Paul Landis, um ex-agente dos Serviço Secretos, agora com 88 anos, que testemunhou a morte do presidente americano de perto, diz num livro de memórias a ser publicado em novembro, que retirou uma bala do carro depois de Kennedy ter sido baleado e que a deixou na maca do ex-presidente no hospital.
No dia 22 de novembro assinalam-se os 60 anos da morte de Kennedy, um dos acontecimentos mais escrutinados dos EUA que deu origem a muitas teorias da conspiração sobre o número de atiradores envolvidos e quantas balas terão sido disparadas.
O livro The Final Witness” (A Derradeira Testemunha, numa tradução livre) promete acrescentar mais uma acha na fogueira das conspirações.
“Esta é realmente a notícia mais significativa sobre o assassinato desde 1963”, disse James Robenalt, historiador e especialista em Kennedy que trabalhou com Paul Landis na preparação das revelações do livro.
Os factos oficiais em relação ao assassinato de Kennedy são conhecidos: A 22 de novembro de 1963, uma limousine descapotável que transportava o presidente Kennedy, a primeira-dama Jackie Kennedy e o governador do Texas e a sua mulher, passava por Dealey Plaza, em Dallas, quando foram disparados tiros.
Kennedy foi atingido na cabeça e no pescoço, e o governador foi atingido nas costas. Kennedy foi declarado morto pouco depois, o governador sobreviveu.
O relatório da Comissão Warren, que passou o acontecimento a pente fino, identificou Lee Harvey Oswald como o único atirador. Oswald seria baleado e morto logo após o assassinato, enquanto estava sob custódia policial.

O relatório concluiu, também, que uma única bala passou por Kennedy e atingiu Connally, causando vários feridos. A descoberta ficou conhecida como “teoria da bala única” ou “teoria da bala mágica”.
Muitos reagiram com ceticismo sobre esta teoria, pondo em causa que uma única bala pudesse ter causado tantos ferimentos a dois homens.
O novo relato do Paul Landis fornece um novo testemunho em primeira mão e também complica um pouco a teoria da bala única.
O que diz Paul Landis
No dia do assassinato, Landis, então com 28 anos, foi destacado para proteger Jackie Kennedy.
Quando tudo começou em Dealey Plaza, quando Landis estava a poucos metros do presidente Kennedy e testemunhou o tiro na cabeça. O que fez a seguir, no meio de toda a confusão instalada, apenas contou a uns poucos confidentes durante as últimas seis décadas.
Numa entrevista ao The New York Times disse que, depois da comitiva chegar ao hospital, viu uma bala no carro, atrás do lugar onde estava sentado o presidente. Pegou no progétil e guardou-o no bolso. Pouco depois, segundo se recorda, e quando se encontrava no hospital onde estava Kennedy, colocou a bala na maca do presidente para que as provas ficassem ao lado do corpo.
“Estava com medo – percebi imediatamente que era uma prova”, contou ao New York Times. “Não queria que desaparecesse ou se perdesse.”
Aparentemente, Landis nunca entregou esta prova e, embora tenha apresentado relatórios e declarações imediatamente após o crime, a Comissão Warren nunca falou com ele.
A bala misteriosa
Aqueles que leram o relato de Landis tiraram conclusões diferentes. James Robenalt disse à BBC acreditar que este relato põe em causa a teoria da “bala única”. Landis acredita que a bala atingiu superficialmente as costas de Kennedy e caiu no carro.
Se este testemunho estiver certo, disse Robenalt, o governador e Kennedy podem não ter sido atingidos pela mesma bala.
Se não tivesse sido uma única bala que causou os ferimentos aos dois homens, pergunta Robenalt num artigo na revista Vanity Fair, será que Oswald poderia ter disparado os dois tiros de forma tão rápida com a espingarda que usou?

Clint Hill, o agente que ficou famoso por saltar para a traseira do carro de Kennedy para proteger o presidente, não acredita no relato de Landis.
“Se ele verificasse todas as evidências, as declarações feitas e as coisas que aconteceram, elas não se alinhavam”, disse Hill à NBC News. “Não faz sentido para mim que ele esteja a tentar colocar uma bala na maca do presidente.”
Gerald Posner, jornalista de investigação e autor do livro Caso encerrado: Lee Harvey Oswald e o assassinato de JFK, apontou para as várias entrevistas que foram feitas às pessoas que estiveram na sala do hospital onde estava Kennedy, nenhuma delas mencionou a presença do, então agente, Paul Landis, ali.
Se Landis pôs ou não a bala na maca será, porventura, mais um mistério para resolver. Como diz Gerald Posner, “para a maioria das pessoas, este caso nunca estará encerrado”.