Na data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a EU-Startups, uma publicação online especializada em startups europeias, elegeu as 100 mulheres europeias mais influentes no mundo do empreendedorismo e da inovação. Entre elas, estão duas portuguesas: Cristina Fonseca, co-fundadora da Talkdesk, um dos sete unicórnios portugueses, avaliado em mais de 10 mil milhões de dólares; e Luísa Buinhas, engenheira aeroespacial e co-fundadora da Vyoma. A empresa desenvolve modelos de observação de detritos aeroespaciais e operações automatizadas de satélites.
Formada em Engenharia de Telecomunicações e Informática pelo Instituto Superior Técnico, Cristina Fonseca co-fundou a Talkdesk, a startup portuguesa que oferece um serviço de call center alojado na cloud, desenvolvido com base em Inteligência Artificial. Integrou o Conselho da Agenda Global na Europa e foi reconhecida como 30 under 30 in Enterprise Technology pela Forbes. Atualmente é sócia do maior fundo privado independente de capital de risco de Portugal, o Indico Capital Partners.

Luisa Buinhas, nascida em Lisboa, formou-se na Universidade Técnica de Delft, nos Países Baixos, e doutorou-se na Universidade das Forças Armadas Federais Alemãs, tendo também estudado no Instituto Superior Técnico. É especializada em análise de missão, projeto e otimização de trajetória para missões de formação de naves espaciais.

Ambas foram distinguidas numa área onde as equipas constituídas exclusivamente por mulheres recebem menos de 1% do financiamento e na qual, de acordo com um estudo do Talent Works, 62% das mulheres que trabalham em tecnologia afirmam ter experienciado culturas de trabalho tóxicas nos últimos 5 anos. Apesar dos muitos avanços alcançados no que toca à paridade de género no emprego, as diferenças, quer no acesso ao mercado de trabalho, quer no rendimento, continuam bem patentes, especialmente em indústrias tradicionalmente masculinas. O Forum Económico Mundial prevê que sejam necessários 135,6 anos para eliminar a desigualdade salarial entre géneros, num mundo onde nenhum dos 153 países analisados conseguiu atingir a igualdade de salários entre homens e mulheres e onde o fosso, a nível global, é de 69%. Portugal surge em 35.º lugar da lista: aqui as mulheres ainda têm de trabalhar mais 54 dias para ganhar o mesmo salário que um homem.
Menos remuneração por funções semelhantes, mais mulheres em funções com salários mais baixos e pouca representação de mulheres em cargos de chefia e na política estão entre as várias razões que agravam o fosso salarial entre géneros. Mais de 100 anos depois da comemoração do Primeiro Dia Internacional da Mulher, as causas continuam vivas.
Uma data com História
Nascido no virar do século XIX, o Dia Internacional da Mulher começou por estar associado aos movimentos trabalhistas da América do Norte. A primeira data comemorativa foi organizada pelo Partido Socialista norte-americano e teve lugar em Nova Iorque, a 28 de fevereiro de 1909, como marco da luta pela igualdade de direitos das mulheres, nomeadamente das trabalhadoras imigrantes. E foi precisamente uma imigrante, nascida no império russo, numa área hoje no oeste da Ucrânia, quem primeiro o sugeriu.
Theresa Serber Malkiel nasceu em 1874, numa família judia de classe média e recebeu uma boa educação. As perseguições étnicas levariam, no entanto, a família a emigrar para os Estados Unidos em 1891, quando ela tinha 17 anos. Em Nova Iorque, a sua educação não lhe valeu de muito. Malkiel viu-se na mesma situação desesperada de tantas outras mulheres imigrantes, acabando por aceitar um emprego numa fábrica têxtil. As condições eram brutais: os turnos podiam durar 18 horas, os ferimentos eram comuns e as mulheres ganhavam metade do salário dos homens. Malkiel rapidamente se juntou ao movimento trabalhista e alcançou cargos de liderança no Partido Socialista.
Sem data fixa até então, seria necessário esperar até 1917 para que o Dia Internacional da Mulher encontrasse definitivamente o seu lugar no calendário a 8 de março. Com dois milhões de soldados russos mortos na guerra, dezenas de milhares de mulheres encheram as ruas de São Petersburgo exigindo “pão e paz”. Quatro dias após o início da marcha – à qual se juntaram homens e soldados desertados da frente de guerra – o regime czarista caiu e o governo provisório concedeu às mulheres o direito de voto. A conquista histórica ficaria incontornavelmente ligada à luta das mulheres que não é só pelas mulheres, mas antes por igualdade, justiça, paz e desenvolvimento.