Lançada esta segunda-feira, a “imagem infravermelha mais profunda e nítida do universo até hoje” tem causado furor entre a comunidade científica, revelando galáxias e astros muito além daquilo que somos capazes de ver. A imagem foi captada pelo mais recente telescópio da NASA, o Telescópio Espacial James Webb (JWST, na sigla inglesa), que tem ultrapassado expectativas na sua missão de fotografar o universo distante.
Posicionado a cerca de 1,5 milhões de quilómetros da Terra e lançado a 25 de dezembro de 2021, o telescópio Webb foi construído com o intuito de captar luz infravermelha, um tipo de luz invisível ao olhar humano e que é, geralmente, emitida pelos astros mais distantes. Assim, e contrariamente ao seu antecessor, o telescópio Hubble, o JWST foi desenhado para ir além do campo visível e explorar as realidades mais distantes do cosmos. As primeiras imagens partilhadas do Webb já são, de acordo com a comunidade científica, incrivelmente promissoras, mas tal só foi possível dada a tecnologia inovadora que integra o telescópio e que terá demorado quase duas décadas a desenvolver.
Uma vasta equipa de cientistas e técnicos foi necessária para tornar aquilo que, em 1989, não passava de uma proposta distante e um sonho de explorar mais além, mas que hoje se assume como uma realidade. Várias equipas trabalharam em colaboração com a NASA para tornar este projeto possível, fazendo desta uma iniciativa internacional que contou com a ajuda de diversas nações, incluindo Portugal.
Integrada no grupo ISQ, uma entidade privada internacional que oferece serviços de engenharia, inspeção, ensaios, testes e capacitação, uma equipa de engenheiros portugueses esteve entre aqueles que tornaram possível o lançamento do telescópio Webb para o espaço e a consequente publicação da imagem “mais profunda e nítida do universo”.
“O ISQ, através da sua presença na ESQS (Europe Spatial Qualité Sécurité) está envolvido na missão do Webb Space Telescope a acompanhar a segurança das operações, através da verificação – do ponto de vista da salvaguarda e proteção do meio ambiente – da conformidade do satélite (incluindo procedimentos operacionais) com os regulamentos, dos estudos de segurança e licenças de operação”, explica Pedro Matias, presidente dos escritórios ISQ em Portugal, em comunicado.
A equipa portuguesa provou ser crucial principalmente no momento de construção e teste do JWST, tendo a seu cargo tarefas como a verificação da conformidade dos testes elétricos e de radiofrequência (antenas), o abastecimento do tanque de combustível e as respetivas operações de pressurização, bem como a integração final no lançador.
Já em órbita em redor do Sol, espera-se que o Webb continue a captar imagens como aquela revelada segunda-feira pelo Presidente Joe Biden numa reunião na Casa Branca. O JWST será, se tudo correr bem, uma das chaves para conhecer melhor as origens do universo à medida que vai observando a formação das primeiras galáxias e acompanha os processos de formação das estrelas e dos planetas. As suas missões concentrar-se-ão em quatro áreas principais: a primeira luz no universo (luz das primeiras estrelas), a formação de galáxias no início do universo, o nascimento de estrelas e sistemas protoplanetários e planetas (incluindo as origens da vida).
O investimento na indústria aeroespacial parece ser cada vez maior em todo o mundo com vários países a voltarem-se para o espaço, não apenas no sentido de aprofundarem o seu conhecimento sobre o universo, mas também na procura por soluções a problemas que afetam a própria realidade terrestre. Portugal encontra-se entre as muitas nações que têm procurado afirmar-se nesta indústria, integrando, atualmente, vários projetos internacionais. “Portugal tem vindo cada vez mais a apostar na indústria aeroespacial e, felizmente, temos hoje várias empresas de relevo a trabalhar nesta área e que são reconhecidas a nível internacional”, afirma Pedro Matias.
Alguns portugueses têm, inclusive, assumido um papel de liderança em projetos internacionais que focam a exploração do universo. Em dezembro de 2021, por exemplo, a astrobióloga Zita Martins, co-directora do MIT Portugal, foi nomeada para o cargo de Community Scientist no projeto Ariel, uma missão promovida pela Agência Espacial Europeia que irá investigar as atmosferas de cerca de mil exoplanetas. Também este ano outros nomes portugueses se destacaram no estudo do universo: Vítor Cardoso, investigador do Centro de Astrofísica e Gravitação, ganhou uma bolsa da Comissão Europeia para desenvolver os seus estudos sobre buracos negros.
De acordo com o investigador, as fontes de financiamento para a Ciência, em Portugal ainda são “escassas”, como explicou numa entrevista à Exame Informática, mas a crescente procura e integração do País em projetos da área aeroespacial pode marcar um novo começo e ser um indicativo de mudança.