Um novo estudo realizado por uma equipa de astrofísicos sugere que, ao contrário do que se pensou antes, Vénus pode nunca ter sido coberto por oceanos e que o mesmo podia ter acontecido com o nosso planeta, conclui o mesmo estudo.
Vénus e Terra têm caraterísticas muito diferentes, mas aproximam-se no que diz respeito ao tamanho (12 104 km para Vénus e 12 742 km para a Terra) e densidade (5,243 g/cm3 para Vénus 5,514 g/cm3 para a Terra) e podiam, em algum momento, ter tido destinos iguais. A verdade é que a Terra criou condições que levaram ao surgimento de vida no planeta, mas Vénus não.
A partir de modelos climáticos, que utilizam métodos quantitativos para simular interações entre a atmosfera, oceanos, superfícies continentais e gelo, a equipa de cientistas criou uma simulação do início de vida dos dois planetas do Sistema Solar, há mais de 4 mil milhões de anos, para tentar perceber como os dois se tornaram tão diferentes.
Os oceanos na Terra formaram-se quando as temperaturas estavam baixas o suficiente e a água condensou em forma de chuva, o que aconteceu durante milhões de anos. Mas em Vénus as temperaturas permaneceram muito elevadas, mesmo sendo o sol 25% mais fraco do que é hoje, ao contrário do que aconteceu com o nosso planeta, que foi arrefecendo.
Caso a Terra estivesse mais perto do Sol nessa altura, ou se o próprio Sol estivesse tão “forte” como é hoje em dia, o nosso planeta podia ter tido o mesmo destino e não ter conseguido criar o oceano global, possível apenas graças ao arrefecimento do planeta. Martin Turbet, principal autor do estudo e investigador do Departamento de Astronomia da Faculdade de Ciências da Universidade de Genebra, na Suíça, escreveu em comunicado que o jovem e fraco Sol daquela época foi, de facto, “um ingrediente chave para formar os primeiros oceanos da Terra”.
O papel das nuvens
Como se sabe, Vénus é o segundo planeta do sistema solar mais próximo do Sol, mas a equipa de investigação queria perceber se as nuvens podiam ter ajudado o planeta a arrefecer. Ao contrário do que se esperava, os investigadores perceberam que as nuvens comportaram-se de forma exatamente oposta, agrupando-se no lado noturno do planeta e não sendo capazes, portanto, de o proteger do Sol no lado diurno de Vénus.
Como a sua taxa de rotação é extremamente lenta, as nuvens criaram uma espécie de efeito de estufa e o calor ficou “preso” na atmosfera densa do planeta, mantendo-o quente, e impedindo que se criasse chuva.
Segundo a equipa de investigação, esta nova descoberta vem reverter a ideia anterior do Paradoxo do jovem Sol fraco, que descreve a contradição aparente entre observações de água líquida no início da história da Terra, e a predição astrofísica de que o brilho do Sol na época era muito inferior em relação ao presente, insuficiente para manter água no estado líquido em condições terrestres de agora. “Sempre foi considerado um grande obstáculo ao surgimento da vida na Terra. Mas acontece que para a jovem e muito quente Terra, esse Sol fraco pode ter sido de facto uma oportunidade inesperada”, referiu, em comunicado, Emeline Bolmont, co-autora do estudo.
Estas descobertas, publicadas na última quarta-feira na revista Nature, podem ser aplicadas no estudo de exoplanetas, dizem os investigadores. “Os nossos resultados têm fortes implicações para os exoplanetas, porque sugerem que uma grande fração dos exoplanetas que se pensava conseguirem ter oceanos de superfície de água líquida estão provavelmente agora dessecados porque nunca conseguiram condensar e, assim, formar os seus primeiros oceanos”, escreveu Turbet.