Para muitos, ter uma casa é mais do que ter um teto e fazem questão que esta seja representativa da sua identidade, profissão, ou arte. A minimização do impacto ambiental é também, em alguns casos, uma preocupação à cabeça. O resultado, esse, é muitas vezes, invulgar e criativo.
Um avião no meio da floresta
Bruce Campbell vive num Boeing 727 em Hillsboro, no estado do Oregon, nos Estados Unidos da América. Segundo o engenheiro elétrico, de 73 anos, a aeronave, da Olympic Airways, foi utilizada para transportar os restos mortais do magnata Aristóteles Onassis em 1975.
O projeto de reconversão do avião custou-lhe 220 mil dólares no final da década de 1990 e demorou dois anos até ficar pronto. Com uma área de aproximadamente 100 metros quadrados, a aeronave tem um chuveiro, um lavatório, uma máquina de lavar e um frigorífico. Bruce Campbell ocupa o seu tempo com manutenção da “casa”, com a reparação de computadores antigos e com as visitas que recebe regularmente de turistas e curiosos. Campbell até oferece alojamento gratuito na sua propriedade e, no verão, organiza eventos públicos de maior dimensão em que bandas musicais atuam na asa direita do avião. Na sua página de internet encontra-se uma lista detalhada do processo de visita, com Bruce a declarar-se disponível para receber curiosos e a insistir que não lhe paguem pela hospitalidade.
As despesas mensais de Campbell rondam os 370 dólares (cerca de 340 euros): 220 dólares em impostos e o resto em eletricidade e outros serviços. “Os aviões reformados são cápsulas de pressão de alta tecnologia, profundamente bem concebidos, que podem suportar ventos de 257 quilómetros/hora e sete forças de aceleração G com facilidade, podem durar séculos (com controlo eficaz da corrosão), são extremamente resistentes ao fogo, e proporcionam uma segurança superior. Estão entre as melhores estruturas que a humanidade alguma vez construiu”, lê-se, no seu site.
Campbell divide o seu tempo entre os EUA e o Japão e a sua esperança é, um dia, ter um avião de “segunda casa” na cidade de Miyazaki. Em 2018 quase comprou esse segundo avião, um Boeing 747, mas o negócio não foi a avante. “Tivemos de colocar o projeto em espera e continua assim até hoje”, diz à CNN.
E conclui, à CNBC, que acha que a sua forma de vida tem potencial para se multiplicar: “Na minha experiência, com os meus convidados, acredito que a humanidade abraçará amplamente esta visão para que possamos reutilizar cada jato que se reforme.”
Dois aviões à beira da estrada
Há mais de dez anos, que Joe Axline vive num avião de modelo MD-80, estacionado na cidade de Brookshire, no Texas, também nos EUA. Depois de um divórcio, Axline dedicou-se à transformação desta aeronave, instalando um sistema elétrico à prova de água, isolamento térmico, saneamento e luzes ambiente. Decidiu chamar ao empreendimento “Projeto Liberdade”, depois de um amigo ter sugerido que o seu divórcio lhe deu finalmente a liberdade para realizar o seu sonho de vida de se mudar para um avião.
O MD-80 tem um quarto principal, sala de estar e dois quartos mais pequenos onde chegaram a morar os filhos. “O meu quarto principal tem 3 metros por 18 (…). A minha sala de estar é de bom tamanho, a sala de jantar tem quatro lugares, e posso cozinhar comida suficiente para um grupo inteiro. Também tenho um chuveiro e uma sanita, por isso não tenho de sair do avião para ir à casa de banho. A única coisa que não tenho aqui e que teria numa casa são janelas que se abrem”, explica à CNN.
Joe Axline impressiona a cidade de Brookshire, não só por viver num avião, mas por ter ainda um segundo na sua propriedade – um modelo DC-9 que planeia equipar com um cinema e um espaço para concertos.
“Antes de iniciar o meu projeto, andei com um livro durante um ano, cheio de ideias. Muitos dos meus amigos disseram-me para não o fazer porque era um desperdício de dinheiro e disseram-me para comprar uma casa. Eu poderia ter feito isso, mas para quê? A vida é sobre a viagem, não sobre o destino”, reitera à Newsweek.