“Tenho 56 anos, o meu pai entrou na política aos 58… Hoje não tenho qualquer intenção de o fazer, mas olhando para o futuro, não posso excluir que um dia possa dizer: porque não? Seria um desafio completamente novo.” Com estas palavras, ao aceitar falar sobre a possibilidade de um dia seguir os passos do seu pai na política, Pier Silvio Berlusconi, presidente do conselho de administração da Mediaset – e herdeiro de uma das mais poderosas dinastias mediáticas da Europa –, quebrou um tabu familiar não escrito. Nunca antes um membro da família Berlusconi tinha considerado abertamente a hipótese de entrar na política.O comentário foi feito durante a apresentação anual da nova temporada televisiva da Mediaset, em julho passado, na sede envidraçada da empresa em Cologno Monzese, nos arredores de Milão. Numa sala cheia da elite da televisão italiana, o tom calmo de Berlusconi mudou instantaneamente a atmosfera. O que tinha começado como um ritual empresarial transformou-se numa questão de especulação política. As suas palavras repercutiram-se muito para lá das paredes da empresa, ecoando nas redações e nos talk shows. Comentadores e observadores políticos dissecaram o comentário, vendo-o como uma forma de testar a reação do público, sem assumir um compromisso formal. Com esta declaração, Pier Silvio Berlusconi – presidente executivo da MFE, MediaForEurope, a holding sediada em Amesterdão que controla a Mediaset e opera em Itália, Espanha e Alemanha, com um olho agora em Portugal – posicionou-se mais uma vez na encruzilhada do poder mediático e político. Mas Pier Silvio não é o seu pai. Silvio Berlusconi, o primeiro-ministro italiano do pós-guerra que mais tempo esteve no poder, foi um magnata dos média que transformou a televisão numa arma política e governou o país através do carisma e do espetáculo. O seu filho prefere atuar nos bastidores.

