Menos de 12% dos oceanos estão intactos

Menos de 12% dos oceanos estão intactos

Emanuel Gonçalves, biólogo e administrador da Fundação Oceano Azul, inaugurou a nova rubrica na VISÃO, Oceano de Esperança, dedicada a pessoas e organizações excepcionais que fazem a diferença para criar um planeta e um futuro mais sustentáveis. Pedimos-lhe para partilhar com os leitores os números e os factos que mais o preocupam.

1. Modelo de desenvolvimento económico. A maior ameaça que o oceano enfrenta é o nosso atual modelo de desenvolvimento económico que se baseia numa economia extrativa e no essencial baseada em sistemas lineares, onde os custos de degradação e os benefícios indiretos da natureza não são contabilizados. Isto leva a uma situação em que, para que haja desenvolvimento económico, exista degradação ambiental. Este modelo de desenvolvimento económico extrativo e que carboniza está a levar-nos a uma catástrofe ambiental, social e económica.

2. Aquecimento global. O oceano está a aquecer muito mais do que se pensava, absorvendo até 90% do excesso de calor produzido pelas emissões. Ao mesmo tempo está a acidificar com o excesso de CO2 absorvido e, soubemos agora com o recente relatório da IUCN, a ficar com bastante menos oxigénio. Estes fatores estão a aumentar as zonas mortas no oceano, a fazer desaparecer os recifes de coral, a alterar a distribuição das espécies, incluindo de muitos recursos pesqueiros, a diminuir o espaço vital que estas espécies normalmente utilizavam e a provocar um acelerar da extinção de espécies.

3. Sobre-pesca e falta de transparência na gestão pesqueira. Não conseguimos ainda controlar a sobre-exploração dos recursos pesqueiros nem as atividades de pesca ilegal. Esta sobre-pesca tem levado ao desaparecimento ou diminuição de muitos stocks pesqueiros a nível mundial, com alterações profundas nos sistemas oceânicos. Hoje tenta-se inclusivamente explorar recursos críticos para o funcionamento das teias tróficas do oceano como sejam o krill (pequenos camarões que são a base alimentar de muitos peixes, mamíferos marinhos, aves e invertebrados) e os peixes mesopelágicos (pequenos peixes que abundam na coluna de água no oceano aberto). É já menos de 12% a área do oceano global que pode ser classificada com estando intacta. Isto significa que temos menos área marinha intacta do que em terra, sendo que a maioria destes locais não têm qualquer estatuto de proteção.

4. Poluição. O nível de poluição no oceano continua a aumentar embora este assunto esteja longe da atenção da sociedade. Por um lado, temos a poluição orgânica das mega-cidades mundiais e dos sistemas agrícolas onde, mesmo nos países desenvolvidos, os sistemas de tratamento de efluentes não retiram muitos dos nutrientes que provocam fenómenos de eutroficação que estão na base do desenvolvimento de episódios de algas tóxicas, zonas mortas e impactos significativos nos sistemas biológicos ou mesmo nos sistemas de aquacultura costeira (ela também muitas vezes causadora destes fenómenos). Por outro lado, a poluição química derivada dos muitos produtos que utilizamos e que são despejados nos efluentes e no oceano, causam a morte ou stress fisiológico dos organismos marinhos. Na última década tomámos consciência que a poluição por plásticos está em todo o lado no oceano, nos organismos e em nós próprios. Por fim, a poluição sonora de que nos apercebemos também nas últimas décadas, e que hoje sabemos tem impactos no comportamento, fisiologia e distribuição de muitas espécies marinhas.

5. Destruição de habitat. Continuamos a perder habitats costeiros que são críticos para a mitigação das alterações climáticas e para a produtividade do oceano, como sejam os sapais, pradarias marinhas e mangais. Continuamos igualmente a destruir os fundos dos oceanos através de formas de pesca destrutiva, extração de inertes, obras costeiras e até agora a planear a mineração dos fundos marinhos para a qual não existe nenhuma evidência que possa ser desenvolvida de forma sustentável.

6. Exploração de petróleo e gás no offshore. A indústria de petróleo e gás continua a desenvolver atividade no offshore com consequências desastrosas para o clima, pois continuamos a aumentar as emissões de gases com efeito de estufa, mas também com consequências diretas significativas no oceano quer nos acidentes de poluição por hidrocarbonetos, na destruição dos fundos marinhos e na atividade de prospeção sísmica que tem impacto elevado nas espécies de baleias e golfinhos, por exemplo.

7. Apatia dos cidadãos. Para terminar, é preciso assinalar uma ameaça bastante menos discutida e que tem consequências críticas para o estado de saúde do oceano (e do planeta em geral): o facto de se assistir hoje a uma dicotomia entre, por um lado, a mobilização dos movimentos de cidadãos que se preocupam com o futuro e que têm começado a surgir para reclamar uma alteração profunda do modelo de desenvolvimento económico em que as nossa sociedades se baseiam e em encontrar soluções para os problemas identificados e, por outro lado, a apatia geral que se observa onde se continua a assistir à destruição do oceano sem que a sociedade se consiga ainda mobilizar de forma eficaz para combater as decisões erradas dos governos, financiadores e empresas. É preciso agir.

Oceano de Esperança é um projeto da VISÃO em parceria com a Rolex, no âmbito da sua iniciativa Perpetual Planet, para dar voz a pessoas e organizações extraordinárias que trabalham para construir um planeta e um futuro mais sustentáveis. Saiba aqui mais sobre esta missão comum.

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