A Polícia Judiciária (PJ) deteve, esta quinta-feira, no Bairro do Cerco, no Porto, um homem de 26 anos suspeito de esfaquear dois imigrantes naquela cidade, num ataque que as autoridades admitem ter tido motivações racistas.
Segundo avançou o Jornal de Notícias, na madrugada da passada terça-feira, “o homem munido de faca perseguiu marroquinos no Campo 24 de Agosto [freguesia do Bonfim]. Pouco depois, atacou motorista indiano em estação de serviço em São Roque da Lameira [freguesia de Campanhã]”. O ataque nas bombas de gasolina ficou registado nas câmaras de CCTV.
Em comunicado, a PJ explica que o atacante abordou “aleatoriamente alguns cidadãos estrangeiros, com insultos de índole racista”. Munido de uma arma branca , o homem “atacou as vítimas com violência e apoderou-se de alguns dos seus pertences”, acrescenta a nota. Um dos visados acabou por ser ferido com gravidade no tórax, mantendo-se internado na Unidade de Cuidados Intensivos do Hospital de São João.
A PJ localizou e deteve o atacante, um cidadão português, no Bairro do Cerco. De acordo com a polícia, depois destas ações o homem “alterou a sua aparência física e rotinas”. Segundo foi possível apurar, o homem terá rapado o cabelo.
O detido está indiciado por dois crimes de homicídio qualificado na forma tentada, dois crimes de discriminação e incitamento ao ódio e à violência e um crime de roubo. Deve ainda hoje ser presente ao juiz para primeiro interrogatório e aplicação de medidas de coação.
Noite sangrenta
Recorde-se que, no passado mês de maio, a cidade do Porto já tinha sido cenário de um ataque racista contra imigrantes. O caso na madrigada de 3 de maio. A PSP foi alertada, por volta da 1h da manhã desse dia, para uma agressão a dois imigrantes, no Campo 24 de Agosto. O ataque tinha sido protagonizado por um grupo de homens, que conseguira fugir do local antes da chegada dos agentes. As duas vítimas, de nacionalidade marroquina, tiveram de ser transportadas para o Hospital de São João.
Dez minutos passaram, e um grupo com uma dezena de homens, munidos com paus, facas e uma arma de fogo – segundo descreveram, à VISÃO, as testemunhas –, invadiu uma habitação, situada na Rua do Bonfim, agredindo os dez imigrantes que ali residem. De nacionalidades argelina, marroquina e venezuelana, as vítimas ainda tentaram escapar ao ataque, bloqueando, com as camas, as portas dos seus quartos, mas, apanhadas de surpresa, acabariam espancadas. Uma delas, em pânico, tomou a decisão de saltar pela janela, ferindo-se sem gravidade.
Os atacantes, porém, ainda não estavam satisfeitos. Eram 3h da madrugada quando encontraram um novo alvo, também imigrante, que seria agredido na Rua Fernandes Tomás – esta vítima também relata ter visto uma arma de fogo.
Até ao amanhecer, seis atacantes – todos eles de nacionalidade portuguesa – seriam identificados pelas autoridades; todos têm antecedentes criminais, ligados a furtos e roubos, apurou a VISÃO. Ainda nessa noite, um dos detidos terá confessado a “motivação racista” do ataque e ligações ao Grupo 1143 liderado pelo neonazi Mário Machado.