Os resultados do trabalho, hoje publicados na revista da especialidade Journal of Clinical Investigation, foram divulgados em comunicado pela Fundação Champalimaud, que agrega o Centro Champalimaud, no qual o grupo de investigação liderado por Albino Oliveira-Maia desenvolveu o estudo, em colaboração com cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Segundo os investigadores, o trabalho permitirá testar tratamentos mais eficazes para a perturbação bipolar, que se manifesta, alternadamente, por estados de mania e depressão.
“Os nossos resultados podem vir a ser utilizados para orientar novos ensaios de estimulação cerebral para tratamento de mania”, sustentou, citado no comunicado, o primeiro autor do estudo, Gonçalo Cotovio, a fazer o doutoramento no laboratório de Albino Oliveira-Maia.
Apesar de terem identificado os circuitos no cérebro que são afetados pela mania causada por lesões decorrentes, por exemplo, de um traumatismo craniano ou de um Acidente Vascular Cerebral, os cientistas consideram que os resultados podem ser promissores para diagnosticar e tratar com mais eficácia a mania enquanto manifestação da doença bipolar.
“Embora ainda não saibamos se as mesmas redes cerebrais estão disfuncionais na mania primária [característica da perturbação bipolar], o estudo da mania lesional poderá ser uma abordagem útil para esclarecer a neuroanatomia da mania primária na perturbação bipolar, uma vez que poderá revelar o envolvimento de regiões e redes neuronais que não foram identificadas em estudos anteriores”, salientou o psiquiatra Albino Oliveira-Maia.
Os autores do estudo concluíram, a partir de uma técnica de neuroimagiologia que permite localizar as redes neuronais associadas a défices neurológicos, que “a maioria das lesões ocorre em locais de cérebro com ligações a um grupo específico de regiões do córtex cerebral que regulam o humor e as emoções”.
“Descobrimos que as localizações das lesões associadas à ocorrência de episódios de mania se caracterizam por uma forte conectividade com três áreas do córtex cerebral do lado direito: o córtex orbitofrontal, o córtex temporal inferior e o polo frontal”, descreveu Gonçalo Cotovio.
De acordo com o investigador, “este padrão específico de conectividade funcional mostrou ser semelhante em grupos independentes de doentes com mania lesional e distinto dos padrões observados em outras síndromes neuropsiquiátricas causadas por lesões cerebrais”.
Num estudo anterior, o grupo liderado pelo investigador Albino Oliveira-Maia já tinha confirmado que lesões cerebrais que levam à mania “situam-se habitualmente no hemisfério direito do cérebro”, cuja “disfunção tem sido associada a várias perturbações emocionais”.
Gonçalo Cotovio entende que a Estimulação Magnética Transcraniana Repetitiva, uma técnica não-invasiva e indolor que é usada no tratamento de casos de depressão resistentes à medicação, poderá ser útil e benéfica como terapêutica para a mania, quando incidindo em zonas do córtex pré-frontal direito, do córtex orbitofrontal direito e do córtex temporal inferior direito.
Nos tratamentos com este tipo de estimulação, “uma bobina eletromagnética é aplicada num local preciso da superfície da cabeça do doente para transmitir pulsos eletromagnéticos capazes de modificar a atividade neuronal no alvo cerebral”, explica o comunicado da Fundação Champalimaud, que utiliza a técnica desde 2017 no seu centro clínico.
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