RUI NABEIRO “OS MEUS ANOS JÁ SÃO MUITOS PARA PODER ESPERAR MUITO MAIS. TENHO DE SER SENSATO”
Aos 88 anos, tem um império que construiu ao longo de mais de meio século. A Delta era o seu sonho. O Comendador diz que o concretizou, sem nunca esquecer os que se cruzaram no seu caminho. Hoje, embora continue a querer mais, sabe que a empresa está bem entregue à família.
Texto de Alda Martins Foto de Paulo Jorge Figueiredo
Com que idade percebeu que ia ser um líder?
Se calhar, interiormente sempre fui. A empresa era um sonho que eu tinha, mas é preciso contar com as pessoas que colaboram connosco. Trabalhávamos para o exterior, concretamente para Espanha, e eu queria saborear um pouco do que é [era] o mercado nacional. Hoje, posso afirmar que esse sonho foi concretizado. Não gosto de dizer o que sou, prefiro que as pessoas sintam o que realmente veem em mim. Como ninguém o fará por mim, o que posso dizer é que fiz um trabalho digno, sonhador, de imaginação e de afirmação, que é a responsabilidade que cada ser humano deve ter na sua vivência. Cada um nasce com um caminho para percorrer, e depois é preciso não deixar para amanhã.
Quando começou a perceber que “este” era o sonho?
Cedo. Mesmo em criança, todos sonhamos. E eu sonhei. Nunca esperava que os meus pais me levassem a algum lado. Eu ia. Como os meus pais eram de um nível social humilde, as nossas condições eram curtas e isso assentava-me mal. Queria mais. Vivíamos numa zona de Campo Maior onde havia pessoas com alguns bens. Elas tinham e eu sonhava que também tinha de ter.
Andava na escola primária, nessa altura?
Andava.
E sentia que era diferente?
Eu não, mas os professores sentiam-no. Lembro-me muito bem do professor António Joaquim Oliveira. Quando ele saía da sala, mesmo eu sendo da idade dos outros alunos, era a mim que dizia: “Tu ficas aí e o que houver [na sua ausência] contas- -me.” Ele via que eu queria fazer e que ficava com os olhos a brilhar quando me escolhia para estas tarefas. Devia ter os meus 9, 10 ou 11 anos.
O menino Rui já idealizava que queria ter uma empresa?
Acho que esse professor é que já percebia que o meu caminho era percorrer o mundo.
O que começou por fazer?
Como queria ter uma vida diferente, comecei a fazer “favores”. Havia senhoras, das tais famílias vizinhas, que me desafiavam: “Vem cá, moço. Vem fazer-me este favor.” E eu ia a correr, porque no fim havia a recompensa. Qual? Era uma moeda de cinco tostões ou de um escudo. Mais do que isso já era um negócio forte [risos].
O que fazia com esse dinheiro?
Não o estragava. Levava-o à minha mãe. Já existia o sentimento de querer e de fazer. Queria comprar um rebuçado, mas não o fazia. Os meus pais eram amigos, mas, na pequena salsicharia/mercearia [“Alimentação e Salsicharia Srª Maria Azinhais”], por vezes havia carência de meios, o que transtornava o casal. Também havia muita carência na terra e muita gente levava as coisas da mercearia a crédito, o que piorava a situação. Eu era o terceiro dos meus irmãos, com uma diferença em relação ao primeiro de seis anos, mas sentia essas dificuldades.
Quantos irmãos eram?
Chegámos a ser cinco, mas um morreu em criança e ficámos quatro.
Tinha mais vontade de amealhar e de ajudar do que os outros?
Tinha. E, apesar de o mais velho ter seis anos de avanço, eu era o líder. Ainda hoje é assim. Ele já não existe, mas a liderança que possa ter existido em casa dele sempre me foi atribuída.

Qual o melhor ensinamento que ficou dos seus pais?
Pensar que tinha de trabalhar muito e que podia sonhar com esse trabalho. Não trabalhei logo diretamente para mim. A certa altura, fui trabalhar com o meu tio Joaquim [com 13 anos]. Ele já tinha desafiado o meu pai, que era motorista, mas havia o compromisso com a família que lhe tinha proporcionado a mercearia. Um dia acabou por ir, só que nessa altura eu já lá estava. O meu tio era um homem dinâmico, já eu concretizava sem pressas. Ele corria mais. Precisava de alguém que o travasse um pouco. E comecei a dar-lhe conselhos, apesar de o líder de Espanha ter sido sempre ele. Correu Espanha e nunca fez outra coisa senão trabalhar para ele próprio, a transportar café. Era um homem de confiança na fronteira e conhecia bem os meandros.
