É uma tendência que se confirma: há cada vez menos portugueses a candidatarem-se à carreira de polícia. O recrutamento extraordinário da PSP, lançado no início deste mês, pretendia colmatar o baixo número de formandos, que se mantêm no curso que teve início em dezembro – e ainda decorre, em Torres Novas –, mas para este concurso acabou por haver apenas 3.000 candidatos, menos 500 do que no processo anterior.
Oficialmente, a PSP ainda não divulgou estes números. Mas, à VISÃO, fonte ligada ao processo confirma “uma tendência de queda, em comparação com os concursos anteriores”, depois do fecho das inscrições, na passada 2.ª feira, 27.
No último concurso, aberto no ano passado, tinham-se candidatado 3.500 pessoas para 1.020 vagas. Na altura, foram validadas 2.500 inscrições, mas a maior parte dos candidatos acabaria por chumbar ou desistir logo na 2.ª fase do processo. Apesar de disponíveis 1.020 vagas, apenas 648 candidatos ingressariam no curso, que teve início em dezembro, e que ainda decorre na Escola Prática de Polícia, em Torres Novas. Pior: volvidos três meses, apenas cerca de 580 formandos se mantêm no curso, o que significa que, para já, pelo menos, 43% das vagas previstas vão ficar por preencher.
Curso que decorre em Torres Novas já só tem 580 elementos para 1.020 vagas, o que representa que, pelos menos 43% das vagas vão ficar por preencher
O afastamento da população mais jovem da polícia é uma tendência que tem vindo a acentuar-se, ao longo dos últimos anos, o que até levou a PSP a redefinir os critérios para a entrada de novos agentes, “aligeirando” algumas regras.
Perante o cenário negativo do último concurso, a PSP tinha recebido “luz verde” para abrir novo processo para a “constituição de reserva de recrutamento para a admissão ao curso de formação de agentes de polícia”, como anunciou a instituição, no seu site e redes sociais, no passado dia 6 de março. Passados 20 dias, concluída esta 1.ª fase, os números revelam que as expectativas voltaram a ficar muito aquém. “É uma desilusão, e é bastante preocupante”, diz, à VISÃO, a mesma fonte.
Alteração das regras foi insuficiente
O pessimismo parece maior, uma vez que estes dois últimos processos recrutamento já contaram com medidas que pretendiam contribuir para aumentar o número de candidatos. A idade mínima permitida para concorrer passou dos 19 para os 18 anos, enquanto a máxima passou dos 27 para os 30. Aos candidatos também passou a ser permitido que ainda estivessem a frequentar o 12.º ano, na altura da inscrição, desde que o pudessem concluir antes do início do curso de formação para agente da PSP.
Outras medidas também foram colocadas em prática: como alterações aos critérios para a avaliação das provas teóricas e físicas, dos testes psicológicos, das entrevistas de seleção ou dos exames médicos.
Mesmo com uma promoção (mais) agressiva, nas redes sociais, a PSP voltou a confirmar “a falta de atratividade” da profissão, que a direção nacional, liderada por Magina da Silva, tem vindo a alertar e lamentar desde que tomou posse, em 2020.
Sindicato pede aumento dos salários
Contactado pela VISÃO, Paulo Santos, presidente da Associação Sindical. dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), lamenta “a falta de atratividade” que, segundo o próprio, resulta “dos baixos salários, falta de mobilidade interna e constante perda de direitos e condições laborais, ao longo dos últimos anos, por parte dos agentes da PSP”.
Confrontado com estes números, o líder do principal sindicato da PSP admite que “não fica surpreendido”, remetendo mais explicações “para o Ministério da Administração Interna (MAI) e para a direção nacional da PSP”.
“O mais importante, neste momento, é garantir a dignificação da carreira e boas condições de trabalho na PSP, só assim será possível alterar esta tendência. Isso só pode ser feito, neste momento, depois de o MAI abrir um processo nacional que permita atualizar, de imediato, as tabelas salariais da PSP”, diz Paulo Santos.