Este número da VISÃO História deveria começar a ser lido pelo último texto, já que é a fotografia o motivo da sua realização. Foi a partir de Tesouros da Fotografia Portuguesa do Século XIX, um projeto do Museu Nacional de Arte Contemporânea Museu do Chiado, que surgiu a ideia de dedicar uma edição à segunda metade do século XIX, mais precisamente a partir de 1839, ano em que foi noticiada a descoberta do processo de fixar as imagens e em que a rainha portuguesa D. Maria II recebeu um fotógrafo francês, que lhe mostrou a nova invenção. O projeto do Museu Nacional de Arte Contemporânea, dividido em duas exposições patentes no Museu do Chiado entre 30 de abril e 28 de junho de 2015, em Lisboa, e na Galeria Municipal Almeida Garrett, no Porto, até 16 de agosto e completado pela publicação de um catálogo, lança um novo olhar sobre a forma como é habitualmente entendida a fotografia e a sua história, reunindo imagens de diferentes acervos, muitas delas expostas pela primeira vez.
Foi a partir desse conjunto de imagens que se construiu este número, agrupando as fotografias por grandes temas a política, os caminhos-de-ferro, as cidades, a cultura, etc. e contextualizando-as historicamente.
Especialistas e investigadores foram convidados para escrever sobre cada um dos assuntos e os principais acontecimentos são lembrados numa cronologia dividida em quatro períodos históricos, espalhadas ao longo do número. Praticamente todas as fotografias desta VISÃO História foram vistas em Lisboa e no Porto.
Agradecemos a todas as entidades que connosco colaboraram e, muito especialmente, a Emília Tavares, curadora de fotografia do MNAC e responsável, juntamente com Margarida Medeiros, pelo projeto Tesouros da Fotografia Portuguesa do Século XIX.
Resta-nos lembrar que foi no século XIX que tudo começou. O universo dos nossos avós ou bisavós não diferia fundamentalmente do nosso, porque era já feito de maquinismos, grandes fábricas, regimes políticos parlamentares, antagonismos so- ciais agudos, jornais diários de grande tiragem, laicismo crescente e a convicção de que nenhuma barreira intransponível impedirá alguém de atingir uma meta, desde que se esforce para isso, seja bafejado pela sorte e não descure as regras do jogo.
Efetivamente, poucas épocas da história assistiram a tantos progressos, quer no plano político-social quer no das conquistas da ciência e da técnica. E quem poderá negar que a possibilidade de podermos reviver através da imagem momentos do passado é uma das maiores conquistas então alcançadas?
Se quiser assinar a VISÃO História, encontra mais informações em http://www.assineja.pt/Detalhe/tabid/111/itemID/VH/IdTipoItem/1/Default.aspx.
Sumário
IMAGENS INICIAIS
CRONOLOGIA: de 1839 a 1851
POLÍTICA Um liberalismo sem democracia?
Depois das invasões napoleónicas e das guerras civis, o País adquiriu uma rotina constitucional. Mas quem exercia o poder? Por Paulo Jorge Fernandes
ULTRAMAR ‘Oceanos indígenas sem limites’
A participação de Portugal na scramble for Africa e o sonho da edificação de “novos brasis” alimentaram um imaginário imperial assente em proclamados “direitos históricos” Por Miguel Bandeira Jerónimo
CRONOLOGIA: de 1852 a 1867
LISBOA Uma capital em transformação
Já vasta nos séculos anteriores, a cidade cresceu ainda mais com o advento do operariado e a necessidade de se impor face à “ameaça” iberista Por Madga Pinheiro
PORTO A ‘Manchester portuguesa’
Em meados do séc. XIX o Porto duplicou de dimensões, com a afluência de populações rurais e o regresso de emigrantes enriquecidos Por Jorge Ricardo Pinto
CRONOLOGIA: de 1868 a 1889
CAMINHOS-DE-FERRO O comboio está de partida
A via férrea aproximou o campo da cidade e o País da Europa. E nada voltaria a ser como antes Por Margarida Magalhães Ramalho
Mapa dos caminhos-de-ferro em janeiro de 1895
MEDICINA Estudar para médico
Com o nascimento das Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e do Porto e a reforma dos estudos em Coimbra, surge uma “geração de ouro” da medicina portuguesa Por João José P. Edward Clode
Fotografar as doenças
CULTURA Meio século a preparar o futuro
Pensando nos intelectuais e criadores, Unamuno chamou “século de ouro português” às últimas décadas de Oitocentos. Mas o futuro seria colhido mais tarde Por Guilherme d’Oliveira Martins
FOTOGRAFIA A civilização das imagens
Será impossível entender a cultura da imagem do séc. XXI sem recuarmos ao distante ano de 1839, quando uma revolução no domínio da representação e da visão do mundo foi anunciada Por Emília Tavares e Margarida Medeiros