Aos 30 anos já era economista-chefe do BPI. Depois de vários anos no banco aceitou o desafio de ir para a administração da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) em 2012, em pleno programa da Troika e com o acesso aos mercados financeiros internacionais praticamente fechado. Em 2014 assumiu a presidência dessa instituição, tendo tido um papel essencial para vender a marca Portugal e fazer com que o País entrasse no radar dos investidores internacionais e beneficiasse de custos de financiamento mais baixos. Esse percurso foi o motivo para a atribuição do prémio Excelência na Liderança 2021, da responsabilidade da EXAME e da Trust in News. É a primeira vez, desde que esta distinção começou a ser atribuída em 2010, que o prémio é atribuído a uma mulher.
Apesar da desigualdade que ainda se nota entre homens e mulheres no acesso a posições de topo, especialmente no setor financeiro, Cristina Casalinho disse – na cerimónia em que foi distinguida com o prémio e que foi dedicado também às 500 maiores e melhores empresas nacionais – que ao longo da sua carreira nunca se sentiu “particularmente estigmatizada” pelo facto de ser mulher.
Numa conversa com Mafalda Anjos, publisher da Trust in News e diretora da Visão, Cristina Casalinho referiu que “o mundo financeiro ainda é dominado por homens e houve ocasiões em que ainda era a única mulher na sala”. Mas não sente que isso tenha sido um obstáculo, já que, referiu, “se fizermos a coisa certa, algum dia dará resultados”. A presidente do IGCP chegou a cargos de liderança bem cedo. Aos 30 anos foi promovida a economista-chefe do BPI e passou a liderar pessoas mais velhas. “Houve uma circunstância em que era a mais nova na equipa que liderava”, recorda

A antiga economista chefe do BPI revelou que quando chegou à coordenação da equipa, “achava que não tínhamos a capacidade de expressar sempre as nossas opiniões e decidi fazer uma reunião para que o pudéssemos fazer e chegar a consenso”. Apesar de a equipa ser pequena descobriu que não era fácil chegar a um entendimento e que a decisão mais consensual poderia não ser a mais acertada, o que fazia com que se as coisas corressem mal tivesse de dar a cara por algo em que não se revia. Assim, um dos ensinamentos, referiu, é que a democracia nas equipas é boa mas não pode levar a decisões em que quem tem de as assumir não se reveja.
A presidente do IGCP revelou ainda que ao longo do seu percurso teve a “sorte de ter muitos chefes com quem consegui aprender” e que conseguiram instilar ambição. Mas, numa autocrítica, disse não ter a certeza de ser muito bem-sucedida nessa tarefa, sobretudo quando “estamos tão submersos com o dia-a-dia”.
Cristina Casalinho referiu ainda os momentos mais delicados que teve de enfrentar no IGCP, como os dias que se seguiram à resolução do BES e em 2016, quando um pico de volatilidade do mercado complicou uma emissão sindicada de dívida que estava a ser preparada pelo Estado. Nessas duas ocasiões foi importante dar sinais de tranquilidade a investidores e a agências de rating, mensagem que foi reforçada pelo facto de Portugal ter na altura uma elevada almofada financeira. “Aos investidores não interessa a fotografia, interessa é mesmo o filme”, disse. Em final de mandato no IGCP, Cristina Casalinho elegeu a realização de uma emissão de dívida verde e uma melhor plataforma online como os grandes objetivos que gostaria de concretizar.
O prémio foi entregue esta segunda-feira na conferência dedicada às 500 Maiores & Melhores Empresas. Estará em breve nas bancas uma revista dedicada a este estudo, na qual constará uma extensa entrevista de vida com a presidente do IGCP.