No rescaldo da Jornada Mundial da Juventude, o humorista António Raminhos escreveu na sua página de Instagram: “Não interessam para porra nenhuma as palavras do Papa ou as críticas dos opositores ou o ignorar o evento se tudo cair em saco roto”.
“Gostaram das palavras do Papa sobre igualdade e amor entre todos? Levem-nas para os vossos dias e mudem padrões de pensamento que se calhar já não fazem sentido. Criticaram os gastos da câmara no evento quando há gente a morrer à fome? Juntem-se a uma associação de voluntários no vosso bairro ou procurem saber o que podem fazer mais…Ignoraram o evento? Mas se calhar não ignorem aquela vizinha que está sempre sozinha ou o bom dia que podem dar logo pela manhã”, lê-se numa publicação feita este domingo, dia 6.
A mensagem foi partilhada por vários seguidores que se reviram nestas palavras e chegou à deputada municipal do PSD em Lisboa, Sofia Vala Rocha. No Twitter, publicou um vídeo a criticar o humorista.
“Acabei de ler que o António Raminhos fez uma denúncia no Instagram a dizer que a Câmara Municipal de Lisboa não devia ter gasto tanto dinheiro, porque há gente a morrer de fome em Lisboa”, diz, acrescentando “e eu, como autarca eleita, fiquei muito preocupada. Eu gostava mesmo que o António Raminhos dissesse em que freguesia de Lisboa, ou do país, há gente a morrer de fome, porque nós vamos para lá, vamos ver o que se passa”. Sofia Vala Rocha remata com “é urgente, precisamos de ajudar estas pessoas”
Ao ver este discurso que considerou ser de um “registo passivo-agressivo-sarcástico”, Nuno Markl comentou na publicação de Raminhos: “Extraordinário o discurso daquela autarca eleita de cor de rosa que não percebeu um milímetro deste teu post, mostrando sérios problemas ao nível da leitura e interpretação”, escreve.
“Acho que ela é a melhor ilustração dos tempos correntes: ler a correr, opinar – e não interessa se for tudo errado, o que interessa é marcar o território, nem que seja com estupidez. Mas acho que alguém devia mostrar à senhora, de facto, onde é que se passa fome”, lê-se.
Não ficando indiferente, a deputada respondeu que “a senhora de cor de rosa tem nome” e “como lê bem e interpreta bem, percebe que no post a única entidade que lá vem referida é a câmara de Lisboa. O que é deveras extraordinário quando o evento também é do governo”.
Sofia Vala Rocha acrescenta: “Aliás, foi o António Costa e o Fernando Medina que decidiram o evento. Mas esses factos são artisticamente omitidos. Quanto à situação de miséria e pobreza do país, estou de acordo convosco. Mas atribuam-na ao PS que governa o país desde 2015 e Lisboa de 2007 a 2021. Agora, juntar sibilinamente, a câmara e gente a morrer de fome, não é má comédia, é só o mais torpe seguidismo”.
A deputada não se ficou pelo comentário e volta a escrever no seu Twitter: “Não há ninguém que proporcione um debate entre mim e o António Raminhos e o Nuno Markl para falarmos da pobreza do país? Mas assim cara a cara, não é atrás de um teclado que assim são todos muito valentes…logo eu que gosto tanto de debater e não tenho medo…”
O humorista da crónica “O Homem que Mordeu o Cão”, utilizando as palavras de Sofia Vala Rocha, escreve: “Bem, eu não queria mas vou ter de falar disto, porque isto tornou-se uma das “polémicas” mais surreais do pós-Maria Vieira”. Numa publicação no seu Instagram reforça a sua posição e a de Raminhos: “Não há uma única altura em que o Raminhos faça “uma denúncia a dizer que não devia ter sido gasto tanto dinheiro”. O Raminhos fala nas pessoas que disseram que não devia ter sido gasto tanto dinheiro, sugerindo que se juntem a uma associação de voluntários. O que é uma mensagem bonita e valiosa”, lê-se.
“A Sofia – que continua a não perceber o que o Raminhos escreveu – e porque fui comentar o caso ao Instagram dele, prossegue a polémica que ela própria criou, dizendo que quer que vamos os três a um podcast debater a pobreza. Sofia, mas como podemos debater o que quer que seja quando esta polémica está baseada numa má leitura e interpretação de um texto?”, questiona.
A mais recente atualização da polémica aconteceu já na madrugada desta terça-feira, quando Sofia Vala Rocha publicou no Twitter um excerto de um discurso seu sobre a violência online, acompanhada da frase: “O Nuno Markl chamou-me “ senhora de cor de rosa”. É o machismo do bem…é a misoginia chique de esquerda”.
Ainda na publicação do humurista, a deputada comenta: “O Nuno Markl está a mentir. É mentira. No vídeo eu peço que me digam onde estão pessoas a morrer de fome em Lisboa, não peço que me digam onde está a pobreza em Lisboa porque isso eu sei. Sabia em 2009 quando fiz parte da candidatura de Santana Lopes. Sabia em 2013 quando fiz parte da candidatura de Fernando seara, em 2017 com Teresa leal coelho e em 2021 com Carlos Moedas”, refere.
“Mas nessa altura não havia pobreza para si nem para o Raminhos porque apoiavam António Costa e Fernando Medina. E apesar de eu ser PSD e considerar que há demasiada pobreza em Portugal, uma coisa eu sei: não há gente a morrer à fome e o v/activisno mal disfarçado, tem o rabo de fora”, conclui.
Artigo atualizado às 15h para incluir reação de Sofia Vala Rocha à publicação de Nuno Markl