Pedir desculpa é essencial e garante que as relações se mantenham mais saudáveis. Contudo, há muitas pessoas que resistem a fazê-lo, não só por orgulho mas também por medo de não conseguirem expressar-se da melhor forma.
Existem vários motivos, justificados pela psicologia, que levam as pessoas a resistirem ou evitarem pedir desculpa, inclusive o facto de poder ser um momento desconfortável para os envolvidos ou por se achar que esse pedido não vai resultar. Contudo, os especialistas defendem que o ato de pedir desculpa é muito benéfico para as duas partes, ajudando, até, em alguns casos, a diminuir a ansiedade e stress e a melhorar a saúde mental.
“Não é muito saudável ficar preso à vergonha e à culpa e não tentar lidar com as suas emoções em relação a comportamentos negativos que cometeu”, diz, em declarações à TIME, Karina Schumann, professora de psicologia na Universidade de Pittsburgh, em Pittsburgh, Pensilvânia, EUA.
Além disso, de acordo com algumas investigações, também para quem recebe o pedido de desculpas os benefícios a nível cardíaco podem ser notórios, nomeadamente no que diz respeito aos valores da pressão arterial e frequência cardíaca.
Por isso mesmo, é importante fazermos, sempre que for necessário, um pedido de desculpas honesto e sem pressas, mesmo que não se consiga prever o comportamento do outro, garantindo à pessoa que percebemos exatamente o que fizemos de errado. Cindy Frantz, especialista em psicologia social no Oberlin College and Conservatory, no Ohio, Estados Unidos, explica que “pode haver uma tentação de pedir desculpa rapidamente”, “um esforço de encerrar todo o incidente e seguir em frente”. E isto, apesar de ser positivo para a pessoa que pede desculpa, é negativo para a “vítima”.
Pode ser importante, até, ouvir primeiro o outro lado antes de fazer um pedido de desculpas, como uma forma de demonstrar empatia pela pessoa e por tudo o que está a sentir.
Além disso, os especialistas aconselham a que se usem palavras e expressões específicas como “Peço desculpa” ou “Lamento muito”, em vez de “estou arrependido” e “sinto-me mal com o que aconteceu”, já que as últimas podem ser interpretadas como não desculpas e direcionam o foco para a pessoa que está a pedir desculpa e não para os sentimentos da outra pessoa. “Têm os contornos vagos de um pedido de desculpas, mas na verdade não chegam lá”, afirma, por seu lado, Marjorie Ingall, co-autora do livro Sorry, Sorry, Sorry: The Case for Good Apologies (à venda por 23,84€). “Proibidas” também são expressões como “peço desculpa se te sentiste ofendido”.
Além disso, há especialistas que defendem que o pedido de desculpas pode ser feito, sim, através de uma mensagem de texto, caso o assunto não seja de grande gravidade; já os e-mails podem ser enviados se a situação for mais tensa. “Se acha que estragou tudo, existe algo muito poderoso num selo, um belo papel de carta e uma caneta”, diz Ingall, acrescentando que pedir desculpa “é um ato de coragem, porque estamos a superar todos os nossos instintos animais e toda a nossa autoproteção quando o fazemos”.
E fazer um pedido de desculpas nas redes sociais, é válido? Não, explicam os especialistas, já que pode ser humilhante para todos os envolvidos.
Ingall alerta também para a importância de darmos ao outro a oportunidade de “fuga”, ou seja, não o fazermos sentir pressionado com alguma resposta no momento, quando estamos a pedir desculpa. Neste sentido, também é importante assumirmos a responsabilidade do que fizemos de negativo, mesmo que sintamos que a outra pessoa também falhou. Schumann explica que a vontade de acusar o outro é “normal, porque queremos contextualizar o nosso comportamento e chamar a atenção para o facto de que também estamos magoados”.
Contudo, garante, é importante que as pessoas se concentrem em assumir a responsabilidade pelas partes do conflito pelas quais são responsáveis, e evitarem dizer coisas como “sinto muito por ter feito isto, mas tu também fizeste aquilo”. O “mas” não é, de todo, uma palavra que deva ser utilizada num discurso que envolva um pedido desculpas, tal como o “se” (“Peço desculpa se alguém ficou ofendido”, por exemplo). E utilizar as palavras “eu” e “meu” também pode ser uma boa maneira de as pessoas perceberem que estamos, de facto, a assumir responsabilidades pelo que fizemos.
“Às vezes, pode não conseguir consertar o que fez, mas pode pensar no futuro do relacionamento”, explica ainda Schumann, acrescentando ser muito importante para a outra pessoa “ouvir” que o comportamento vai ser diferente, que pode haver confiança numa mudança, e que terá todo o tempo que precisar para recuperar daquilo que está a sentir de negativo.