Muito do plástico descartado acaba no mar?
Sim. Calcula-se que um quarto do plástico vá parar aos oceanos – oito milhões de toneladas por ano, para um total de quase 32 milhões de toneladas. Algum deste plástico entra na cadeia alimentar, e, em última instância, pode acabar no nosso prato. Mas os animais marinhos são, claro, a maior vítima. É muito difícil calcular o número de animais mortos anualmente devido a ingerirem ou ficarem presos em plástico, com diferentes associações a apontarem para cem mil e cem milhões.
O problema do plástico é provocado pelos consumidores?
Sim e não. Em rigor, toda a produção é imputável aos nossos hábitos de consumo – obviamente que sem consumo não haveria poluição. Mas há uma enorme parte que não depende diretamente de nós, enquanto indivíduos. Cerca de 60% da famosa “ilha de plástico” do Pacífico é constituída por material de pesca abandonado, pelo que faria sentido encontrar uma forma de responsabilizar diretamente os armadores e os pescadores (através, por exemplo, de um selo no material de pesca); entre 10% e 20% é plástico arrastado pelo maremoto de 2011 do Japão. Aliás, dois terços da “ilha” é material produzido no Japão ou na China. O que nos leva a outra questão…
A culpa é dos países mais desenvolvidos?
Não diretamente. Segundo um estudo feito para a organização não-governamental Ocean Conservancy, mais de metade do plástico nos oceanos vem de cinco países asiáticos: China (28% do total), Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietname. Além disso, 25% do plástico presente no mar tem origem em rios, e dez rios contribuem para a quase totalidade desse plástico: oito asiáticos e dois africanos. Mas não nos podemos esquecer que a maior parte dos produtos que o mundo ocidental compra são fabricados na Ásia, pelo que, em última instância, a nossa sede de consumo tem dedo na poluição feita do outro lado do mundo.
Apostar na reciclagem resolve o problema?
Não. É verdade que os níveis de reciclagem ainda são muito baixos. A média global está nuns irrisórios 9%, mesmo que a Europa se possa orgulhar de reciclar praticamente um terço do seu plástico (já os EUA ficam-se exatamente pelos 9%); Portugal ultrapassa os 40%). Outros 12% são incinerados, o que, apesar de evitar que o plástico vá parar ao mar, tem também um custo ambiental. No entanto, ao contrário de outros materiais, como o alumínio, o plástico não pode ser continuamente reciclado, degradando-se mais um pouco de cada vez que é reciclado, até deixar de o poder ser de todo. Como se isso não bastasse, a reciclagem de plástico é particularmente complexa e cara, devido à enorme variedade de densidades entre diferentes tipos de plástico. Nas palavras do biólogo evolucionista Matt Wilkins, num artigo da Scientific American, “reciclar plástico está para salvar a Terra como pregar um prego está para impedir um arranha-céus de cair”.
O que acontece ao plástico “inútil”?
Dos 8,3 mil milhões de toneladas de plástico que já terão sido produzidas (desde a década de 50, portanto), 6,3 mil milhões tornaram-se lixo. Uma das razões é que uma proporção significativa é plástico de uso único que nunca chega a ser reciclado, como garrafas e sacos. Desses resíduos, cerca de 80% vai parar a aterros ou lixeiras, o que muitas vezes é um pequeno passo para acabar no mar. O mais imoral da história é que o mundo ocidental, muitas vezes, exporta plástico reciclável para a China e outros países asiáticos, porque é mais barato do que reciclar. Calcula-se que 45% do lixo plástico tenha ido parar à China, nas últimas duas décadas. O que reforça o papel dos países desenvolvidos na poluição com origem na Ásia…
Cada um de nós pode fazer alguma coisa?
Sim, e é simples: usar menos plástico. A Greenpeace publicou um guia com sugestões para reduzirmos o consumo de plástico no dia a dia. Optar por reutilizar os objetos (como garrafas de água), evitar produtos embalados, deixar de usar talheres, pratos e copos descartáveis, ir ao supermercado com o nosso próprio saco de compras e, por fim, evitar palhinhas. Infelizmente, estes conselhos não são suficientes para resolver a situação. Dê-se o exemplo das palhinhas: estima-se que estas constituam apenas 0,025% do plástico nos oceanos. Deixar de usar palhinhas é (pouco) melhor que nada. Mal não faz – desde que não fiquemos de consciência tranquila, julgando que já fizemos a nossa parte só porque passámos a beber os cocktails diretamente pelo copo.