“Nunca colocaria a carreira à frente da luta pelo que acredito que é importante”, afirmou Fonda, num evento organizado pela Live Talks Los Angeles, moderado pela também atriz Eva Longoria, em que apelou à desobediência civil.
“Fui posta numa ‘lista cinzenta’ nos anos setenta, mas isso não me fez mudar o que eu estava a fazer por causa da guerra do Vietname”, afirmou a atriz, que visitou aquele país em 1972 e falou abertamente contra a intervenção militar norte-americana.
Agora, “precisamos de números sem precedente de americanos a irem para as ruas e agirem em desobediência civil”, afirmou.
No evento, Jane Fonda explicou que se mudou para a capital dos Estados Unidos, Washington, D.C., em setembro de 2019, por ter vontade de chamar a atenção para a crise das alterações climáticas, tema do seu novo livro.
“Eu sabia que a janela de oportunidade que tínhamos para fazer alguma coisa estava a fechar-se rapidamente”, afirmou.
Segundo contou, foi o livro de Naomi Klein “On Fire: The (Burning) Case for a Green New Deal” (“O Mundo em Chamas – Um plano B para o Planeta”, na edição portuguesa da Presença) e as intervenções públicas da adolescente sueca Greta Thunberg que a inspiraram a agir, instituindo ações de desobediência civil no capitólio norte-americano, onde acabou presa múltiplas vezes.
“O ato de pôr o nosso corpo alinhado com os nossos valores mais profundos dá-nos tanto poder”, disse a atriz. “É estranho, porque quando somos presos levamos algemas e perdemos o controlo”.
Estas experiências e a sua jornada como ativista pelo clima, que já dura há décadas, são contadas no novo livro “What Can I Do? My Path from Climate Despair to Action” (“O que posso fazer? O meu caminho do desespero climático à ação”), que saiu no dia 8 de setembro, publicado pela Penguin Press.
Nele, Jane Fonda explica os princípios do “Green New Deal”, um plano ambicioso proposto pelo Partido Democrata para combater as alterações climáticas e que é fortemente antagonizado pelos conservadores.
“A nova economia que nos será apresentada com o abandono dos combustíveis fósseis em direção a um futuro de energia sustentável oferece muito mais empregos, milhões”, afirmou a atriz.
“Há uma necessidade de transitar os trabalhadores dos combustíveis fósseis, e as pessoas que serão mais vulneráveis. Formá-los, pagar-lhes”, disse, frisando que não se pode pedir a esses trabalhadores que vão para os sectores ‘verdes’ a pagar-lhes metade do que ganham hoje.
A proposta inclui o incentivo ao regresso das quintas familiares na agricultura, disse, “porque a forma como estamos a cultivar alimentos neste momento contribui para a crise climática”.
Por causa da pandemia de covid-19, os protestos presenciais, que chegaram a atrair centenas de pessoas em desobediência civil e dispostas a serem presas, foram temporariamente substituídos por ativismo virtual.
Através do que chama “Fire Drill Fridays”, Fonda está a usar a sua plataforma ‘online’ para continuar o processo.
“Agora é muito mais fácil, com as redes sociais”, disse a atriz, lembrando os anos em que produzia panfletos à mão para as suas ações de protesto. “Quando descobri um computador e comecei a usá-lo, isso mudou a minha vida”.
Fonda, que disse ter deixado de ser amiga do ator Jon Voight porque este se encostou a ideias da extrema-direita, considerou que é possível incentivar as pessoas à mudança e isso faz-lhe manter a esperança.
“Precisamos de números sem precedente de americanos a irem para as ruas e agirem em desobediência civil”, afirmou.
“Estamos a enfrentar uma crise coletiva que exige uma solução coletiva”.
Fonda expressou a sua expectativa de que o candidato democrata Joe Biden vença as eleições e possa ser persuadido a tomar iniciativas de combate às alterações climáticas, incluindo a suspensão do “fracking”, um processo de extração de gás natural e petróleo de xisto, com efeitos negativos no solo.
“Quando o senhor Biden for eleito, temos de arregaçar as mangas e trabalhar”, disse, dirigindo-se a Eva Longoria. “É bom reduzir a pegada de carbono individual, mas precisamos mesmo de trabalhar de forma organizada para fazer o que é preciso acontecer”.
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