Falou com a VISÃO uns dias antes do Natal, numa conversa telefónica a partir de Bombaim, onde se encontra a trabalhar e a viajar. Depois da adaptação de Sapiens a novela gráfica, seguindo uma das tendências editoriais do momento, o israelita Yuval Noah Harari dedica-se a Indomáveis, um projeto dirigido sobretudo ao público juvenil mas que editoras de todo o mundo têm apresentado como sendo para leitores dos 9 aos 99 anos. Ao primeiro volume, Indomáveis: Como Tomámos Conta do Mundo (Booksmile, 176 págs., €16,65), lançado em Portugal no final do ano, seguir-se-ão outros três: o segundo tratará da revolução agrícola e do surgimento das primeiras cidades, o terceiro cobrirá as grandes religiões e o último será dedicado à era moderna. Em entrevista à VISÃO, Harari explica por que razão considera que é importante as crianças e os jovens tomarem contacto com a História da Humanidade, o que, bem vistas as coisas, não é muito diferente do motivo pelo qual também se tem dedicado a despertar as consciências dos adultos. Uma entrevista sobre o estado do mundo e a importância de conhecer o passado para resolver os principais dilemas do futuro: da democracia às alterações climáticas, da pobreza à tecnologia. “A escolha é nossa”, diz o autor best-seller, no seu estilo claro, direto e provocador.
Defende que, comparativamente a outros animais, os seres humanos têm um superpoder. Que poder é esse?
Temos de compreender que não somos superiores aos outros animais. Se me compararem a um só animal, um chimpanzé, um touro ou um porco, não sou mais forte do que ele. O que, enquanto seres humanos, nos torna muito mais poderosos é, isso sim, a capacidade que temos de cooperar uns com os outros em larga escala. Os chimpanzés até conseguem cooperar, uns 12 chimpanzés, por exemplo, mas os seres humanos cooperam com milhões de pessoas – e o que torna isso possível é a nossa capacidade de contar histórias.