Virar para fora e apostar nos mercados externos. Esta tem sido a mensagem, unânime, de organizações internacionais, Governo e consultoras, para as empresas portuguesas desde o resgate ao país, em 2011. Uma máxima que as maiores empresas em Portugal já estão a seguir há vários anos, mostra uma análise da Deloitte e da Informa D&B, com base nas edições históricas das 500 Maiores & Melhores Empresas em Portugal (500 M&M), o estudo anual que a revista “Exame” publica desde 1990 e que distingue as maiores e melhores empresas no país.
Os números são claros. Entre 2007 e 2013, as vendas de bens e serviços para fora de Portugal das 500 M&M cresceram a uma taxa média anual de 4,9%, considerando preços constantes de 2013, enquanto as vendas para o mercado interno recuaram a uma taxa média de 0,1% ao ano. No mesmo período, a taxa de crescimento das exportações do conjunto da economia portuguesa foi 2,3% (também considerando preços constantes de 2013). E, a partir de 2010, a tendência acentuou-se. Entre esse ano e 2013, o volume de negócios das 500 M&M nos mercados externos aumentou à taxa média anual de 6,8%, enquanto no mercado interno diminuiu 4,9% ao ano, em termos médios. E as exportações do conjunto da economia cresceram à taxa média anual de 5,4% (considerando preços constantes de 2013).
“As 500 M&M, à semelhança da generalidade do tecido empresarial português, tiveram, face à crise nos últimos anos, de reorientar as suas estratégias comerciais e prioridades estratégicas para mercados externos. A contração da procura interna reduziu a dimensão do mercado interno e obrigou as empresas a encontrarem novos clientes e mercados para os seus bens e serviços”, salienta João Gomes, sócio da Deloitte. Mas, as grandes empresas têm estado na liderança: 70% das 500 M&M apresentaram atividade exportadora em 2013, enquanto no conjunto do tecido empresarial luso esse número foi de apenas 17%.
Revolução na construção
As 500 M&M partiram, contudo, de uma base pequena. Em 2007, o mercado interno absorvia 77% das vendas, enquanto as exportações representavam apenas 23%. Em 2013, estes valores tinham-se alterado para 72% e 28%, respetivamente. O que significa que o mercado interno ainda é essencial para as maiores empresas. Tudo por causa do seu perfil sectorial, “semelhante ao do tecido empresarial português, onde sectores predominantemente virados para o mercado interno continuam a ter um peso significativo”, nota Teresa Menezes, diretora-geral da Informa D&B. Como resultado, a contração do consumo privado tem ditado uma redução do volume de negócios total das 500 M&M (a preços constantes de 2013).
“A capacidade de reorientação das vendas e produção para os mercados externos e a rapidez com que este processo ocorre dependem em parte do sector em que cada empresa opera”, nota João Gomes. No universo das 500 M&M, há comportamentos muito distintos.O retalho ou as telecomunicações, “mais dependentes do mercado interno, foram especialmente afetados pela queda generalizada do consumo”, aponta Teresa Menezes. Trata-se de sectores onde o mercado interno representava 98% e 92%, respetivamente, do volume de negócios em 2007, valores que pouco se alteraram até 2013 (97% e 94%). E que têm um peso elevado no ranking, representando cerca de 20% do volume de negócios das 500 M&M.
Já “as indústrias transformadoras ou sector grossista, reforçaram a sua atividade exportadora, redirecionando recursos para crescer no mercado externo”, acrescenta Teresa Menezes, salientando que esse crescimento “está claramente associado ao sucesso das empresas”.
Sinal disso, “nos últimos cinco anos, a taxa de crescimento do volume de negócios agregado das empresas exportadoras é consistentemente superior à das empresas que não exportam”. João Gomes, por sua vez, destaca o sector da construção, que passou de 24% do seu volume de negócios realizado fora de Portugal em 2007, para 54% em 2013. “Esta reorientação foi claramente impulsionada pela quebra da procura interna e pela necessidade de encontrar mercados alternativos que permitissem a sobrevivência das empresas deste sector”, frisa.
500 M&M representam 52% das exportações lusas
As 500 M&M são determinantes na economia portuguesa. Sinal disso, foram responsáveis por 52% das exportações lusas em 2013. E têm liderado a aposta nos mercadosfora da União Europeia (UE), mais ‘difíceis’, mas com maior potencial. As exportações das 500 M&M paramercados extracomunitários cresceram à taxa média anual de 13,1% entre 2007 e 2013 (considerando preços constantes de 2013). Já para o mercado comunitário, o crescimento foi reduzido, de 0,4% ao ano, em média.
“Os crescimentos relativamente baixos expectáveis para as economias da UE levam as empresas a procurar alternativas geográficas”, frisa Teresa Menezes. Como resultado, a importância da UE nas exportações das 500 M&M diminuiu de 71% em 2007, para 55% em 2013, e o peso dos mercados extracomunitários subiu, no mesmo período, de 29%, para 45%. Nas exportações portuguesas totais, o peso dos mercados fora da UE ainda é bastante inferior, tendo ficado nos 30% em 2013.”Exportar para mercados de longa distância é mais dispendioso e difícil. A capacidade de uma grande empresa é maior do que a de uma PME para fazer face a estas circunstâncias”, remata João Gomes.
NÚMEROS A RETER
97% foi o peso, em 2013, das vendas ao mercado interno no volume de negócios das empresas de retalho presentes no ranking das 500 M&M
54% foi o peso, em 2013, dos mercados externos no volume de negócios das empresas de construção presentes no ranking das 500 M&M. Em 2007, era de apenas 24%
Este artigo foi publicado originalmente no Expresso de 1 de novembro de 2014. Trata-se da terceira republicação de seis artigos – de temas que continuam a marcar a atualidade – para assinalar o arranque da 26ª edição das 500 M&M da revista “Exame”.