Imaginados pelo empresário australiano Aron D´Souza, que se considera um “atleta ávido e grande defensor da importância do desporto”, os Enhanced Games pretendem ser uma competição desportiva alternativa aos Jogos Olímpicos. Anunciados em junho deste ano – e originalmente planeados para dezembro de 2024 – os jogos estão a causar polémica no mundo do desporto. Isto porque, segundo as regras, os atletas que decidam competir nestes jogos estão livres para utilizarem qualquer tipo de doping e substâncias ilícitas, uma vez que não será feito qualquer tipo de testes antidoping nem serão impedidos de participar nas provas atletas que as tenham consumido.
Na base dos Enhanced Games está a promessa de defender a autonomia dos atletas e a liberdade para escolherem, ou não, utilizar drogas que aumentem o seu rendimento e melhorem o seu desempenho. Os organizadores acreditam que a prática de doping pode tornar as competições mais justas, criticando duramente as restrições atuais nas principais competições desportivas. “Quando utilizada corretamente, a inclusão de melhoramentos de desempenho pode ter efeitos significativamente positivos nos resultados das rotinas de treino e exercício. Em termos simples, os melhoradores de desempenho aumentam os efeitos do treino. O Enhanced está aqui para libertar a ciência e o desporto daqueles que preferem que fiquem algemados”, pode ler-se na sua página online. Atualmente, a utilização de substâncias, como esteroides anabolizantes – que ajudam no aumento de massa muscular ao permitirem aos atletas treinos mais intensivos e uma rápida recuperação – são proibidas em competições desportivas.
No site dos Enhanced Games – cujo lema é “Desportos, sem testes a drogas” – são explicados os objetivos dos jogos, bem como a alegada pertinência dos mesmos para o panorama desportivo atual. O projeto assenta em 5 pilares: encorajar a autonomia do atleta, abraçar o capitalismo, focar no desporto, reutilizar as infraestruturas já existentes, pagar aos atletas de forma justa e quebrar recordes mundiais. Com uma periodicidade anual, os jogos serão compostos por cinco desportos: atletismo, natação, halterofilismo, ginástica e desportos de combate. O pódio também sofre mudanças nesta competição, com um novo sistema de medalhas. Embora sejam atribuídas medalhas aos primeiros classificados, o prémio final será entregue aos atletas que tenham estabelecido novos recordes mundiais.
Em entrevista à CNN Sport, D´Souza confirmou que a organização dos jogos estará bem avançada e que o anúncio sobre as datas da competição pode estar para breve. Quanto ao local, a organização promete rodar anualmente a competição entre várias cidades anfitriãs, de forma a reutilizar as infraestruturas já existentes – utilizando sobretudo estádios desportivos universitários. “A Enhanced realizará jogos de grande impacto, mas com uma boa relação custo-eficácia, para que possamos partilhar os lucros com os atletas, com base num modelo concebido pela Comissão de Atletas Enhanced. Os Enhanced Games serão realizados sem custos para o contribuinte e custarão milhões – e não milhares de milhões – para serem realizados”, lê-se.
Na organização dos jogos estão envolvidos vários ex-atletas olímpicos como David Krasek, Roland Schoeman, Christina Smith e Brett Fraser, diretor de atletas. Em declarações à CNN Sport, o ex-atleta olímpico de natação revelou que a competição conta já com vários participantes incluindo um medalhista olímpico, não revelando, contudo, nenhum nome.
Os criadores dos Enhanced Games assumem também uma clara oposição aos tradicionais Jogos Olímpicos, que apelidam de corruptos e hipócritas. Através de uma “Hall of Shame” – ou “parede da vergonha” em português – são feitas várias acusações e críticas aos principais organismos de desporto mundiais e aos seus dirigentes. “O suborno, a corrupção e a exploração estão enraizados na cultura olímpica – com cada Jogos Olímpicos a revelar mais um caso de licitações de bastidores e de lubrificação das mãos”, lê-se.
Apesar de originalmente anunciados para dezembro de 2024, a data de início da competição permanece um mistério, mas a ideia está a gerar polémica por entre os principais responsáveis de anti-doping e organizações desportivas, preocupados com os perigos que as substâncias podem vir a ter em atletas de alta competição. Quando questionado sobre as responsabilidades caso a competição tenha consequências graves na saúde destes atletas, D’Souza referiu que quem escolher participar nos jogos terá todo o acompanhamento necessário. “Vamos concentrar-nos na segurança dos atletas, exigindo que eles façam exames clínicos completos antes da competição, incluindo exames de sangue e eletrocardiogramas. Isto garantirá que os atletas estão saudáveis para completar a prova e não correm o risco de sofrer complicações de saúde graves”, garantiu.