Era uma vez um jovem que queria mudar o mundo. Com 16 anos vê uns tipos mais velhos a distribuir panfletos à porta da sua escola e toma ali a decisão: vai-se juntar a uma juventude partidária. Vai à primeira reunião e acha piada. Discute uns assuntos do momento com pessoas que lhe parecem interessantes. No final, batem todos no peito pela causa da moda. Podem ser os prisioneiros políticos do Pirguistão, a desflorestação do Saara Oriental, a libertação do povo oprimido da República da Cargadónia ou a falta de emprego de doutorados. Não há problema que aquele grupo não seja capaz de resolver com minutos de silêncio, indignação em grupos de WhatsApp, discursos inflamados e petições online. Na escola, o jovem é um bully, mas ali sente-se uma boa pessoa capaz de mudar o mundo. Depois das reuniões onde planeiam mudar o mundo, seguem-se noites de copos. O jovem encontrou o seu grupo para saídas à noite. Têm de trazer mais miúdas para o partido, dizem os colegas da Jota. Ele também não conhece muitas, nisso não poderá ajudar.

Em breve haverá eleições para a Associação de Estudantes da escola secundária.Não temos mais ninguém na tua escola, dizem os mais velhos, não te queres candidatar? A Jota dá-lhe uns autocolantes e diz-lhe como se faz. Ele convida uns amigos e garante que a Jota os ajudará a conquistar o poder na escola. O primeiro passo para salvar o mundo está ali. Os amigos ficam atraídos pela possibilidade de terem a sala da associação só para eles. É verdade que a intenção é dar o primeiro passo para salvar o mundo, mas ter uma sala só para si e desconto na viagem de finalistas também nunca fez mal a ninguém. Eles passam a campanha garantindo que vão exigir uma série de coisas à direção da escola, mas o que realmente ganha a eleição é a contratação de uma microcelebridade do YouTube, amiga de um primo que aceitou fazer uma presença num evento de campanha a troco de umas poucas centenas de euros. O jovem ganhou as suas primeiras eleições. Está lançado.