Os mais próximos recordam-lhe sobretudo o entusiasmo, um entusiasmo doentio, por vezes. Do relançamento do Comércio do Funchal à fundação do jornal Público, passando pela Revista do Expresso, Vicente Jorge Silva – que morreu, aos 74 anos, na madrugada desta terça-feira, 8 – sempre viveu intensamente os projetos em que se envolveu, defendendo ideias, esgrimindo argumentos, lutando por aquilo em que acreditava. Chegou a confessar que, nos meses que antecederam o lançamento do diário propriedade da Sonae, o seu “estado natural” era a enxaqueca. Na memória de muitos dos que com ele fundaram o Público em 1990, ficarão as suas súbitas explosões, provocadas por algo que menos lhe agradava. Tinha tanto de exigência como de frontalidade e, para a história do jornalismo português, ficará a “sua” Revista, que desafiou um pouco do cinzentismo então vigente na Imprensa nacional, e o modo como vingou o espírito do Público, conforme escreveu, um diário devedor dos “grandes princípios do jornalismo moderno adotado pelos jornais de referência em todo o mundo”.
Teve uma curta e frustrante experiência política como deputado do PS, durante o Governo de Durão Barroso e, mais importante do que isso, sempre quis fazer cinema. Terá sido por causa dessa sua paixão pelas imagens em movimento, muito influenciada pelo ambiente do atelier de fotografia da sua família, no Funchal, que deixou o mundo das redações, mantendo-se apenas como comentador e colunista (Diário Económico, Diário de Notícias, Sol e, mais recentemente, Público). Realizou algumas curtas e estreou-se na longa-metragem com Porto Santo (1997), com fotografia de Mário Barroso e interpretação de Leonor Silveira, Beatriz Batarda e Ana Zanatti. Inspirado em Raul Brandão, ainda fez o documentário As Ilhas Desconhecidas (2009). Da Madeira, nunca se afastou, e manteve o orgulho na sua condição insular, até ao fim.