Há 15 anos, Ana Borges, a jogadora da Seleção Nacional de Futebol Feminino que mais vezes vestiu a camisola das quinas (159), acertou à distância a sua transferência para o campeonato espanhol. Natural de Vinhó, uma aldeia do concelho de Gouveia, a então jovem promissora deu nas vistas ao serviço da Fundação Laura Santos, clube da aldeia vizinha de Moimenta da Serra que integrava o principal escalão do futebol feminino em Portugal. Daí à seleção de sub-19 foi um passo, o que viria a despertar o interesse dos espanhóis do Saragoça. Através da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), um diretor da equipa estabeleceu contacto direto com ela, “sempre por email”, e fecharam assim o acordo, por €300 mensais.
Ao contrário do que acontecia em Espanha, à época nenhuma mulher era profissional de futebol deste lado da fronteira. Jogava-se, maioritariamente, em campos “pelados”, de terra batida, com treinos ao fim do dia, depois das aulas ou do trabalho, a troco de subsídios de transporte, equipamentos lavados e, por vezes, nem isso. À beira dos 18 anos, Ana Borges não hesitou. “Como não sabia se algum dia voltaria a ter uma oportunidade destas, fui de cabeça”, recorda, acrescentando que só conseguiu convencer os pais, receosos com a eventualidade de acabar a ser explorada, quando lhes disse “que havia mão da federação e que estavam lá mais duas portuguesas” – no caso, Edite Fernandes e Sónia Matias, duas pioneiras nestas andanças pelo estrangeiro.