e antiga secretária de Estado da Defesa, e Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Contra a Fome. Dois olhares diferentes que se complementaram numa reflexão de cerca de uma hora em que as expectativas sociais, a inação governativa e as fragilidades decorrentes dos novos tempos que se vivem estiveram em cima da mesa.
Para Ana, é importante ficar claro que aquilo que se vive agora é como que o culminar da junção de uma série de variáveis que vinham a acumular-se desde ainda antes da pandemia. “Porque quando temos o início da pandemia, ainda não estávamos recuperados da crise económica e financeira. E tivemos ainda duas outras crises de âmbito europeu, que foi a migratória e o Brexit. Portanto, pensar só depois da pandemia é não perceber que as pessoas – e quando falo em pessoas, falo em termos de tecido social – ainda estavam a, se podemos utilizar a expressão, recuperar desse impacto”, começa por justificar. “E uma coisa são as consequências de prazo mais curto, outra coisa é o impacto, que é muito mais longo. Porque nós ainda hoje, nas estruturas da Administração Pública, não recuperámos daquilo que foi a alteração estrutural que aconteceu após 2008. E falo na Administração Pública em Portugal como noutros Estados com intervenção mais ou menos direta das Troikas, défices estruturais…”
Temos uma pobreza estrutural severa e não se trata daquilo que é a pobreza estrutural!
isabel jonet