Mais sólidas e mais resilientes. Estas são as principais características mostradas pela maior parte das 500 maiores e melhores empresas do país. Na conferência de entrega dos prémios às organizações que tiveram a melhor evolução financeira em 13 setores de atividade – num evento organizado pela EXAME, com o apoio do Bankinter, da Informa D&B e da Deloitte e que vai já na sua 32.ª edição – foi feito um raio-X ao desempenho das maiores empresas do País em 2020, o ano em que a pandemia levou a economia à maior contração das últimas décadas.
As empresas que fazem parte da lista das 500 maiores não escaparam aos efeitos destrutivos da crise pandémica. “No primeiro ano da pandemia, quase 60% dessas empresas tiveram descidas no seu volume de negócios”, revelou Luís Cavaco. Numa apresentação feita esta segunda-feira, o analista de estudos e inovação de produto da Informa D&B notou que 37% das 500 maiores empresas tiveram quedas superiores a 10% do seu volume de negócios. Apesar do elevado número de empresas a sofrer uma retração das suas vendas, a proporção é menor que a observada na totalidade do tecido empresarial, em que cerca de 45% das empresas tiveram descidas acima de 10% do volume de negócios.
Além de as 500 maiores empresas terem resistido melhor à descida da faturação, dão também sinais de solidez financeira, o que as poderá ajudar a acelerar na recuperação. “Cerca de 70% das 500 têm uma resiliência elevada ou média alta, o que contrasta com 38% do tecido empresaria”, referiu Luís Cavaco. Também o risco de failures das maiores é bem mais baixo. “84% têm risco mínimo ou reduzido, 20 pontos superior ao do tecido empresarial”.
Alberto Ramos, country manager do Bankinter Portugal, notou que “bons exemplos não faltam”. E realça que “é nestes momentos de grande incerteza que a escala pela qual medimos as nossas ambições deve ser ainda maior”. O banqueiro defendeu que apesar das dificuldades e disrupção causadas pela pandemia, esta é uma “oportunidade de mudança e de melhores para as empresas aprofundarem o seu processo de transformação”.

O líder do Bankinter Portugal sublinhou que, nesse sentido, o Plano de Recuperação e Resiliência e o PT2030 são uma “oportunidade única de modernização”. Afirmou mesmo que as “gerações futuras não perdoariam” se Portugal não executar de forma eficaz os programas com os fundos comunitários. Também Ramón Forcada, diretor de análises e mercados do Bankinter, salientou a importância da bazuca europeia. Avisou que se o Next Generation EU não for bem executado isso criará problemas em alguns países, especialmente aqueles que são mais recetores do que doadores do dinheiro da bazuca.
Do ponto de vista da política monetária, o diretor do Bankinter considerou, na apresentação que fez na conferência das 500 maiores e melhores, que esta continuará a apoiar a economia. Acredita que apesar de os bancos centrais poderem ter de subir juros não o irão fazer para níveis elevados porque a elevada dívida irá impedir os bancos centrais de aumentarem as taxas de referência, sob pena de colocarem pressão na capacidade de financiamento dos estados. Já sobre as principais tendências de investimento para o próximo ano, Ramón Forcada, observa que há sinais positivos para as bolsas, mas que haverá um ajuste para as obrigações devido a algumas afinações de políticas que os bancos centrais deverão fazer.
Transformação digital nos impostos
A necessidade de transformação foi um dos temas em fico na conferência das 500 Maiores & Melhores. Além dos desafios causados pela pandemia, os próximos anos serão marcados por uma aceleração nos investimentos em tecnologia. Uma das áreas em que essa aposta tem avançado rápido é nos impostos.
A Autoridade Tributária tem-se modernizado rapidamente em termos tecnológicos e André Vasconcelos, associate partner da Deloitte, refere mesmo que aquela entidade “tem um portal extremamente desenvolvido quando comparamos com outras autoridades tributárias na Europa e no mundo”. No entanto, a velocidade com que o Fisco fez avanços tecnológicos não tem sido acompanhada pela maior parte das empresas, segundo um estudo feito pela Deloitte e apresentado na entrega de prémios das 500 maiores e melhores. Hervé Silva, partner da Deloitte, sublinhou que a “pressão para a transformação na função fiscal é muito grande” e que a Autoridade Tributária “tem desempenhado um papel fundamental no acelerar da transformação na área fiscal, colocando pressão nas organizações para se transformarem a nível tecnológico”.