O YouTube suspendeu a conta do Grupo 1143 de Mário Machado, na sequência de perguntas colocadas à plataforma pelo The New York Times, no âmbito de uma reportagem sobre os efeitos do discurso de ódio racista e xenófobo online. No artigo, o jornal norte-americano destaca como as publicações do grupo português de extrema-direita, em redes sociais como YouTube, X ou Telegram, têm consequências reais, dando como exemplo os ataques, com aparentes motivações racistas, no Porto, no passado mês de maio. O artigo destaca ainda os motins racistas que têm ocorrido no Reino Unido.
Depois de questionada pelos jornalistas em relação à atuação da organização portuguesa, o YouTube decidiu bloquear a conta associada ao Grupo 1143. “Qualquer conteúdo que promova a violência ou encoraje o ódio às pessoas com base em atributos como a etnia ou o estatuto de imigração não é permitido na nossa plataforma”, justificou a empresa. “Estamos empenhados em remover esse conteúdo o mais rapidamente possível”, acrescentou. E assim aconteceu.
O neonazi Mário Machado reagiu a esta decisão, numa publicação na rede social X, acusando a “esquerda mundial” de “tentar silenciar a maior organização nacionalista portuguesa dos últimos 50 anos”.
Um história (extremista) antiga
O Grupo 1143 surgiu, pela primeira vez, nos finais de 2001, fundado por 14 elementos da Juventude Leonina, a principal claque de apoio ao Sporting. Os “carecas” da Juve Leo, como eram conhecidos, reuniam algumas das principais figuras do movimento skinhead português à época, nomes como os de Mário Machado ou Miguel D’Almada, este atualmente a viver no Brasil, acusado pela justiça daquele país de integrar uma organização criminosa transnacional.
A acompanhar o grupo para todo o lado passou a andar um estandarte branco, desfraldado nas bancadas dos estádios, onde se podia ler a frase “Sporting SSempre”, com dois esses que imitavam a estética das SS hitlerianas; nos média da época, relatavam-se agressões dos “carecas” a negros, alguns até adeptos do Sporting. O Grupo 1143 tornou-se viveiro de neonazis, fonte de recrutamento para movimentos extremistas, como os Portugal Hammerskins e a Frente Nacional, entre outros.
As passagens de Mário Machado pela prisão fizeram-no desligar-se deste e de outros projetos. Em outubro de 2023, o neonazi decidiu recuperar o Grupo 1143, passando a usá-lo como “arma” de propaganda anti-islão. Entre novembro e dezembro do ano passado, o grupo organizou encontros em Évora, Sintra e Porto, que contaram com a presença de dezenas de pessoas. Em dezembro, o neonazi revelava a intenção de realizar manifestações “contra a islamização da Europa”, seguindo exemplos de países como Bélgica, Países Baixos, Polónia e Reino Unido.
Em fevereiro e abril deste ano, o Grupo 1143 realizou mesmo duas manifestações, de âmbito nacional, em Lisboa e no Porto, que contaram com a presença de cerca de 200 e 100 participantes, respetivamente.
Ao longo dos últimos meses, o grupo tem procurado alargar a sua base de apoio. Começou por criar mais de 20 núcleos regionais, que se mantêm ativos, sobretudo, na rede social Telegram. Apesar das dificuldades em mobilizar pessoas, alguns destes núcleos têm recebido a chancela de “oficial” – como condição precisam de ter, pelo menos, cinco membros “efetivos”, e o coordenador do núcleo tem de ter participado num encontro “nacional”, e ter o aval do líder Mário Machado. Alguns destes núcleos têm realizado reuniões pontuais (almoços ou jantares).
O objetivo imediato do Grupo 1143 é fazer “uma demonstração de força”, no próximo dia 5 de outubro – data da assinatura do Tratado de Zamora, que reconhece Portugal como nação independente –, numa “grande manifestação”, que está agendada para a cidade de Guimarães.