A avaliar pelo número de clínicas privadas, mais o seu consultório particular, onde atende pacientes, não deve ser muito fácil marcar uma consulta com “Manuel”, 47 anos, um experiente neurocirurgião. O melhor aluno do seu curso, segundo o próprio, está profissionalmente habilitado a realizar desde neurocirurgias intracranianas até laminectomias descompressivas. O seu curriculum público omite, contudo, um dado comum a “João”, 62 anos, servente de pedreiro, beneficiário do Rendimento Social de Inserção (RSI): ambos foram condenados pelo crime de violência doméstica sobre as respetivas mulheres.
Em julgamento, os dois homens (cujas identidades, assim como outras, não serão reveladas de forma a proteger, sobretudo, as vítimas) optaram por caminhos opostos: “João” confessou os factos, reconhecendo o “o seu problema de dependência alcoólica desde idade jovem, afirmando ser consumidor diário de bebidas alcoólicas que o deixavam alterado e agressivo”, de acordo com a sentença do Tribunal de Almada. Por sua vez, “Manuel” “negou, grosso modo, a prática dos factos imputados”, colocando o ónus das desavenças conjugais na sua mulher, que o “insultava e exercia grande pressão psicológica sobre si”, refere a decisão de condenação do Tribunal de Cascais, confirmada em tribunal superior e já transitada em julgado.
José Castelo Branco/Betty Grafstein
Hospital deu primeiro passo
E, de repente, amigos e ex-funcionários do casal José Castelo Branco e Betty Grafstein surgiram em público, relatando ter sempre suspeitado de violência doméstica. Para isso bastou a detenção do socialite, após o internamento da sua mulher. No Hospital CUF Cascais, a empresária, segundo uma denúncia subscrita por médicos e enfermeiros, relatou ter sido empurrada pelo marido, denunciando ainda aos profissionais de saúde que o “comportamento abusivo – físico e psicológico – é recorrente”. Quando deu entrada no hospital, Betty Grafstein estava “prostrada” e num “quadro de astenia” que já durava há dois dias. Na sequência de uma queda, ficou com uma “ferida traumática” no antebraço esquerdo e uma “fratura no fémur direito”. Após a recolha do depoimento da vítima e de vários elementos do hospital, a GNR de Alcabideche acabaria por deter José Castelo Branco no dia 7 de maio. Presente a um juiz de instrução criminal de Sintra, o socialite ficou impedido de contactar Betty Grafstein por qualquer meio e de se aproximar da sua mulher. Esta medida será controlada através de pulseira eletrónica. Após ter sido libertado pelo juiz de instrução de Cascais, José Castelo Branco negou, em várias entrevistas, as suspeitas. Declarou ter transportado a sua mulher para o hospital, porque ela tinha caído “três vezes nesse dia”. “Eu segurava-a e ela caía, tentei deitá-la e ela escorregava. A fratura do fémur terá acontecido no hotel ou depois de eu ter saído de lá? Eu só tive conhecimento da fratura do fémur no dia seguinte, às 20h, pelo diretor de serviço”, adiantou à TVI. Sobre o processo de violência doméstica, Castelo Branco afirmou tratar-se de “uma verdadeira cabala e muito bem armada”, rejeitando, por agora, denunciar quem considera estar por detrás do alegado plano. “Ainda não é altura de dizer, mas há muita gente implicada.”