Por todo o País há exemplos de gente que gasta os fins de semana a limpar dejetos de ninhos, a construir maternidades para cágados ou a arrancar plantas invasoras. Voluntários do Ambiente que tentam manter a nossa casa em ordem. Eis três casos.
Nova vida para os burros
Numa década, o burro de Miranda passou de animal ignorado a património a conservar.Criada em 2001, para a promoção desta raça autóctone, a Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino, com sede em Miranda do Douro, revitalizou a imagem destes animais e elevou a taxa de natalidade de cinco por ano para uma centena. Mecenas internacionais, o regime de apadrinhamento ou, ainda, as atividades lúdicas com burros têm sido as principais fontes de receitas. Os voluntários também têm dado uma boa ajuda, para a higiene e alimentação. “Por norma, são estudantes de Zootecnia ou da área agrícola”, diz Miguel Nóvoa, 33 anos, funcionário daquela associação.
Aos fins de semana há, igualmente, quem se junte para auxiliar nas pinturas e na construção das instalações que dão guarida a cem burros. Também veterinário, Miguel Nóvoa admite que nem todos têm o perfil certo para colaborar: “Estamos numa região do interior, onde faz muito frio ou muito calor. É preciso estar preparado para isto.”
Cuidar da mata
Durante mais de 20 anos, a Mata Nacional do Buçaco, reservatório de árvores centenárias (cedros, abetos, sequoias, loureiros.), esteve entregue às forças da Natureza. Com um investimento público residual e mal gerido, propagaram-se os sinais de abandono, pondo em risco a saúde do Adernal 14 hectares de um habitat com características únicas na Europa.Criada no ano passado, a Fundação Mata do Buçaco promove, agora, o trabalho de requalificação e manutenção dos 400 hectares de floresta, plantados no século XVII. Boa parte desta tarefa é executada por voluntários, quer cheguem em grupos empresariais quer avancem por iniciativa própria. “Em vez de pedirmos donativos, convidamos os privados a oferecer trabalho”, diz António Franco, 43 anos, presidente daquela fundação. Trabalho braçal, diga-se: limpeza dos caminhos, extermínio das espécies invasoras, como a acácia, ou apanha de sementes.Helena Mergulhão, 58 anos, é voluntária de longa data. Nascida e criada no Luso, a artesã de olaria já participou em recolhas de alimentos, em peditórios, na iniciativa Limpar Portugal e, claro, nas atividades em torno da Mata do Buçaco, que fica nas traseiras da sua casa. “É como se estivesse a tratar do meu jardim. Estou sempre disponível para ajudar.” Mesmo que tenha de ir, de emergência, limpar a devastação deixada por um temporal. “Somos sempre recompensados.”
Salvar os cágados
Compra-se um cágado, dá-se-lhe comida durante uns meses. Entretanto, o animal cresce, perde-se a paciência para mudar a água, o bicho é largado num lago qualquer.E assim começa mais uma praga.Vendido em lojas, o cágado da Florida torna-se numa ameaça para o nosso cágado-de-carapaça-estriada, competindo pelos alimentos e comendo as suas crias.Ana Margarida Carvalho, 25 anos, mudou-se de Lisboa para Olhão, a fim de trabalhar como voluntária num projeto que pretende travar esta invasão. Durante seis meses, a licenciada em Biologia terá a seu cargo os bebés cágados nascidos no Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens (RIAS) do Algarve mais de 40, até agora e a captura dos concorrentes exóticos, que são depois encaminhados para um zoo. “Sei que o RIAS precisa de ajuda e tenho aprendido muito”, relata. Fábia Azevedo, 27 anos, coordenadora do centro, diz que a colaboração dos voluntários é “essencial” para o funcionamento do RIAS que recebe e cuida de outros animais ameaçados e, em particular, deste projeto, em que já estiveram envolvidas 30 pessoas a trabalhar gratuitamente.