Como gastou o primeiro ordenado?
Primeiro, era preciso colaborar para fazer face às dificuldades que os meus pais tinham. Depois, mais tarde, era preciso criar para mim. O meu pai faleceu muito cedo [eu tinha 19 anos], e as responsabilidades passaram a ser minhas. Fui sempre um filho exemplar.
Então não comprou nada para si?
Era a minha mãe que comprava, embora eu escolhesse. Em primeiro lugar, estavam as carências da família. Dava dinheiro à mãe, mas ainda guardava uma parte para o caso de ser necessário mais. A atitude de saber distribuir é um dom natural. Não se aprende. Eu conseguia guardar uns contos de réis do trabalho com o meu tio.
Em primeiro lugar, estavam as carências da família. Dava dinheiro à mãe, mas ainda guardava uma parte para o caso de ser necessário mais
Não houve espaço para o menino Rui brincar?
Não. Nunca fui traquina. Ainda bem que não. Estava virado para outras coisas. Por exemplo, havia a sopa da Santa Casa da Misericórdia para muitos alunos, e era eu que tinha de ir buscá-la para, depois, a distribuir. Eu sofria das amígdalas e, com 11 anos, arranjei forma de ir à praia. Diziam que fazia bem. Fui, então, inscrever-me na Casa do Povo. Tive sempre uma atitude proativa, e isso ligou-me sempre ao trabalho.
Dessa época, do trabalho com o tio, a história do contrabando é verdadeira?
Sim. A do meu tio é. Eu tinha um trabalho mais técnico [risos].
Porquê o café?
Por causa de Angola, que tinha muito produto e a necessidade de escoá-lo. Apesar de vir algum de Timor e de Cabo Verde. O meu tio foi a Madrid à procura de trabalho e apercebeu-se de que faltava café em Espanha, devido à guerra, e que podia fazer aqui, em Campo Maior, algo ligado a isso. Quando voltou, montou a sua fabriqueta de torrefação.
Como funcionava esse negócio?
O café chegava aqui. Industrializava-se o produto e este seguia para Espanha, umas vezes em vias apertadas e, outras vezes, facilitadas pelas autoridades. As viagens eram curtas, mas cheias de aventuras.
Por que motivo o primeiro nome foi Camelo?
Primeiro até houve um Cubana. Depois, outro tio, que gostava muito de imitar o irmão, criou o Cubano. Só posteriormente surgiu o Camelo. Ainda houve um Urso. Era a preferência do tio que gostava da bicharada.
Como surge a Delta?
Já era muita família a trabalhar no negócio, e eu sonhava fazer uma coisa diferente. Um trabalho de audácia e de atitude. E consegui criar uma marca com o capital que eu tinha na altura, das minhas economias. Andava à procura de um nome, e a Delta surgiu do resultado das minhas ideias e dos nossos agentes oficiais de patentes e de marcas, que ainda hoje o são. Achei bonito. Ainda surgiu o Caracol e o nome de outros bicharocos, mas isso eu queria evitar [risos].
Continua a gostar de café? Começou a bebê-lo cedo.
Até parecia mal se não gostasse [risos]!
Qual é o preferido? [Risos.] Saco. Máquina. Qualquer um.
Com ou sem açúcar? No início, era com açúcar. Hoje, não ponho nada.
Se não tivesse nascido em Campo Maior, quem teria sido?
Com a nossa origem humilde, era difícil atingir a posição que atingimos. Foi uma sorte. Os Nabeiro não são naturais de Campo Maior. Os meus bisavôs vieram à ceifa para o Alentejo, ficaram cá filhos que fizeram família com pessoas da terra. Foi o caso da minha avó paterna. A nossa felicidade foi ter Badajoz à porta, já com bastantes habitantes na altura, em relação às cidades próximas de Portugal. Essa proximidade deu-nos força, atitude e capacidade de singrar também em Espanha, onde hoje temos um nome bom. Se não fosse vivermos aqui, se calhar, seríamos funcionários ou teríamos uma empresa pequena. Sempre disse que não queria trabalhar no campo e para quem quer que fosse. O meu tio já tinha essa atitude.
