Em maio do ano passado, a imagem da República Portuguesa foi alterada, e passou a incluir dois retângulos, um verde e outro vermelho, separados por uma bola amarela. Para trás ficaram os sete castelos, as cinco quinas, as chagas e a esfera armilar, sob pretexto da criação de uma imagem mais “inclusiva, plural e laica”, capaz de “responder de forma mais eficaz aos novos contextos, determinados pela sofisticação da comunicação digital, dinâmica e por uma consciência ecológica reforçada”, defendeu o Governo.
O projeto foi desenvolvido pelo professor da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Eduardo Aires, um dos mais consagrados designers mundiais, que assinou também, por exemplo, a renovação da identidade visual da cidade do Porto.
Mas a primeira decisão do governo de Luís Montenegro após tomar posse, há mais de uma semana, foi repor o logotipo da República usado pelo Executivo. “É a primeira medida para mudar estruturalmente Portugal em quatro anos e meio”, justificou o ministro da Presidência, Leitão Amaro.
Agora, numa entrevista ao The Guardian, o criador do antigo logotipo contou que, quase um ano depois, tem enfrentado “ameças de morte”. A decisão de adotar aquela imagem recolheu várias críticas desde o início e, para alguns críticos, esse logotipo, no valor de 74 mil euros, era simplista e infantil.
“A nossa missão era dar uma nova imagem ao logotipo do Governo e redesenhá-lo para a era digital, e foi o que fizemos”, referiu. “As pessoas estão a dizer que uma criança de cinco anos poderia fazer o design no Microsoft Paint. Mas essas pessoas são totalmente ignorantes acerca do design. Em última análise, o design é uma questão de síntese”, acrescentou.
O reconhecido designer disse ainda que a imagem se tornou uma “arma de arremesso” na campanha eleitoral, tendo recebido um “enorme volume de ódio online” de apoiantes de extrema-direita. “O carismático líder [do Chega] André Ventura, que afirma usar cuecas com a imagem da bandeira portuguesa, foi o primeiro a atacar publicamente o novo logotipo como uma ‘negação de toda a história'”, escreve o jornal britânico.