“Por que motivo as pessoas precisam de comer fruta que veio do outro lado do mundo? Porque estamos em janeiro e ‘apetece-me comer uvas?’ Por favor, comam laranjas! É um sacrifício assim tão grande?” O pedido é feito por Alexander More, investigador, professor em Harvard e no Instituto das Alterações Climáticas da Universidade do Maine, em que lidera um projeto sobre o impacto das alterações ambientais na saúde humana, no ecossistema e na economia. Para ele, é preciso explicar às pessoas o impacto de escolhas tão simples como estas do dia a dia no ambiente, por causa das emissões de CO2 que implicam.
More é também um dos responsáveis pela análise de um núcleo de gelo de 73 metros de comprimento, retirado do glaciar Colle Gnifetti, perto da fronteira entre a Suíça e a Itália, em 2015. “É diferente de todas as outras amostras [provenientes dos polos] porque foi retirado do local que foi o centro da civilização nos últimos dois mil anos”, explica. “Conseguimos perceber como foram as estações, os meses em cada um desses anos. Conseguimos até detetar uma tempestade.” Depois, “é preciso cruzar esses dados com fontes históricas”, o que faz em Harvard, onde gere a maior biblioteca digital do mundo dedicada ao clima. “Só fazendo essa ligação se consegue entender o que realmente aconteceu.”
E avança com um exemplo tão claro quanto perturbador: “Sempre se pensou que o chumbo existia na atmosfera, mas descobrimos, num período da Idade Média, que esses níveis ficaram tão baixos que praticamente não eram detetáveis. Esse período coincide com a peste negra, que dizimou boa parte da população na Europa e levou ao encerramento de um grande número de minas.” Ou seja, percebemos como os efeitos da nossa atividade sobre o clima são bem anteriores à Revolução Industrial e como, afinal, “andamos a envenenar-nos há muito mais tempo do que imaginávamos.”
Para Alexander More, o grande desafio é não só estudar, analisar e quantificar, mas pegar nesses dados e criar uma narrativa que todos percebam, virada para a ação. “Não sou fã desta administração norte-americana, mas independentemente disso precisamos de tirar a política da luta climática, que deve ser assumida por todos, sem interferência dos políticos.” E, para tal, o foco da comunicação deve centrar-se em dois fatores cruciais: “health and wealth”, como costuma resumir, ou seja, na saúde e na riqueza. “A maioria das pessoas não quer realmente saber dos outros, mas preocupa-se quando percebe como as alterações climáticas as afetam no que mais lhes importa. Só assim vamos conseguir mudar mentalidades.”
E há outra maneira, mais singela: “Levar as pessoas a redescobrirem a Natureza.” “Portugal é uma nação marítima, a vossa História tem tudo que ver com o oceano e com as explorações, e não há nada mais fácil do que pegar numa máscara de mergulho e partir à descoberta de um novo mundo. Para mim, que cresci no Sul de Itália, ao pé do mar, e até aos 17 anos vivi entre Itália e Grécia e sempre fiz mergulho, isso é evidente. Se ligarmos estas duas ideias – comunhão com a Natureza e perceção do mal que lhe estamos a fazer –, as mentalidades mudam. Tenho visto isso a acontecer por todo o lado.”
Não precisa obviamente de ser mergulho, pode ser outra atividade, mas More tinha outra analogia subaquática – que também é uma crítica a todos arautos da desgraça: “Se entrarmos em pânico com as alterações climáticas, afogamo-nos. Consegue imaginar mover uma cidade como Nova Iorque, com dez milhões de pessoas para o interior? Porque é isso que terá de acontecer se não fizermos nada…” É preciso informar e agir – e quanto mais cedo, melhor. Para não ser tarde demais.
Oceano de Esperança é um projeto da VISÃO em parceria com a Rolex, no âmbito da sua iniciativa Perpetual Planet, para dar voz a pessoas e organizações extraordinárias que trabalham para construir um planeta e um futuro mais sustentáveis. Saiba aqui mais sobre esta missão comum.