Mais de 100 locais de trabalho e de 2940 trabalhadores, o que corresponde a mais de 1% da população ativa da Islândia, participaram em dois testes, o primeiro realizado entre 2015 e 2019 e o segundo entre 2017 e 2021, que implicaram uma redução da carga horária até menos 5h e abrangeram várias áreas como escritórios, creches, serviços sociais e hospitais. Os resultados foram publicados no início deste mês, com os investigadores a considerarem-no um “sucesso esmagador”, tendo melhorado não só o bem-estar dos trabalhadores como também os níveis de produtividade.
A primeira experiência, realizada na cidade de Reiquejavique, capital da Islândia, teve início em março de 2015 e começou por envolver apenas dois serviços de ação social, escolhidos pelos níveis elevados de stress. Assim, 66 participantes viram as suas horas de trabalho reduzidas das 40 horas semanais, para 35 ou 36, continuando a receber o mesmo salário. Os bons resultados permitiram que a experiência fosse crescendo ao longo dos quatro anos seguintes, chegando a 2500 trabalhadores. Quando foi terminada, a 1 de setembro de 2019, os participantes voltaram à carga horária normal, mas uns meses depois foi possível estabelecer acordos para que ficassem definitivamente com as horas de trabalho reduzidas.
Em 2017, foi iniciado o segundo teste, também em Reiquejavique, que para além dos serviços de ação social, incluíu as forças policiais e um hospital, num total de 440 funcionários. Ambos os testes envolveram também trabalhadores aos quais não foram reduzidas as horas de trabalho, para que fosse possível ter um meio de comparação.
Para conseguir a redução horária, na esquadra da polícia, por exemplo, os guardas saíam de segunda-feira a quinta-feira uma hora mais cedo, para que na sexta-feira saíssem quatro horas antes. A experiência implicou uma reorganização do trabalho, com a priorização das tarefas mais importantes e uma melhor gestão da delegação das mesmas e a realização de reuniões mais pequenas e eficazes, sendo substituídas por e-mails quando possível e a redução das pausas para café.
Antes de iniciar a experiência, a maior preocupação era que a redução horária levasse à sobrecarga de trabalho, ou seja, que fosse realizado o mesmo trabalho mas em menos horas. No entanto, os resultados da a experiência, publicados pela organização britânica formada por grupos interdisciplinares, Autonomy, e pela Associação para Democracia Sustentável (Alda) da Islândia, mostraram o contrário.
“O bem-estar do trabalhador aumentou dramaticamente em uma série de indicadores, desde do stress ao esgotamento, até equilíbrio entre a saúde e a vida profissional”, pode ler-se no estudo. Para além dos benefícios para os trabalhadores, também os empregadores não ficaram prejudicados, o estudo mostrou que, na maioria dos casos, a produtividade aumentou ou permaneceu igual e foi ainda visto um aumento do espírito cooperativo dos funcionários.
“Eles [os trabalhadores] tinham mais energia no trabalho e gostavam dele um pouco mais. Parece muito otimista, mas é o que resulta destes testes, as pessoas sentem-se mais apegadas ao trabalho. De uma certa forma sentem-se recompensadas por terem mais tempo”, explicou Will Stronge, diretor da investigação da Autonomy, à CBC. “O que é mais notável, na minha perspetiva, e o que eu acho que é mais comovente, é a qualidade de tempo que as pessoas passaram a ter para as suas famílias, a maneira como podem reconectar-se”, acrescentou.
Após os testes, os sindicados dos trabalhadores conseguiram “a redução permanente das horas de trabalho para dezenas de milhares dos seus membros em todo o país”. Atualmente, cerca de 86% da população empregada “passaram a trabalhar menos horas ou ganharam o direito de encurtar as suas horas de trabalho”. Os investigadores esperam que esta redução horária permita que, no futuro, o país possa ter semanas de trabalho mais curtas. “A jornada da Islândia de ter semanas mais curtas de trabalho mostra-nos que, não só é possível trabalhar menos nos tempos modernos, mas também que a mudança progressiva é possível”, afirmou o investigador Gudmundur Haraldsson, da Alda, num comunicado de imprensa. “Este estudo mostra que o maior teste do mundo de uma semana de trabalho mais curta no setor público foi, em todos os aspetos, um sucesso esmagador. Mostra que o setor público está pronto para ser um pioneiro de semanas de trabalho mais curtas e podem ser tiradas lições por outros governos”, acrescentou Stronge.
A Islândia não é o único país a apostar nesta mudança. Também Espanha está a realizar um teste-piloto de redução das horas de trabalho para 32h. No Japão, a semana de quatro dias de trabalho está a ser aconselhada pelo governo, havendo já empresas, como a Microsoft a realizá-la e a ver melhoria significativas. A primeira- ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, também expressou o seu apoio a uma semana de quatro dias de trabalho. Já na Alemanha são os sindicados que a exigem e em Inglaterra existe uma campanha, da Platform London, que a pede devido às melhorias ambientais que dela iriam advir.