A sensação com que chegamos a esta sexta-feira é um misto de enfartamento e de alívio. Enfartamento porque, após dois dias de banquete, novela TAP exibida em direto, em prime time e pela noite dentro, a verdade é que estamos todos necessitados de um jejum, cautela e caldos de galinha nunca fizeram a mal a ninguém, já dizia o ditado. Alívio porque, para um cidadão que respeite e valorize as instituições democráticas, o que temos assistido está longe de poder ser considerado uma ópera-bufa. Dentro e fora do Parlamento, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) à TAP é um espetáculo difícil de se ver, uma tortura angustiante e dolorosa.
Não, as horas infinitas de CPI não dão vontade de rir. São o pântano de todos nós, descredibilizam aquilo que é o nosso maior bem-comum. Beneficiam os que, irresponsavelmente, fazem troça da autoridade e se vanglorizam com o desprestígio das instituições. Há abutres e há quem se alimente do caos. Como todos os dias se multiplicam os que se entusiasmam com as chamas, vem muito a propósito citar o célebre soneto de Sá de Miranda: “Quando farei quando tudo arde?”