Resposta telegráfica à questão que dá o título a este artigo: depende. Depende se tem hábitos madrugadores ou notívagos, depende dos objetivos que o levam a exercitar o corpo, depende da capacidade para manter uma regularidade consistente em cada horário.
Nos últimos anos, a investigação sobre o tema tem aproximado a ciência de dados mais fundamentados. O interesse é natural: o exercício físico faz cada vez mais parte do dia a dia da condição humana, nem que seja pelos benefícios para a saúde que o juntaram às recomendações médicas – ainda que em Portugal a prática desportiva seja das menos efetivas da Europa.
A lista de vantagens conhecidas já vai longa, do fortalecimento de músculos, ossos e sistema imunitário à perda de massa gorda, dos benefícios cardiovasculares à melhoria da memória e à redução do stresse, de potenciar noites bem dormidas ao controlo da diabetes. Mas há ou não uma hora mais indicada para treinar? É verdade que de manhã o corpo está mais disposto a gastar energia? Ou ao fim do dia é que o organismo precisa de desanuviar depois de um dia de trabalho? Sabe-se cada vez mais, mas não há uma resposta universal nem pode ser dada em meia dúzia de palavras.
Um estudo recente em ratos de laboratório, com uma abrangência invulgar, concluiu que o esforço matinal tende a consumir mais gordura do que açúcar no sangue para gerar energia, enquanto no exercício noturno acontece precisamente o inverso. É um dado que importa confirmar em humanos, uma vez que, se assim for, será melhor, por exemplo, treinar de manhã para quem está interessado em perder peso e à noite para quem precisa de baixar os níveis de açúcar no sangue, como os diabéticos. De qualquer forma, estes indícios não são novos.
Os mais de 20 investigadores envolvidos no estudo divulgado na semana passada, de universidades, institutos e centros de pesquisa nos Estados Unidos da América, Alemanha, Dinamarca e Suécia, estão já a preparar uma réplica do mesmo em humanos. Ao contrário do habitual, eles focaram-se nos efeitos do treino no metabolismo dos roedores, a diferentes horas, recolhendo várias amostras de músculo, fígado, coração, cérebro, sangue e vários tipos de gordura, um espectro de análise bastante alargado em comparação com pesquisas anteriores. E o que viram foram grandes diferenças na resposta metabólica do organismo, consoante as horas a que ocorria o esforço.
Já em 2019, um estudo norte-americano em humanos tinha sugerido que o exercício de manhã levava a uma perda de peso “significativamente maior” do que o exercício ao fim do dia, assim como um outro em 2020, de investigadores neerlandeses, indicara que treinar à tarde trazia mais vantagens para doentes diabéticos do que fazê-lo pela manhã.
Ouvir o corpo
Não restam dúvidas de que as reações biológicas do corpo humano ao caminhar, nadar, andar de bicicleta, correr ou “saltitar” entre as máquinas dos ginásios são diferentes logo após o despertar ou no final do dia. Mas é igualmente verdade que há pessoas que funcionam melhor pela manhã e outras que têm mais energia à noite. É da sua natureza. Cada indivíduo tem o seu relógio interno – o chamado ritmo circadiano – e esse é outro fator muito importante para responder à pergunta que abre este texto.
Dizem os especialistas que não vale a pena forçar contra hábitos de vida enraizados, quando mexer o corpo implica sempre uma dose de fôlego e motivação. Se tem sono de manhã e fica na cama até ao último minuto, levantar-se mais cedo pode tornar-se um suplício e comprometer toda a produtividade e otimismo para o resto do dia, além da fadiga que se acumula a médio prazo. Por outro lado, se ao final da tarde já só está a pensar no jantar e em adormecer no sofá a ver televisão, uma saída para um esforço suplementar terá o mesmo efeito dissuasor (nesta página da internet pode testar se é mais do género madrugador ou notívago).
O melhor é respeitar o que o corpo diz. Sim, há estudos que mostram que o exercício matinal melhora a concentração e a capacidade de decisão ao longo do dia, além de libertar endorfinas capazes de animar o espírito. São essas mesmas endorfinas, porém, que no treino ao fim do dia, segundo outras pesquisas, têm o poder de atenuar o stresse acumulado, com a vantagem adicional de o organismo suportar melhor o esforço a essa hora e potenciar o rendimento de atletas.
Mais do que tudo, é uma questão de conveniência e preferência. Qualquer que seja a atividade física, não vai ter reflexos positivos ao fim de uma ou duas sessões. Nem de três ou quatro. Os benefícios para a saúde dependem muito da autodisciplina de cada um, uma vez que a prática consistente, seja de uma, duas ou mais vezes por semana, é essencial para beneficiar com o exercício. Daí que, apesar de a ciência começar a identificar vantagens distintas entre o treino matinal e o tardio, a grande máxima continue a ser: mexa-se, seja pela manhã, de tarde ou à noite.