A felicidade nas organizações e a definição de um propósito são fatores que ajudam a melhorar a rentabilidade das empresas. A conclusão é do estudo Happiness Works, que pode consultar em detalhe na edição da Exame de junho. Na sessão de apresentação das empresas portuguesas mais felizes, que decorreu de forma virtual, um painel de especialistas analisou a importância da felicidade e do propósito das organizações.
“Há um impacto na rentabilidade”, constatou Georg Dutschke, um dos responsáveis pelo estudo. O especialista notou que “quem é mais feliz falta menos 36%, tem menos 45% de vontade de mudar de organização e sente-se mais produtivo em 9%”. E explica que “absentismo e rotação” custam dinheiro. Também os elementos de organizações onde reconhecem um propósito são mais felizes. Numa escala de 1 (menos feliz) a 5 (mais feliz), as empresas em que o propósito é reconhecido têm 4,3, bem acima dos 3,1 das organizações em que as pessoas não reconhecem que ele exista. São indícios fortes de que ter um propósito também pode ajudar a rentabilidade.
Quem é mais feliz falta menos 36%, tem menos 45% de vontade de mudar de organização e sente-se mais produtivo em 9%
Georg Dutschke
Nikolaus Hutter, fundador e CEO da New Paradigm Ventures, considerou mesmo que está a acontecer a “revolução do propósito”. O especialista em capital de risco e investimento de impacto comparou este movimento ao da internet no início dos anos 90. “Ninguém sabia muito bem o que iria ser e muitos investidores não queriam estar, mas abriu oportunidades maciças e também muitos desafios”. Defendeu que o investimento de impacto pode ser “a maior oportunidade de todos os tempos”. E observou que “a razão por que fazemos negócios está a mudar”. Nikolaus Hutter admitiu que “o lucro é um objetivo, mas secundário. O principal ponto é resolver problemas”.
Também João Pedro Tavares constatou que “a maior parte dos líderes está a aperceber-se que têm de ter um propósito e o que importa é o impacto que temos na sociedade não só apenas junto dos acionistas”. O presidente da ACEGE – Associação Cristã de Empresários e Gestores defendeu que “o mundo não está dividido entre o que é e o que não é lucrativo”. Mas alertou que é um desafio saber como incluir e juntar variáveis económicas e não económicas. Já Tiago Freire, diretor da Exame, salientou que não basta a uma organização definir e ter um propósito. Para que esse objetivo não se perca de vista e continue presente junto dos elementos das organizações “esse tem de ser um assunto do dia a dia”.
Como está a felicidade das empresas portuguesas?
O estudo Happiness Works teve este ano a sua décima edição. E o que nos diz o histórico sobre a evolução da felicidade nas empresas portuguesas? “A preocupação sobre este assunto cresceu e é maior desde 2016”, revelou Georg Dutschke. Mas o especialista nota que apesar dessa melhoria, nos últimos anos tem existido uma estagnação, com o valor da felicidade nas empresas a situar-se em 3,8 na escala de 1 a 5.
Georg Dutschke explicou o que pode estar a acontecer. “Numa organização podemos pensar de forma tática ou estratégica. Na primeira, crio momentos mas não crio cultura. Estrategicamente tenho de criar cultura, pensar de cima para baixo e implementar de baixo para cima”. E concluiu: “Esta visão mais estratégica é um passo importante que falta dar. Quanto mais empresas pensarem estrategicamente, este nível de felicidade pode crescer e isso é uma questão de tempo”.
As organizações podiam funcionar sem serem felizes? Poder até podiam, mas não seriam a mesma coisa
Mário Ceitil
Mário Ceitil, presidente da Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas, defendeu que “o principal elemento que pode gerar riqueza dentro das organizações é a aposta nas pessoas”. E questionou, a fazer lembrar um spot publicitário: “As organizações podiam funcionar sem serem felizes? Poder até podiam, mas não seriam a mesma coisa”. Já Ricardo Parreira, CEO da PHC – empresa no topo das mais felizes deste ano -, garantiu que “a felicidade é lucrativa”. Mas avisou que “isso requer investimento e não acontece por acaso”.
E as empresas mais felizes são…
O Happiness Works 2021 obteve um recorde de 6 380 respostas de colaboradores e analisou cerca de 300 empresas, identificando duas dezenas que constituem exemplos de felicidade organizacional. A PHC ficou no primeiro lugar do ranking. As outras duas posições do pódio foram para a IT People e para a Milestone.
Além destas três empresas, e por ordem alfabética, foram ainda distinguidas no top 20 das empresas mais felizes, sem nenhuma ordem em específico, as seguintes: Altronix, Amco, AMT Consulting, Grupo Bernardo Costa, Cobelba, Conectys, Grupo Your, Mendes Gonçalves, Near Partner, Quilaban, Samsys, Smart Consulting, Solfut, WYgroup, YKK Portugal, Ytech e Zolve.