Com quantos funcionários começou e quantos tem hoje?
A Delta começou em 1961 com três funcionários reformados, dois da GNR e um da Guarda Fiscal. Vinha da minha casa, de madrugada, e seguia para a outra fábrica de Torrefação Camelo [que também liderava]. E depois foi contornar dificuldades de todas as ordens. Ainda procurei alguém das vendas que pudessem ajudar-me. Consegui trazer uma pessoa, mas cansou-se, porque não vendia nada, e foi-se embora. Mas eu vendia. Onde quer que parasse, tinha de vender. E onde quer que dormisse, também tinha de vender. A imaginação fazia o resto.
Dormia pouco nessa altura?
Acho que as pessoas dormem o suficiente. O que é preciso é dormir tranquilo. Quem se levanta cedo também se deita cedo. Ainda hoje, entre as 6h e as 6h15 estou a pé.
Quantas pessoas trabalham na Delta?
Quase quatro mil funcionários. Mais de 1 500 em Campo Maior. Temos 22 departamentos espalhados pelo País, continente e ilhas.
Em quantos países estão?
Mais de 40 países [48 de acordo com o Relatório de Sustentabilidade 2018], espalhados por cinco continentes. Estamos em Espanha, França, Luxemburgo, Angola (Angonabeiro), Suíça, China e Brasil, enquanto, em outros países, o modelo de negócio se baseia em parcerias com distribuidores locais. Creio que o sucesso alcançado é demonstrado pelos 30% que as vendas dos mercados internacionais representaram em 2018 para o grupo. Um resultado que confirma a nossa ambição: transformar a internacionalização numa das principais avenidas de crescimento. Temos um grande trabalho realizado na exportação e estamos a caminhar a bom ritmo para que assim continue.
Esta é a Delta com que sonhou?
É, mas a ambição não tem limites. Uma pessoa que tem uma empresa grande não pode pensar só em si. O orgulho não é ruim. Se o tivermos, saberemos como colaborar e estar com as outras pessoas. Eu espero mais, mas os meus anos já são muitos para poder esperar muito mais. Tenho de ser sensato. Tenho 88 anos, mas tenho família. Os filhos. Os netos. E os netos que trabalham em Lisboa e que trabalham bem. E outros aqui, em Campo Maior, que também trabalham bem. No fundo, tenho um conjunto de pessoas com ambição, que não é igual à minha, mas que ganhou a minha força ‒ a da apetência, a do querer, a de ver e a de imaginar. Hoje começo a perceber que são capazes de caminhar e que essa força já me ultrapassa um pouco, mas tenho a certeza de que vão vencer e continuar. Têm uma obrigação muito grande, porque o avô teve uma felicidade grande de conseguir caminhar, sempre sabendo distribuir e semear. Quando se vai lançando à terra uma semente saudável, de certeza absoluta de que no final haverá a recompensa. É isso que eu tenho recebido na minha vida.
Quando se vai lançando à terra uma semente saudável, de certeza absoluta que no final haverá a recompensa. É que isso que eu tenho recebido na minha vida
Acredita nisso?
Sim. Sou crente nessa situação. Quem tem gosto de bem fazer, não se esquecendo de si nem da comunidade nem das pessoas que trabalham consigo, é recompensado. E depois é preciso saber esperar. Saber esperar é uma arma importantíssima.
Porque é que a Delta é uma empresa familiar que resulta?
O ser humano, a certa altura, tem de fazer um trabalho que é o de não fazer sombra. Eu não faço sombra.
Mesmo estando na empresa todos os dias?
Venho aqui todos os dias, mas numa perspetiva de aconselhar. Se vejo, chamo a atenção, e eles fazem mesmo.
Teve sempre essa atitude?
