Um lápis ornamentado a prata, que terá sido oferecido por Eva Braun a Adolf Hitler no dia do seu 52º aniversário, é um dos dez objetos ligados ao líder da Alemanha Nazi que vão a leilão no dia 6 de junho, em Belfast, na Irlanda do Norte.
A Associação Judaica Europeia (AJE) apelou à leiloeira Bloomfield Auctions para desistir da ideia de vender tais itens, “metaforicamente encharcados de sangue”, mas o pedido foi recusado com o argumento da sua importância histórica.
Além do lápis, que tem gravada a data de 20 de abril de 1941, o nome Eva e as iniciais AH, de Adolf Hitler, será leiloada uma fotografia do ditador que instigou a Segunda Guerra Mundial assinada pelo próprio, entre outros objetos que terão pertencido ao seu serviço de mesa, como uma travessa de prata, um jarro de porcelana ou um copo de champanhe de cristal de chumbo. “Não conseguimos entender como uma bugiganga de amor como um lápis gravado ou uma fotografia assinada constituem objetos de qualquer valor histórico”, escreveu o rabino Menachem Margolin, que preside à AJE, numa carta dirigida ao diretor da leiloeira, Karl Bennett, na tentativa de o demover da iniciativa.
Garantindo “total apoio” à exposição em museus de “itens de interesse histórico genuíno”, Margolin insurge-se contra o “comércio macabro de objetos pertencentes a assassinos em massa”, não apenas porque se desconhecem os motivos dos compradores, que podem passar “pela glorificação dos nazis”, mas também porque “é um insulto aos milhões que morreram, aos sobreviventes que ainda vivem e a todos os judeus”.
Karl Bennett, da Bloomfield Auctions, tem outra visão. Citado pelo Belfast Telegraph, o responsável alega, por exemplo, que “a importância do lápis pessoal gravado de Hitler reside no facto de ajudar a desvendar um pedaço oculto da história, dando uma visão única das relações pessoais de Hitler, que ele manteve escrupulosamente escondidas dos olhos do público”.
Já antes, a leiloeira tinha defendido, através de comunicado, o valor histórico “de todos os itens” a serem leiloados na quinta-feira, 6 de junho, aniversário do Dia D – o dia do desembarque dos soldados aliados na Normandia, numa opção estratégica que viria a revelar-se decisiva para a libertação da Europa do jugo nazi.
Quanto aos compradores, a Bloomfield Auctions argumenta que, por norma, “são colecionadores com interesse na Segunda Guerra Mundial ou em história militar”. O lápis que em tempos pertenceu a Hitler estava na posse de um colecionador e respetiva família desde que ele o adquiriu num leilão, em 2002. Muitos destes itens do Terceiro Reich foram pilhados após a sua capitulação, em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, e são negociados em leilões.
Segundo o The Guardian, a Bloomfield Auctions viu-se obrigada a cancelar um desses leilões de objetos nazis em 2019, na sequência de protestos. Desta vez, tudo indica que será realizado. Ao contrário da Alemanha e da Áustria, o Reino Unido não proíbe os leilões de itens datados desse período negro da história recente da Europa.