A imagem foi obtida a partir de uma rede de oito radiotelescópios espalhados pelo mundo, incluindo o ALMA, no Chile, com o qual Hugo Messias participou nas observações.
O trabalho envolveu mais de 300 cientistas no chamado consórcio Event Horizon Telescope, que em abril de 2019 revelou a primeira imagem alguma vez divulgada de um buraco negro, no caso o M87*, situado no centro de uma galáxia mais distante do que a Via Láctea, a Messier 87.
A imagem que hoje foi divulgada, tal como a de 2019, não é o buraco negro em si, uma vez que é invisível, com forças gravitacionais tão extremas que nada deixam escapar, nem mesmo a luz.
O que se vê é a sua sombra rodeada por uma estrutura anelar brilhante formada por gás, esclarece em comunicado o Observatório Europeu do Sul, que opera o radiotelescópio ALMA, assinalando que “esta nova imagem captura a luz que se curva sob a enorme força da gravidade do buraco negro”, que é cerca de quatro milhões de vezes mais maciço do que o Sol.
Os astrónomos já suspeitavam da presença de Sgr A*, que está a cerca de 27 mil anos-luz da Terra, pela existência de estrelas em órbita de algo invisível, compacto e muito maciço no centro da Via Láctea, que alberga o Sistema Solar.
A imagem foi obtida depois de os dados recolhidos das observações feitas em 2017 terem sido processados e analisados durante cinco anos com o auxílio de supercomputadores.
Apesar de os buracos negros Sgr A* e M87* serem muito parecidos, o do centro da Via Láctea é cerca de mil vezes mais pequeno e menos maciço do que o da galáxia Messier 87.
Em ambos os buracos negros, o gás circundante move-se à mesma velocidade, quase à velocidade da luz (e nada é mais rápido do que a velocidade da luz). No entanto, o gás leva entre dias e semanas a orbitar o M87* e apenas minutos a completar uma volta em torno de Sgr A*, tornando o brilho e o padrão do gás muito variável.
Apesar das diferenças verificadas, os dois buracos negros estão dentro das previsões feitas pelo físico Albert Einstein (1879-1955) na Teoria da Relatividade Geral, publicada em 1915.
Os resultados do trabalho que deu origem à imagem de Sgr A* são descritos em seis artigos hoje publicados na revista da especialidade The Astrophysical Journal Letters.
Segundo o Observatório Europeu do Sul, organização astronómica da qual Portugal faz parte, a equipa do Event Horizon Telescope começou a “utilizar os novos dados para testar teorias e modelos” de como é que o gás se comporta em torno de buracos negros supermaciços, um processo que os cientistas pensam que “desempenhe um papel crucial na formação e evolução das galáxias”.
ER // JMR