Tive sempre abertura porque também foi assim que me ensinaram. O meu tio, a certa altura, verificou que eu era mais ponderado, que tinha mais atitude. Criava o trabalho, como ele, mas também a colaboração com os trabalhadores e ajudava quem nos batia à porta. Não são as organizações sociais ‒ cooperativas, associações – que podem resolver um problema. O barco é que tem de, realmente, dar o caminho certo. É isso que eu tenho feito. Não aponto. Digo com tranquilidade e carinho aos netos e aos filhos. Até hoje, não senti que o facto de a empresa ser familiar fosse algo mau, mas sei que há muitos casos desses em que ninguém beneficia. Temos de preparar as pessoas com os nossos exemplos, para termos a certeza de que tudo é feito de acordo com eles. E eu tenho feito isso.
Quando é preciso dizer não, diz?
Absolutamente. Quando a pessoa não se demite de ter uma opinião, é maravilhoso. Ou um conselho, que ainda é mais bonito do que dizer não: “Se fosse a ti, eu não fazia.” Isto é válido com todas as pessoas, desde a família aos funcionários. Estendo sempre a mão a qualquer um. Este é o nosso ganha-pão.
A forma como fala dá a sensação de que o processo foi fácil. Houve momentos complicados na Delta?
Muito difíceis. O sonho também dá dor de cabeça. A minha empresa foi crescendo a pensar na minha terra e na minha região. Campo Maior não tinha nada. Trabalhava- -se no campo com pouco rendimento, e nem sempre havia trabalho. Hoje é uma terra diferente, onde as pessoas vivem e se sentem bem. Não há dúvida de que a minha atitude foi sempre a de fazer o melhor para toda esta população, embora não o tenha feito só para a população. Achei que podia fazer um trabalho bom e tive a felicidade de Deus ou de a Providência me ajudar. E as pessoas que trabalham comigo também colaboraram.
Nunca sentiu a necessidade de dar um murro na mesa?
Dou, até porque a nossa família tem coragem. A pessoa pode dar um murro na mesa com razão, logo que não ofenda. Mesmo assim, sou uma pessoa muito respeitada. Nunca tive problemas com ninguém. Os que surgem são do dia a dia, comuns a qualquer cidadão, quanto mais numa casa destas! Se os funcionários se vão embora, por qualquer razão, então vão. Se se portaram mal, também. Digo sempre que quem planta árvores pode arrancar uma, mesmo que não seja muito normal.
Como será a Delta daqui a 50 anos?
São muitos anos.
De que forma um socialista, que já foi autarca, olha hoje para a política?
Com alguma apreensão.
Diz que é socialista porque nasceu aqui…
Os meus pais sofreram bastante. Trabalharam no campo, antes de se casarem. Passaram por carências ainda quando viviam em casa dos respetivos pais. Sou um socialista, como o meu pai também o era, mas sou um que olha para aquilo que está certo. Para o que o meu partido possa fazer de bem ou de mal. Se estivesse nas minhas mãos, haveria uma política a pensar nos que sofrem realmente de carências.
A política de hoje não pensa nesses?
Sou muito comedido nas minhas afirmações políticas, respeitando tudo e todos. A política tem de ser mais para todos e não só para alguns, mas eu também posso ser considerado desses alguns, porque tenho uma vida boa e nada do que me queixar. No entanto, há ainda muitas pessoas com carências, e a minha preocupação como cidadão é que houvesse menos ou até nenhuma.
Há ainda muitas pessoas com carências, e a minha preocupação como cidadão é que houvesse menos ou até nenhuma
Acredita na nossa Justiça?
Não tenho o direito de não acreditar na Justiça, mas tenho o direito de dizer que as coisas não estão a acontecer. E como não estão a acontecer, tenho de ser prudente. Um homem que é empresário, e que vive para si e para os outros, tem de ser prudente nas suas afirmações numa área dessas. Já tenho muitos anos. Tenho encontrado pela vida muitas coisas, e o que vejo é que a Justiça, os políticos e até os sindicatos precisam de fazer mais em conjunto. Pensando que, em conjunto, seremos capazes de renovar e criar no nosso país aquilo de que ele precisa.
É possível replicar no País o que pratica na Delta?
Penso que sim. Por exemplo, temos hoje um ATL – Atividade de Tempos Livres – para as crianças dos funcionários. Cartão de saúde para todos os funcionários. Se a situação de doença for mais complicada, temos um fundo social para podermos dar uma resposta. Não se pode acabar com as coisas de um dia para o outro. Se estamos em crise e se cortamos logo e de qualquer forma, os que estão pior vão sofrer mais. Era bom que viessem à Delta para verem como fazemos com o pessoal, com as crianças e, a nível geral, no campo da Saúde, porque eu uso o Serviço Nacional de Saúde mas também vou ao privado.
