“Como é possível estarmos fechados em casa com tanto para descobrir?”, questiona. Aos 57 anos, Sofia Saldanha não dá sinais de querer parar. Mantém o fascínio pela fotografia, com o propósito de deixar para a posteridade “a beleza e a diversidade de pessoas, além de culturas ancestrais que tendem a desaparecer”. Reconhece ter ficado muitas vezes fora da sua zona de conforto nas suas viagens aos lugares mais inacessíveis do planeta, mas o maior risco, diz, é não ir atrás desta paixão que a realiza tanto.
O ambiente artístico vivido em casa dos pais plantou a semente. Quando era criança, Sofia lembra-se de ficar horas a fio numa espécie de sala escura, criada pelo pai, um entusiasta da fotografia. Mais tarde, durante os primeiros anos do seu casamento e o crescimento dos quatros filhos, a câmara era usada apenas para registos familiares.
Quénia
A revelação
Planeou a viagem às tribos do Norte do país durante vários anos, mas, nas suas pesquisas, Sofia descobriu também uma ilha no oceano Índico, Lamu, cuja cidade velha (com o mesmo nome) está classificada como Património Mundial da Humanidade pela Unesco, a merecer um desvio prévio.“Foi um lugar de passagem de vários povos, por isso, guarda uma mistura de culturas e religiões (apesar de a muçulmana ser maioritária)”, conta. Uma ilha parada no tempo, onde não há automóveis e os burros são usados como meio de transporte. Nem todas as mulheres se vestem como a da foto, com quem comunicou por gestos e que lhe devolveu este olhar profundo.