Quão isolados nos sentimos? Quanto é que a companhia da família e dos amigos contribui para o nosso bem-estar? Durante a pandemia, fomos forçados a cortar nos contactos e sentimos na pele o sofrimento provocado por esse afastamento. Mais do que nunca, valorizamos a importância do relacionamento interpessoal. Ultrapassado (ou quase) esse período difícil, ainda há muitas pessoas a acusar o peso das pobres relações sociais. É o que diz a Gallup, empresa de pesquisa de opinião, no Global State of Social Connections: Quase uma em cada quatro pessoas em todo o mundo – ou seja, mais de mil milhões de pessoas – sente-se muito ou bastante solitária.
O primeiro estudo global sobre solidão, feito em parceria com a Meta (o gigante tecnológico detentor do Facebook), envolveu inquéritos em mais de 142 países, representativos da sua população.
Os dados gerais mostram que as taxas mais baixas de solidão são relatadas entre os adultos mais velhos (com 65 anos ou mais), com 17% se sentindo muito ou bastante solitários, enquanto as taxas mais altas de se sentir sozinho são relatadas entre jovens adultos (19 a 29 anos), com 27% se sentindo muito ou bastante solitário. Números curiosos, se tivermos em conta que os apelos para reduzir o isolamento social costumam estar concentrados nos idosos.
Não se verificaram grandes diferenças de género: resultados globais mostram que 24% dos homens e mulheres relatam sentir-se muito ou bastante sozinhos. Mas existem disparidades entre países, sendo que são mais (79) aqueles em que a taxa de solidão é mais elevada para as mulheres do que para os homens
Nem todos vivem estas agruras. Quarenta e nove por cento dos entrevistados relataram estar bem acompanhados, o que se traduz em aproximadamente 2,2 bilhões de pessoas.
A 1 de novembro serão revelados mais pormenores sobre o relatório, explorando como as conexões sociais diferem entre países. “Compreender as diferenças na forma como as pessoas experimentam – ou não experimentam – a solidão em todo o mundo pode levar a novos caminhos para mitigar a solidão e melhorar o bem-estar social das comunidades”, afirma a Gallup. Este ano, Vivek Murthy, o cirurgião-geral dos EUA – um cargo comparável aos diretores-gerais de Saúde em Portugal – declarou existir uma pandemia da solidão neste país.
Malefícios da solidão
A ciência diz-nos que a solidão está associada à pioria das condições de saúde física e mental – um estudo comparava os danos da solidão persistente ao consumo de 15 cigarros por dia – nomeadamente, a um risco acentuado de doenças cardiovasculares, hipertensão, sistema imunológico enfraquecido, diabetes, infeções, declínio cognitivo, depressão e ansiedade. Existem fatores de risco, como a pobreza ou pressões financeiras limitadoras do convívio, doenças mentais, ou a fraca mobilidade e acessibilidade.
Um estudo feito em Portugal com mais de 1200 pessoas entre os 50 e os 101 anos, divulgado pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), que também teve como foco a solidão, concluiu que: 20,4% dos solitários são mulheres e 7,3% são homens; as pessoas com menor escolaridade apresentam mais solidão (25,8%); o sentimento de solidão aumenta com a idade (9,9% dos 50-64 anos; 26,8% com 85 anos ou mais); esta é mais frequente nas pessoas viúvas (30,6%) e nas pessoas solteiras (15,8%) do que em pessoas casadas (9,2%). De acordo com o último Censos, na última década, o número de pessoas a viver sozinhas aumentou 18%. São agora 1.027.871, representando quase 25% do total de famílias.
Todos podemos ajudar a combater a solidão. O SNS dá alguns conselhos:
– convide um amigo, vizinho ou colega para beber um café e conversar
– procure manter relações sociais autênticas com os colegas de trabalho, mostrando interesse pela sua vida pessoal
– partilhe informação sobre iniciativas na sua comunidade
– quando não houver proximidade com a outra pessoa, envie uma mensagem de olá ou bata à porta de sua casa
– incentive o convívio entre pessoas que moram sozinhas
– fomente novas tecnologias de comunicação que proporcionem a comunicação e convívio à distância, por exemplo, através das redes sociais