Teria valido a pena continuar na política?
Quando cheguei à câmara, os meios eram curtos. O meu ordenado, pequeno, nunca o recebi. Ficou sempre para o reforço de quem mais precisava. Quem não tem os meios que eu nessa altura já tinha talvez não possa fazer isso, mas pode criar situações que garantam mais saúde na autarquia. A minha atitude política foi sempre a de valorizar quem não tinha.
Acha que a nossa educação devia mudar?
Sim. A realidade hoje é totalmente diferente. As nossas crianças têm uma lacuna grande. Temos dois manuais de empreendedorismo, um dos 3 até aos 12 anos – Ter Ideias para Mudar o Mundo – e agora outro dos 12 aos 18 anos, nos quais pais e filhos vão deixando os seus comentários: “o senhor fazia assim…” E vai ficando algo. Também estamos ligados a alguns institutos politécnicos do País. São parcerias que pretendem dar mais-valias a estas crianças, que conseguem desenvolver a imaginação através da pintura, da cultura geral. Com o que elas recebem na escola pública é mais difícil, porque quem lá está também se está a queixar e quem se queixa não pode servir bem. Eu não me queixo, porque estou bem. Há muitos portugueses entre os 35 e os 40 anos, e até mais, que depois da crise têm tentado mudar o rumo das suas vidas.
Que conselho lhes dá?
Eu abro portas onde não há segredos. Qualquer pessoa que queira vir à nossa empresa vem. Os estagiários chegam de vários pontos do País, mas o que me preocupa é se o colega que está na área de estágio com essa pessoa está ou não a abrir o livro. Quem cai é por falta de organização ou por outra situação, como o desânimo. Uma pessoa desanimada não consegue vencer. É preciso acreditar e nunca se dar por vencido. Há muita gente que não acredita.
Uma pessoa desanimada não consegue vencer. É preciso acreditar e nunca se dar por vencido. Há muita gente que não acredita
Os jovens hoje estão mais perdidos? O senhor é um exemplo para eles.
Como o meu, há mais exemplos. A conversa que estamos aqui a ter também a podemos ter num retiro de amigos, em casa, na escola. Mas as escolas hoje não vivem a experiência das pessoas do meio que podiam ajudar. Por vezes, até se diz: “Sabe muito porque tem muito.” Se me chamassem às escolas, como me chamam à minha, as crianças viam um líder. A nossa escola, primária e secundária, precisava de levar um caminho de elevação. Pôr as pessoas a pensar [na secundária] que já são crescidotes e que precisam de ter uma missão.
Falta elevação a Portugal?
Sim, não há dúvida nenhuma.
Qual a característica que faz um grande líder?
A humildade é a coisa mais forte que o Homem pode ter, e depois a proximidade.
A proximidade é o seu forte?
Sim. Estou próximo de todas as pessoas, de todos os amigos. E estou tão próximo da família como de quem me bate à porta. Já hoje tive uma manhã que me deixou exausto. Não por atender pessoas, mas porque foi muito tempo.
Atender quem?
São pessoas que batem à porta da empresa. Em casa, faço por isso não acontecer, porque a minha mulher não tem essa obrigação, apesar da minha forma de ser. Mas no meu escritório atendo toda a gente.
Todos os dias?
Nesse aspeto sou pouco disciplinado, porque facilito sempre. Hoje era uma questão de tribunal. Não sou advogado, mas arranjei a advogada, e o moço passou logo uma procuração, porque, coitado, estavam a tirar-lhe um terço do salário, que já é pequeno. E isso dói. Vamos ajudá-lo. Porque o fiz? Porque algo dentro de mim me disse: faz.
Depois também tem o retorno desse amor?
E quanto vale isso? Não tem preço. É uma grande alegria.
Há algo que lhe tire o sorriso?
Não. O forte é saber rir.
Qual a pergunta que nunca lhe fizeram e que gostaria que lhe fizessem?
Eu gostei da entrevistadora. Só preciso que ela diga se gostou do entrevistado [risos]. Ficamos empatados.
