Séculos após a sua morte, o mistério sobre as origens de Cristóvão Colombo, famoso navegador do século XV, pode ter sido resolvido. Um novo estudo genético, realizado aos restos mortais do explorador, faz os investigadores envolvidos acreditar que Colombo era um judeu sefardita e que – possivelmente – terá nascido na região de Valência, em Espanha.
Há décadas que as origens do navegador têm sido alvo de debate por diversos historiadores que teorizam que o explorador terá nascido na Grécia, Hungria, Polónia, Escandinávia, Portugal ou até mesmo nas ilhas britânicas. No entanto, a teoria que – até agora – gerava mais consenso entre a comunidade científica apontava para Génova, no noroeste da Itália, como o berço do explorador. Agora, a nova investigação não só coloca esta teoria em causa como sugere que Cristóvão Colombo poderá ter sido um judeu sefardita e não cristão, como anteriormente se acreditava.
Judeus sefarditas
O termo “sefardita” – derivado de sefarad – é uma palavra hebraica que se refere aos descendentes de judeus originários da Península Ibérica.
As descobertas foram apresentadas no documentário “Colón ADN, Su Verdadero Origen” (em português: “Colombo ADN, a sua verdadeira origem”), realizado por Regis Francisco López, e emitido este sábado pela estação televisiva espanhola RTVE. A peça, que surge no âmbito das comemorações do Dia Nacional de Espanha, contou com a participação de especialistas em história, genética e genealogia e detalhou todo o processo de investigação sobre os restos mortais de Colombo.
A origem de Colombo
Liderada por José Antonio Lorente, professor da Universidade de Granada, a investigação teve início em 2001 quando o professor, em conjunto com o historiador Marcial Castro, pediu a exumação dos restos mortais de Colombo, enterrados na Catedral de Sevilha, em Espanha.
Durante duas décadas, e com algumas paragens pelo meio, a equipa de Lorente analisou pequenas amostras do material genético comparando-o ao de familiares do explorador: o seu filho – também sepultado na catedral – e o irmão, Diego, sepultado no mosteiro de Cartuja, em Sevilha. As análises confirmaram que os ossos pertenciam, realmente, a Cristóvão Colombo. “Temos ADN de Cristóvão Colombo, muito parcial, mas suficiente. Temos o ADN de Fernando Colón, o seu filho”, explicou Lorente.
De forma a obter os melhores resultados, o ADN foi analisado de duas formas diferentes: nuclear, ou seja, o material genético que se encontra no núcleo das células e que é transmitido por ambos os progenitores; e o ADN mitocondrial, presente nas mitocôndrias e transmitido apenas pela mãe. Segundo o Lorente, tanto o cromossoma Y – transmitido unicamente pelo pai – como o ADN mitocondrial exibiram traços “compatíveis com a origem judaica”. “Tanto no cromossoma Y [masculino] como no ADN mitocondrial [transmitido pela mãe] de Fernando há traços compatíveis com a origem judaica”, refere.
A investigação centrou-se depois na análise de 25 possíveis origens do explorador, incluindo Itália, Suécia, Noruega, Portugal, França, Inglaterra, Escócia, Hungria, Irlanda, Croácia e as regiões espanholas da Galiza, Castela, Catalunha, Valência, Navarra e Maiorca. Os especialistas compararam o ADN dos membros da família Colombo com amostras genéticas dos locais selecionados reduzindo a lista de possibilidades até ao “Mediterrâneo ocidental”, possivelmente Valência. “O ADN indica que a origem de Cristóvão Colombo se situa no Mediterrâneo ocidental”, disse Lorente. “Se não havia judeus em Génova no século XV, a probabilidade de ele ser de lá é mínima. Também não havia uma grande presença judaica no resto da península italiana, o que torna as coisas muito ténues”, refere.
Os investigadores acreditam que Colombo escondeu a sua identidade judaica ou se converteu ao catolicismo para escapar à perseguição religiosa. Uma ideia incompatível com a teoria de que nasceu em Génova, uma vez que os judeus sefarditas foram expulsos dessa região antes do seu nascimento. “Toda a teoria de Colombo ser genovês cai por terra se for aceite que ele era judeu. Esta ideia é insustentável em Itália, porque os judeus foram expulsos de Génova no século XII; não havia comunidade, nem povo, nem sinagoga, nem nada. Só podiam ficar três dias antes de serem obrigados a partir”, explicou Francesco Albardaner, antigo presidente do Centro de Estudos Colombianos de Barcelona, ao El País.
Estima-se que viviam 200 mil judeus em Espanha durante a Idade Média, antes da era dos “Reyes Catolicos”, durante a qual os judeus e muçulmanos foram obrigados a converter-se ao cristianismo ou expulsos da região. Já em Itália, na República de Génova, existiriam apenas 14 mil judeus — e, apesar da Sicília pertencer à Coroa de Aragão – a língua falada era o italiano. O estudo defende ainda não existirem indícios da língua italiana nos textos de Colombo, que se encontram todos em castelhano. “Isto é algo muito estranho e significativo, revelando sequências sobre a sua origem”, refere-se no documentário.
Após os seus projetos de navegação terem sido rejeitados pelo rei português D. João II, Colombo dirigiu-se aos Reis Católicos, em Espanha, onde conseguiu o apoio que procurava para lançar uma expedição de quatro viagens pelo Oceano Atlântico, a partir da década de 1490, com o objetivo de estabelecer um novo caminho para a Ásia. O explorador, no entanto, acabou por desembarcar nas Caraíbas, abrindo caminho para a conquista europeia das Américas.
O local onde foi enterrado
À semelhança do local do seu nascimento, também a localização do seu túmulo suscitou muitas dúvidas ao longo de décadas. Colombo morreu aos 55 anos na cidade espanhola de Valladolid, no norte de Espanha, em 1506. No entanto, antes de morrer expressou o desejo de ser sepultado na ilha de Hispaniola, atualmente dividida entre o Haiti e a República Dominicana, para onde foram levados os seus restos mortais em 1542. Pensa-se que os mesmos acabaram por ser trasladados para Cuba em 1795 e, posteriormente, para Sevilha em 1898.
Contudo, as comparações entre o ADN de Colombo com os restos mortais do filho comprovam que as ossadas no túmulo na Catedral de Sevilha são do explorador. “O resultado é quase absolutamente fiável”, afirmou Lorente.