O que começou por ser um blogue de venda de produtos na internet caminha a passos largos para se tornar uma plataforma online com mais de mil lojas só de marcas portuguesas. Um centro comercial virtual gigante, apenas com produtos nacionais diferenciados e muitos de fabrico artesanal – ou uma espécie de “Amazon do comércio local”, como brinca, “com toda a modéstia”, Manuel Laranjo, 30 anos, que fundou com a mulher, Rita Bastos, um ano mais nova, este projeto batizado de Bou Market.
Market, de mercado, e Bou, de boutique, no sentido de pequena loja de venda ao público e que traduz a essência do conceito idealizado pelo jovem casal. Neste espaço comercial, não cabem as grandes marcas – já tiveram de recusar algumas – nem a produção em massa. Os protagonistas são os pequenos comerciantes e as suas criações de reduzida escala, várias personalizadas à medida dos clientes.
Há um ano, quando a VISÃO deu a conhecer este projeto, tinham aderido cerca de 370 comerciantes. Hoje, já são mais de 800. Em média, a cada dia que passa há mais do que uma loja nova a querer juntar-se. A fasquia das mil deve ser superada nos primeiros meses de 2023. Ao todo, estão disponíveis mais de 10 mil produtos. “Queremos ser audazes e pôr os pequeninos a competir com os grandes”, atira Manuel, fiel ao lema “Juntos somos mais fortes” como forma de impulsionar os negócios de menor dimensão.
Recentemente, por exemplo, a dupla fundadora contratualizou um serviço de entregas em 24 ou 48 horas, “por um preço favorável”, para facilitar o escoamento dos produtos e tentar uniformizar o custo dos portes de envio em toda a rede, com o intuito de gerar mais confiança nos clientes. “Percebemos que muitos largavam o carrinho de compras nesse momento do processo”, justifica Rita.
A união faz a força, também, em certas iniciativas de mercado que são adotadas por várias lojas, como a generalização dos cabazes de Natal ou das gift boxes, caixas de oferta que misturam produtos, “por vezes mais baratos”, para ocasiões especiais como aniversários. Do mesmo modo, a página inicial da plataforma passou a ser dedicada a temas sazonais, com o objetivo de criar “montras” de produtos com maior procura em determinadas épocas do ano, tal e qual como fazem as grandes cadeias de supermercados. Em janeiro, haverá, pela primeira vez no Bou Market, uma feira do bebé.
“Só uma loja pequena não vai conseguir diferenciar-se no meio do oceano que é o tráfego online e, por isso, não devemos navegar cada um no seu barco a remos, mas sim todos juntos num navio cruzeiro”, ilustra Manuel, sobre a importância de seguirem uma estratégia coletiva.
Produtos da avó
A plataforma está agora dividida em sete categorias de lojas/produtos: às originais criança, bijuteria e jóias, gifts, gourmet e moda juntaram-se, ao longo ao último ano, a de lar doce lar e a de bem-estar. Para o início de 2023 está prevista a chegada da oitava, dedicada aos animais, que vai coincidir com a introdução de uma nova plataforma informática “mais rápida e com mais filtros” (permitirá pesquisar por sabores ou aromas, por exemplo) para proporcionar uma melhor experiência de navegação a clientes e comerciantes. Isto porque, dentro do Bou Market, cada lojista tem o seu endereço de URL exclusivo, ou seja, um website da sua marca, como se fosse uma loja de um centro comercial feito de tijolo e cimento.
Para estarem presentes no mercado virtual, os comerciantes não pagam qualquer “renda” mensal. A contrapartida é fixada através de uma taxa de 17% sobre o valor de cada venda – em média, cada transação fica por €30, o que implica uma comissão a rondar os €5. Todos os pagamentos são feitos ao Bou Market, o que confere “maior segurança” aos consumidores, acreditam Rita e Manuel, uma vez que a empresa mãe garante o reembolso em caso de extravio ou devolução. No acerto de contas posterior com os comerciantes, é descontado o valor da taxa.
Os produtos das categorias criança e gifts são os que têm mais saída, mas a de gourmet “também está a crescer bem”, faz saber Rita. A variedade é a típica de uma grande superfície comercial, mas com o obrigatório selo de “marcas portuguesas com alma”. “São marcas especiais porque é quase como se os produtos fossem feitos com o espírito da avó que cria uma manta para a neta. Há uma pessoa por trás de cada marca que põe toda a sua alma e amor que tem no seu produto, muitos deles únicos e exclusivos, e mais de 80% artesanais”, explica a fundadora. À distância de alguns cliques, é questão de poucos minutos passar pelo talho biogourmet, espreitar a loja de presépios feitos à mão, saber mais sobre os biscoitos para cães preparados no forno ou encomendar bolas de Natal personalizadas, só para citar alguns exemplos.
As compras efetuadas por clientes a viver no estrangeiro, sobretudo pelas comunidades portuguesas de emigrantes mas não só – “Temos italianos a comprar sapatos no Bou Market” -, aguçam o apetite de Rita e Manuel pela internacionalização do projeto. Seria ao mesmo tempo uma oportunidade para abrir o caminho da exportação às marcas portuguesas com as quais já trabalham, mas também a de criar novos mercados com marcas dos diferentes países, Espanha à cabeça. Planos para se dedicarem mais a sério dentro de um ano.